Olhe só, eu até mudei o tempo verbal da frase acima para não ficar tão pesado. Era para ser : “e se você morrer hoje?”

Mas pensando bem, e Deus nos livre, hoje pode ser nosso último dia, não é?

Se você como eu já passou dos 40, certamente já teve alguns momentos em sua vida que quase partiu dessa para melhor.

Essa semana mesmo: peguei uma virose terrível. Tava um calor dos infernos em São Paulo, 35 graus na sombra, comida muito natureba demais (que fermentou demais) e uma combinação de intoxicação alimentar natureba com insolação que me rendeu 2 dias de muita dor de cabeça e mal estar. Nesse ponto não sou como as mulheres e sim como meus amigos homens: dramática! Não consigo suportar qualquer dor. Acho que vou partir dessa para melhor por um simples mal estar ou dor de cabeça.

Mas na real já tive alguns momentos em que podia ser meu último dia mesmo.

Quer alguns momentos meus? E não foram poucos. Isso porque sou uma moça cuidadosa e bem medrosa comparado à maioria.

Já tive um assalto com 4 bandidos em casa a mão armada. Já levei uma coronhada de um ladrão (e achei que tinha sido atingida por uma bala). Já quase fui atropelada por um caminhão quando me desequilibrei no meio fio da calçada. Há 2 meses atrás tomei um tombo em plenas férias no box do banheiro e quase cai de cabeça no chão. Passei pela epidemia do Covid (todos nós poderíamos ter morrido naquela época). Fiquei presa na porta do metrô com metade do meu corpo para fora.

Isso fora os momentos que não me lembro ou não foram perceptíveis para mim.

E porque quero perguntar isso a você e a mim?

Se nossa vida acabasse hoje, eu estaria plena e satisfeita partindo para o próximo plano? Se é que ele existe?

O que teria me arrependido?

É um exercício forte e a principio doloroso, afinal ninguém quer pensar e cogitar a nossa própria morte. Mas se você pensar a fundo, verá que é um exercício libertador e que pode revolucionar a sua vida.

Pensei muito sobre esse tema, por causa de meu querido pai. Aos 84 anos, ele tinha o corpo pesado e cansado,  e as viagens que ele tanto gostou um dia de fazer já eram postergadas ou evitadas. Mas ele não queria partir. O câncer foi descoberto muito tardiamente, e a cura nunca veio, nos 4 meses devastadores que o levou. A rotina dele se resumia a assistir TV, sair aos finais de semana conosco,  e uma vez ou outra fazer algo diferente, como viajar para um hotel fazenda com a família. Mas ele adorava ler os jornais (principalmente os de papel) e assistia avidamente programas de viagens e se interessava por nossa vida e de meus jovens sobrinhos. Ele tinha curiosidade de como o mundo ia caminhar, e o que iriamos nos tornar.

Tem um livro que quero muito ler, que é a de uma médica ou enfermeira que escreve sobre os pacientes terminais que ela cuidou ao longo da carreira dela. E fala sobretudo sobre os arrependimentos que os pacientes têm quando sabem que tem pouco tempo de vida.

A maioria deles cita o que gostaria de ter feito a mais, nunca a menos.

É difícil achar alguns termos para descrever sem cair na pieguice ou em frases que já ouvimos milhões de vezes em figurinhas de whatsapp como “a vida é um sopro” “viva como se não houvesse o amanhã”.

Vou te dizer o que acho que tiro de toda a tragédia que passei em 2022 com a perda de meu pai.

Acho que nos merecemos dar momentos bons. Mais do que já temos.

Acho que posso ser mais sincera e menos política.

Acho que posso ser mais atirada e menos medrosa.

Acho que dessa vez vou ficar com minha mãe porque nunca se sabe o dia de amanhã né?

Alias , minha mãe é a pessoa que mais me ama nesse mundo. Junto do meu pai. Ninguém mais me ama mais do que eles a mim de maneira involuntária e sem exigir nada em troca.

Acho que posso me afastar de certas pessoas , não tenho dívida nenhuma a elas

Acho que posso ficar sem dar justificativas o tempo todo. É cansativo.

Acho que não preciso ser solícita ou atenciosa sempre com uma pessoa que vem puxar papo se eu já percebo que ela não tem nada a ver comigo, ou quer só beneficio próprio.

A gente costuma viver no piloto automático, porque como todos os seres humanos racionais, a gente se acomoda e se delimita pela rotina. Mas devemos nos lembrar constantemente que a vida não é tickar destinos, tarefas nem listas, e sim viver plenamente e desfrutar como um milagre a ser apreciado e não forçado.

Beijo no coração de vocês. Se permitam pensar sobre isso. E lembrem-se e me lembre sempre: a vida é um sopro. Vivam plenamente.