Hoje é dia dos pais e como sempre fiz nos últimos anos, um textão sobre 0,5% do que meu pai merece.

Eu tinha preparado há um mês atrás um texto pronto. Mas hoje de madrugada refiz tudo e escrevo aqui, fresquinho. Sem palavras bonitas ou inspiradas de algum instagram motivacional. Tosco mesmo. Mas 100% cru e do coração.

Eu tive um sonho com meu pai. Daqueles que parece que foi vivido de tão real.

Eu passei por uma cirurgia recente, e entre tantos remédios, noites mal dormidas, eu tô meio sensitiva. O medo da morte veio forte, embora não foi uma cirurgia complexa. Mas me ver presa a uma cama de hospital, como a que meu pai passou nos seus últimos meses de vida, aquela pilha de remédios e seus efeitos colaterais, a preocupação de nossos entes queridos, eu tive 4 dias de insônia e nos meus poucos momentos de sono, muitos pesadelos e idéias pessimistas.

E hoje de madrugada, dia dos pais, acabei de acordar de um cochilo pesado. E sonhei com ele.

Ele estava com o pai de minha cunhada. Os dois rindo, cada um com uma bebidinha em mãos (ah minha mãe já ia lascar um sermão danado nele). A expressão leve, solta, no rosto dos dois.

Ele perguntou de tudo de minha família. De mim, de minhas amizades, de meu trabalho, de meus estudos. Ele falou mal de minha mãe, mas aquela maldade carinhosa, só de quem teve mais de 50 anos de casados. Ele caiu na gargalhada com as histórias de nossa última viagem, com os mil sacos e sacolas de minha mãe enfiados numa saca gigante, sem rodinhas, para o meu sobrinho ter que carregar.

Não foi algo de idéias profundas, conselhos fortes. Meu pai, nos últimos anos, foi leve. Depois de tanto batalhar na vida e conquistar o que conquistou (e ele foi imperativo e rígido porque só os seres grandiosos são, queira a quem doer),  ele podia se dar ao direito de ser um eterno fanfarrão.

Do mesmo jeito que me aconselhava, nunca se acomodar, ele sempre me dizia no final meio que se corrigindo: a vida é sua e não minha. Faça a vida que você quiser, seja feliz.

Quem me conhece sabe que eu sempre adorei falar do meu pai. As tiradas dele eram impagáveis. Um sucesso. Ele gostava de ser o centro das atenções. Ele gostava de fazer o pessoal rir, e creio que sempre sente orgulho quando falamos dele.

Primeiro, eu agradeço ele. Porque a primeira coisa que perdi quando ele se foi, foi a certeza que não tinha mais nenhum homem (só minha mãe, em igual função) que batalhou e cuidou de mim aqui na Terra.  Mas esse sonho veio para me acalmar, me acolher num momento difícil. Então penso que ainda tenho ele , de alguma forma, comigo. Não preciso me preocupar.

Segundo, que se ele estiver sempre entre nós, estará vivo. E isso só depende de nós.

Então meu pai, te dedico esse dia dos pais, como espero fazer para todos os dias dos pais de minha vida até acabar. Vamos relembrar suas piadas, suas histórias, o que ele diria nesse momento. Vamos falar de seu trem no Montblanc, seu bife retornado de Londres, de seu amigo deixado na moto, de sua piada com minha mãe em Fernando de Noronha.

Depois de 2 anos sem ele, finalmente meu coração se acalmou. No lugar da raiva, da tristeza, só lagrimas de alegria e verdadeira, verdadeira, verdadeira gratidão.

Deus me deu o melhor pai do mundo aqui na terra por 45 anos e para toda a eternidade. Quem pode dizer o mesmo? Poucos afortunados. Que alegria, meu pai! Quantas alegrias você me deu! Como eu me sinto orgulhosa quando me dizem que sou sua cópia feminina!

Hoje eu vou beber e pedir um chorinho de dar vergonha para a mamis, vou falar suas falas espirituosas, vou fofocar com a batian.

Para meus amigos que ainda tem seu papis vivo, tenham um belo dia por mim. Comemorem, comam a melhor comida, brindem, façam esse dia ter 72 horas. Ou uma eternidade.  Amem seus pais.

Pai, te amo! Te amo para sempre!