Ano passado fiz 47 primaveras e resolvi passar na cidade que considero a mais linda do mundo, Paris, na França.

Tive a oportunidade de ir diversas vezes, com amigos, com família, sozinha há 10 anos atrás.

A última foram 3 dias em julho desse ano, com mãe e sobrinho. Fiz tudo que eles queriam.

Dessa vez, eu fui sem nenhum roteiro, nem objetivo definido. Só eu e minhas vontades.

Se por um lado, eu tinha que economizar porque estadia e transporte era tudo pelo meu bolso, por outro, eu podia fazer exatamente o que me desse na telha.

Queria viver a vida de um local. Me hospedei num AIRBNB num bairro que não é tão turístico (perto da Gare de Lyon) e sem o conforto de um hotel. Sem companhia, fiz a maioria das refeições no minusculo apartamento que aluguei.

Meu AIRBNB em Paris deu certo medo no início: com ótima pontuação na plataforma e superhost (quando a proprietária tem ótimas notas e boas referências dos hospedados), eu achei que ia pegar um apartamento maneiro.

A localização era ok, não era em um bairro dos mais bonitos de Paris, mas não perigoso.

A entradinha era bem muquifo: como se fosse o escondido de um predinho comercial, com poeira e teia de aranha por todos os lados.

Quem já foi para Paris sabe que temos que relevar muita coisa em termos de limpeza dos lugares públicos e mesmo de hotéis. Já fiquei em hotel 4 estrelas cuja limpeza deixava a desejar para nosso padrões brasileiros.

A chave tinha que ter aquele jeitinho impossível para entrar.

O apartamento sim era arrumadinho, minúsculo, mas com tudo que precisava para minha estadia. Cozinha compacta, banheiro com ducha boa e box de vidro, um sofa e uma cama confortável.

Só que como ficava no terreo de um pátio e sem nenhuma privacidade, as janelas sempre ficavam fechadas, e o apartamento tinha um cheiro de mofo caracteristico de quem não toma luz do sol há um tempo.

Por outr lado, foi uma experiência de sonho ficar em AIRBNB.

A casinha para chamar de minha em Paris. Ir num supermercado como o Monoprix e comprar tudo que tinha direito e vontade de provar. Comprei mil queijos, alguns vegetais, umas ameixas e pessegos docinhos, frutas vermelhas.

Só que a gente aprende com a cultura local: desperdiçar comida é muito feio, principalmente em país que passou por guerra.

Acabei fazendo a maioria das refeições no meu apto, para dar conta de tudo que comprei.

Mas me esbaldei: comprei todos os queijos que tinha vontade de provar, tomei todas as cervejas belgas do mercado. Tudo regado ainda a vinhos bons de 5 euros do mercado.

Era bom acordar a hora que quisesse (mas tem um lado negativo que falarei adiante) e tomar o café na hora que desse vontade.

E para falar uma verdade entre nós, é mais gostoso e menos invasivo levar amigos e quiçã um bofe magia no apto do que num quarto de hotel, onde provavelmente ele teria que se cadastrar na recepção.

Mas existe o outro lado: eu estou bem acostumada a ficar em hotéis quando viajo.

Então por mais que estivesse em uma cidade segura, ficava aquele medinho de perder a chave ou ser roubada e não ter como entrar no apto, já que tudo estava em meu celular e não havia portaria 24 horas me esperando para me acudir numa emergência.

Também não tinha aquela limpeza diária, então eu tomava o dobro de cuidado com migalhas no chão.

Além disso, depois de um tempo, comecei a ver que estava meio que perdendo a experiencia de viver Paris: como tinha comprado muita coisa no supermercado e estava sós,

Tinha que comer as mesmas coisas todos os dias, me impedindo de ir em bistrôs e comer deliciosamente.

Também o fato de não ter um horário de café da manhã me fez tirar aquela disciplina forçada de acordar para o café da manhã, e no final da viagem deu aquele arrependimento de ter dormido muito mais além do horário.

Agora, sobre a experiência de um aniversário fora do país: é boa e ruim ao mesmo tempo. E recomendo que todos vivenciem.

Fiquei sozinha por quase 10 dias. As poucas interações eram com vendedores de lojas, pessoal de bares. Na grande maioria das vezes, fiquei sozinha.

Era otimo poder flanar pelas ruas e parar a hora que quisesse, nos lugares mais inesperados, totalmente de minha vontade.

Por outro, faltava aquela interação de viagem que é gostosa, de fazer comentários, de pedir opiniões, de estar junto com alguém quando algum perrengue acontece.

E confesso que alguns dias senti uma tristeza, uma solidão que me incomodou. 

Mas que foi resolvida em outros dias com muita diversão e mimo para mim mesma. De comer 3 refeições seguidas, de ir em 4 patisseries diferentes , de ir num lugar, dar bode e sair em 3 minutos.

E como me fez refletir essa viagem. Ela não vai acabar certamente no momento que eu voltar para o Brasil. Tenho reflexões e mudanças para fazer para 10 anos.

Não vou dizer que foi a experiência mais divertida de comemoração de niver da minha vida. Não foi que nem o Karaokê com amigos, já que passei meu niver com amiga querida, mas rodeada de pessoas que não conhecia. No final, passei a meia noite de meu niver bebendo minha meia garrafa de Veuve Clicquot no meu apartamentozinho, refletindo sobre minha vida até então. Não houve fotos histéricas e fabulosas para postar no feed.

Apenas um momento de muita reflexão, alguma tristeza (porque sim, meu pai querido faz niver no mesmo dia e este dia ele faria 86 anos se estivesse vivo) e alguma sabedoria para os próximos.

Mesmo assim, não trocaria por nada. Eu recomendo fortemente a todos que vivenciem alguns aniversários consigo mesmo. É um privilégio e ao mesmo tempo um exercício incrível de auto descoberta. Beijos no coração de vocês.