
Eu tenho um encanto por Nova York que vem de longa data. Particularmente, não sou muito fã dos Estados Unidos, mas desde que pisei em Nova York em 1987, tenho algo com essa cidade. Como se já tivesse morado lá em outra vida.
Eu sempre gostei da fumacinha que saía dos bueiros da cidade, dos prédios todos, de ter uma farmácia 24 horas em cada esquina.
Eu tinha menos de 10 anos quando fui pra lá pela primeira vez. Era uma cidade considerada perigosa. Pegar metrô, nem pensar. Ir para Brooklin, Harlem, Lower East Side, sair à noite, era pedir para ser assaltado. Olha só, parece com São Paulo hoje.
Tudo que me recordo daquela vez era do medo que as companhias de viagem (Soletur, Dimensão Turismo) colocavam na gente de sair sozinhos à noite. Dos prédios altos. Da fumacinha. Das Delis, onde pela primeira vez comi uma salada deliciosa. E daquelas grades na calçada que passavam o ar do metrô. Eu sempre tive em mente a cena da Marilyn Monroe, com seu vestido branco e esvoaçante. Queria fazer a mesma coisa.
Desde então, tive a oportunidade de voltar a Nova York em diversas etapas da minha vida. Quando fiz 18 anos e fui viajar com minha amiga. Em 2004, quando fui viajar sozinha pela primeira vez e descobri que sim, consigo me virar no exterior. Em 2016, 2017, em 2018, 2019 com minha família. Em 2019, coincidentemente minha última ida pra lá antes da pandemia, peguei um pouco de ranço da cidade, talvez porque não fui muito bem tratada (atendimento gentil e cordial não é o forte da cidade), e isso acontece quando você vai muitas vezes para o mesmo lugar.
Voltei agora em pleno julho de 2024, para uma viagem de 7 dias, com direito a cruzeiro (que falarei em outro Post) e com minha mãe e meu sobrinho a tiracolo.
Como foi uma viagem de reconhecimento para a primeira vez de meu sobrinho em Nova York, e minha mãe que ia fazer 81 anos , abdiquei de possíveis baladas e encontrinhos na cidade. Afinal, a duras penas, aprendi que a família, sempre em primeiro lugar.
Primeira coisa que notei na cidade pós pandemia : está mal cuidada. Nova York nunca foi uma cidade exemplo de limpeza, mas agora até mesmo nos quarteirões mais chiques a cidade fede a lixo, cocô e maconha. Com a legalização parcial da droga, várias vendinhas se proliferaram na cidade, e os usuários também.
Outra coisa que todo mundo que vai para Nova York observa, é que tem bastante louco lá. Pessoal que fala sozinho, divagando, seja por problemas mentais ou de droga mesmo. Só que agora realmente a coisa tá mais forte. Todo dia vinha um louco falar comigo no metrô, na rua, no Dunkin Donuts. Eles não me fizeram nada de mal. Mas que dá um medinho dá.
Por incrível que pareça, a cidade não estava tão lotada. Em pleno julho e férias mundiais, talvez porque o povo endinheirado foi para Paris ver as Olimpíadas, Nova York já não apresentava as filas gigantes para todas as atrações. Aliás, não peguei fila em quase nenhum lugar. Talvez por isso o pessoal dessa vez foi mais atencioso, diria que a maioria dos atendimentos foi até cortez e simpática! Em 2019, a história foi diferente. Vi minha mãe ser maltradada nos estabelecimentos mais de uma vez, só porque ela não falava fluentemente o inglês.
Os efeitos da pandemia continuam visíveis. Por um lado bom, muitos restaurantes fizeram o famoso puxadinho , estendendo suas mesas até a calçada, o que deu uma vibe bem parisiense à cidade. Por outro, muitos estabelecimentos fechados. Para nós, que íamos a NY atrás de compras baratinhas de maquiagem e cacarecos na Jack´s World (um paraíso de quinquilharias em plena Midtown), na Harmon Face Values (que era do lado do Flatiron) e da Kiko Cosmetics, demos com os burros na água . Fecharam todas. O que não achei bom para a cidade. Que agora está dividida entre o extremo popular e o alto luxo. Este aliás, que foi uma das minhas experiências esquecíveis na cidade.
A cidade está muito cara. Muito mesmo. Imaginem a situação em 2019: dólar a 4 reais. E agora em 2024: além do dólar estar batendo quase os 6 reais, ainda teve uma inflação brutal em absolutamente tudo lá. Até as farmácias 24 horas e supermercados que eram nossos Oásis na hora de adquirir novidades e coisinhas, tiveram que ser contidas. Continua sendo uma diversão olhar as gôndolas da CVS, da Duane Reade e do Target, mas a verdade é que agora a gente não enche o carrinho.
Hospedagem então, melhor nem comentar: além de não ter opções de Airbnb em Manhattan, não existe diária de hotel por menos de 1200 reais, a não ser que você aceite ficar em hostel e banheiro compartilhado.
Para economizar em tempo e dinheiro, fizemos a maioria de nossas refeições em Fast Foods (dignos, como o Chick Fil A, Five Guys, Shake Shack) e comemos bastante em uma Deli (típico mercado em Nova York que vende desde groceries até refeições). O que diga-se de passagem, não era barato. Para se ter uma idéia, almoçar no Five Guys custava a bagatela de 120 reais por pessoa, com um combo simples!
Quando resolvemos abrir a mãozinha, sabíamos que o preju seria grande. E honestamente , entre 3 experiências, apenas uma foi realmente boa e valeu o preço. Fomos no Balthazar, um bistrô francês bem celebrado no Soho, e este sim valeu quanto pagamos. Atendimento simpaticíssimo de uma colombiana, comida farta e mara.
Já as outras… Fomos num japonês no Hudson Yards, e achamos a comida razoável apenas. Porções minúsculas e 400 reais por pessoa. Fomos no café da Tiffany´s na Quinta Avenida. Ambos aconteceu o mesmo: fomos grosseiramente mal atendimentos primeiramente, e depois que realmente pedimos pratos (e não um café para ficar 3 horas tirando foto) o atendimento mudou para mais gentil. Eu já fui proprietária de estabelecimentos, e sei que deve encher o saco receber pessoal que paga uma água e fica 4 horas usando o local e fazendo conteúdo, mas que é muito na cara na hora que eles nos atendem, é demais. Uma dica: economizem seu suado dinheirinho e vão em estabelecimentos que não olham torto para todo tipo de cliente.
Não achei que a infraestrutura melhorou ao turista. Pelo contrário. O uber é absurdamente caro por lá, muitas vezes compensando pegar o famoso táxi ou transfer privado para áreas mais longes. O shuttle compartilhado que ia do aeroporto a Manhattan foi desativado do aeroporto JF Kennedy, e agora para o viajante solo só resta mesmo o Air Tran e carregar suas malas pesadas pelas estações de metrô que não tem nem ar condicionado nem escada rolante.
Falei mal da cidade em vários aspectos (preço caro, usuário de drogas, sujeira geral), mas tiro o chapéu para uma coisa e a mais importante: segurança. Andávamos o dia inteiro, mesmo de noite por todos os bairros da cidade. Ninguém dos hotéis ou dos transportes nos disse para tomar cuidado, muito pelo contrário. Eles bradavam a segurança conquistada há muitos anos na cidade. Mesmo com a quantidade absurda de pessoas moradoras de rua, drogados, loucos, a cidade é sim segura. E isso faz a completa diferença. De que adianta morar do lado da Faria lIma, de um edifício ícone dos Zs, com suas baleias de metal, e ter que esconder o celular na barriga para não ser assaltado em plena luz do dia?
Só por isso, Nova York continua no meu coração. Pois a cidade, com segurança, ela vive, ela pulsa. Fecharam minhas lojinhas baratas preferidas, mas abriram várias mercearias de produtos orientais, com muito mais variedade que na Liberdade. E muitas lojinhas de coisas criativas, diferentes, que faz a delícia do window shopping para nós.
Ainda tem entretenimento gratuito , como a Balsa que leva até a Staten Island e passa perto da Estatua da Liberdade. O Central Park com seus esquilinhos. Os bairros mais charmosos, que apesar da invasão de influencers fazendo fila para tirar foto na casa de Carrie Bradshaw, continuam intactos. Fiquei um dia inteiro em East e GreenWich village, e foi como em 2004. Comi um banana pudding no Magnolia, fui na Bookmarc do Marc Jacobs, perambulei na C O Bigelow, uma farmácia centenária.
E tem coisa nova e moderna, como o Hudson Yards que está belíssimo, o Mercer Labs, o One Summit Vanderbuilt observatory. Tem também o Little Island Park , com um rooftop anexo do mesmo grupo do Chelsea Market.
E tem uma coisa muito boa para nós brasileiros: o americano finalmente aprendeu que não precisa colocar o ar condicionado dos lugares fechados no Polo Norte. Dessa vez, ninguém ficou gripado lá. Sim, porque o calor nos primeiros dias tava difícil de aturar, com seus 40 graus (e atente que nas estaçoes de metro, não tem ar condicionado!). Mas a cidade sempre tem a sombra de seus enormes edifícios (e que atrapalham a geolocalização do google maps tbém)
Mas tem uma coisa maravilhosa de Nova York: depois de alguns dias na cidade, você não precisa de Google Maps. Como a cidade é plana, ela é cortada por 12 avenidas e 180 ruas (e honestamente você vai usar das 10 às 100 ruas apenas. Então, a localização para andar é muito fácil. A melhor dica que eu posso dar: pegue o endereço de onde você quer ir (a loja descolada, aquela pastisseria que inventou o cronut, a casa da Carrie) e sem google maps, vá até a Avenida e a Rua onde se cruzam. Até lá, você já descobriu muito mais coisa bacana e legal que o próprio destino.
Eu tenho amigas que torcem o nariz para os EUA, e não tiro a razão delas. Mas Nova York é diferente de todas as outras cidades americanas, e vale a pena ver ao vivo pelo menos uma vez na vida. Para as mulheres que viajam sozinhas, é um prato cheio: gente bonita, badalação, facilidade de se locomover, muitas atrações.