Esses dias, fazendo meu café matinal, do nada me lembrei de algo que foi muito importante para mim.  Foi em uma viagem para a Bahia, o estado brasileiro mais ensolarado e amado, em 2021, quando a pandemia estava dando seus primeiros sinais de término. Fui para Itacaré, Boipeba e Morro de São Paulo.

Em Itacaré, fiz amizade na pousada que estava hospedada com 2 casais, que me adotaram e me levaram para todos os melhores lugares, já que eram assíduos de lá de longa data.

Geralmente faço amizades de viagens com mulheres solteiras como eu, mas foi uma delicinha os casais. Muito acolhedores, me protegendo, afinal eles tinham uns bons 10 anos a mais que eu,  e me admirando por viajar sozinha. Conversas leves e inteligentes  e muitas cervejinhas e porções compartilhadas.

Em nossa última noite, paramos para comer um waffle belga (sim, em Itacaré). Começamos a conversar sobre família, e a Lais, uma das mulheres do casal, revelou que sentia um enorme arrependimento de não ter dado um cigarro para seu pai que estava em tratamento médico. A situação dele era delicada, mas não terminal. Depois de algumas semanas, a situação piorou inexplicavelmente e ele faleceu. Ela disse que tudo que gostaria de fazer era dar uns bons cigarros para seu paizinho.

Errada ela não estava, muito pelo contrário. Seu pai não estava em estado terminal, mas tinha aquela zica de vício do fumante eterno. Tinham esperança dele sair do hospital.

Em 2021, eu tinha a cuca fresca, e poucos traumas na vida. Eu estava feliz, sobrevivente de uma pandemia, com pais e irmãos vivos e saudáveis, com disposição e grana para viajar.

Mal sabia eu que em 2022 ia viver o mesmo pesadelo real de Lais, com meu pai internado , muitas dúvidas sobre a saúde dele, e médicos gananciosos que escondiam a verdade para faturar mais em cima de tratamentos agressivos e cirurgias inúteis.

Em dados momentos, só o que aliviava meu paizinho era um bom sorvete, que não era o indicado para um paciente com um câncer muito agressivo. Me lembrei da história da Lais nessas horas. Com a conivência do médico e das enfermeiras que me autorizavam, ia na sorveteria do hospital e trazia um pote inteiro para ele.  Era um dos poucos momentos que ele sorria como antes, com seu ar brincalhão.

Talvez se eu não tivesse viajado para Itacaré (que olha, nem foi um destino tão apaixonante para mim), se eu não tivesse conhecido os casais e escutado a história de Lais, talvez eu não tivesse cedido aos pedidos de meu papai e não teria dado os desejados sorvetes para ele. Talvez porque tinha esperança dele sair do hospital, que o câncer era tratável, que teria uns bons 12 anos a mais com ele e que era necessário sacrifício total em nome da sobrevivência dele. 

Em 4 meses, ele se foi, um câncer muito agressivo, que segundo os médicos, tomou proporções inimagináveis.

Quando ele estava em período de tratamento, e pequena recuperação em casa, eu peguei 5 dias e fui para Boipeba, uma ilha afastada a 6 horas de Salvador, meu destino de conforto. Lá, eu fiz amizade com 2 meninas. Que pasmem, ambas muito jovens (menos de 30 anos) e que tinham perdido seus pais para o câncer há anos. Quais são as chances de encontrar ao acaso pessoas como estas numa ilha deserta, com 500 habitantes e uns 60 turistas no máximo?

Eu ainda tinha esperança do meu pai sair vivo. Ele estava melhorando, respondendo a quimio, embora muito debilitado.

Eu recebi o melhor conselho de uma menina de 27 anos, quase metade de minha idade.

“tudo vai dar certo. Do jeito que tem que ser. A jornada é dele, e não sua, lembre-se disso. Diga todo seu amor por ele”.  Só isso. Sem promessas de cura certa, sem firulas. Só de quem já passou por isso.

Foi o melhor conselho da minha vida. Depois disso, eu tive apenas mais 4 semanas com ele presente aqui na Terra conosco. Mudei minha atitude. Não briguei mais com ninguém. O Tempo era eterno com ele, com muitas conversas, carinho e paz.

Nunca terá outra viagem tão perfeita como essa, porque ela me mostrou o caminho certo, em momentos decisivos.

Para falar de coisas mais alegres, e tem viagem que é para levantar nossa auto estima de vez. Eu estava me sentindo bem caída depois da morte de meu papai. Não me arrumava, ganhei alguns quilos. A gente se entrega.

Também, com os últimos destinos que estive (resort no Brasil, navios com mamãe, excursões de senhorinhas), me parecia meio desesperador me vestir e me maquiar de piriguete, sem ter para onde olhar com alvos.

Esta última viagem que fiz para meu aniversário, me reativou a chama! Mocinhos para todos os lados, mocinhos facinhos, mocinhos lindos. Mocinhos que me olhavam, que me puxavam para conversar.

Parece uma tolice de adolescente, mas como eu revivi nessa viagem! De ter gosto de me maquiar, de entrar finalmente em vestidos tamanho P, de fazer escova no cabelo para de noite ter muita azaração e paquera.

Depois de tantas ações edificantes, eu estava finalmente preparada para muita festa , leveza e atitude de boa. Como é bom viajar.

Meus amigos do blog, viajem. Viajem sempre. A felicidade está sempre lá.