
Meu cliente da consultoria outro dia me disse que comprou uma passagem por 2100 reais daqui a Nova York e Boston, com datas para o outono. No mesmo dia, pesquisei e comprei a minha. Só que com destino a Nova York e Las Vegas.
Eu já tinha ido para Nova York em julho desse ano e Las Vegas em outubro de 2022. Ambas viagens foram maravilhosas mas de um jeito diferente.
Em julho, eu estava com meu sobrinho e minha mãe e fiz programas bem familiares e bem turísticos, como a Balsa de Staten Island para ver a Estátua da Liberdade, Wall Street, Bairros, Museus. E um calor do cão.
Em Las Vegas eu estava com meu outro sobrinho, e fizemos programas mais familiares também.
Dessa vez eu iria sozinha. Sem programação. Sem pontos turísticos a tickar. Sem mala despachada também, o que talvez seria um desafio para uma viagem de frio esperado.
Foi libertador.
Passei 3 dias em Nova York, zero museu, zero ponto turístico, zero necessidade de comprar coisas (afinal a mala de bordo já estava estourando com as roupas tudo).
Apenas assinalei alguns pontos que queria revisitar e no caminho, me perdi e descobri outras coisas muito mais interessantes e que me marcaram.
Vamos lá? Me acompanhem nesse relato corriqueiro, sem grandes emoções (não fui roubada, não tive nenhum perrengue, não me apaixonei). Apenas uma viagem gostosa e para me reconectar.
Saí numa quarta feira de São Paulo. Decidi que ia fazer uma viagem low budget, afinal como estava viajando sozinha, tudo saía do meu bolso, nada era repartido. Peguei o trem até o aeroporto. Usei a sala vip. Cheguei em Nova York no aeroporto de Newark as 5 da matina, e como já tinha pesquisado antes, ou pegava um uber a 100 dolares a corrida, ou o AIRTrain (que era a opção mais barata, 13 dolares mas tinha que fazer conexão em alguma estação), ou o bus express, que era um busão executivo, confortável, vazio, que sai do aeroporto de Newark (pesquisei antes na internet né mores) e vai direto para 3 pontos na rua 42: a Grand Terminal, o Port Authority e o Bryant Park. Este último, ficava a apenas 4 quadras do meu hotel. Com mala de bordo apenas e uma mochila meio pesadinha, foi tranquilo chegar.
Meus únicos luxos na viagem: um quarto de hotel (o Embassy Suites Times Square que na verdade fica em Midtown, e recomendo: não é de graça como qualquer hotel razoável em Manhattan, mas também é dos mais baratos , e tem café da manhã e um atendimento muito simpático e eficiente, que inclusive me deu um presentão: um early check-in as 08 da manhã, uma raridade, pois a entrada em tese é só às 15 hs. Eles ainda tem um café da manhã muito digno incluso (com omeletes feitas na hora) , água na recepção e happy hour com 2 drinks cortesia.
Outro luxo que acabei comprando de última hora e não me arrependo foi o chip de internet (comprei com desconto na TripChip pela Nomad). Andei muito em Nova York e foi fundamental para me localizar. Dá para se virar sem chip? Até dá. Nova York tem wifi em muitos lugares públicos, mas como eu fiz questão de ir a pé para todos os lugares, o mapa off-line não funciona bem para quem pega transporte público e anda a pé. Fora que sozinha, ficar conectada dá uma sensação de segurança e aconchego com as mensagens de seus amigos.
Agora um adendo da senhorinha que está crescendo em mim: não deixei simplesmente as malas no hotel e já fui pernar por ai. Desfiz minha mala, tirei as roupas que iria usar, coloquei nos cabides tudo, enfilerei meus sapatos, distribui meus produtos de higiene e make pelo banheiro (ai que delicia ter todo o espaço para mim! É caro viajar sozinha mas é maravilhoso ter o espaço só para você). Dei uma descansadinha de 20 min (com o cuidado e medo de não dormir, afinal imagina dar aquela cochilada e acordar 6 da tarde pagando o dólar a 6 reais?).
Fiz meu look, arrumei minha bolsinha, e saí em busca de um café da manhã gostoso. Achei um donut e um café mara, e ainda fui na loja de bagels que queria ir da última vez. Comi um bagel com salmão curado e cream cheese delicioso, que derretia na boca.
Fiquei uns bons 10 min só olhando o povo caminhar, ir para o trabalho, turistas claramente discutindo, uma delícia.
Decidi que o meu destino no dia ia ser a região do Chelsea. Há 10 anos atrás, era um bairro muito residencial e com zonas até perigosas. Com o investimento de várias empresas de tecnologia como o Google, a região se gourmetizou e enriqueceu, mas ainda preserva aspectos mais antigos de um nova iorquino. As antigas delis (pra gente padaria, para eles misto de loja de conveniência e comidinhas a qualquer hora. Algumas parecem bem muquifos e sujinhas, mas escondem comidinhas bem feitas e frescas). Uns prédios de habitação popular, uns parques com muitos esquilos. E de repente, você chega no Chelsea Market, ponto turístico, cheio de feirinhas hispters (e caras) e coisas de comidas inflacionadas idem. Mas é uma delicia. De lá fui para o Pier 57, outra investida dos mesmos donos do Chelsea Market. Tem um rooftop que dá para subir e ver uma vista linda da cidade. Os preços achei inflacionados para pouca comida e nada muito encantandor: o que estava fazendo mais sucesso era uma porção de guioza montada embaixo de um copo de chá oriental , e todos os xóvens tirando foto e postando nas redes sociais. Xóvens.
De lá fui para o parque novo Iittle Island, que parece um monte de tulipas fincadas no Rio Hudson, e é muito agradável, com jardins lindos e lugares para sentar.
Alias, estava fazendo um sol de rachar em pleno novembro, o que não vou reclamar, pois foi uma raridade em Nova York. 26 graus e meu figurino todo errado, pronta para encarar um frio que nem veio.
Decidi que ia voltar a pé para Midtown, onde estava meu hotel, o que dava quase uma hora de caminhada. No caminho, tanta coisa boa: um shopping bacana e lindo que tem Uniqlo e banheiros para o pipi, o Little Spain – um mercado de comidinhas espanholas autêntico, com preços inflacionados (em Nova York realmente você encontra tudo do mundo: inflacionado mas tem!) Comi a porção típica de churros fininhos dele chuchados no chocolate quente por 10 dolares e queijo manchego por 5 (mas pedaços minúsculos).
Passando por Midtown, ainda vi todas as lojinhas, restaurantes, ruazinhas que em julho não pude ir.
Tomei um banho, me arrumei, e fui para um evento de uma comunidade que faço parte, de expatriados, e eles tem o grupo deles em Nova York. O local era mara: Somewhere elsewhere. Um bar no hotel Renaissance maravilhoso, todo decorado, com uma vista incrível para o Empire State e com música jazz ao vivo.
Daí vem uma das mágicas de viajar sozinha: o evento em si foi mara? Não. Por desorganização do pessoal, acabei não encontrando com eles. Fiquei bolada de ficar sozinha lá,fiquei uma hora, apenas para tirar fotos e conhecer o local, e fui andando para o hotel. No caminho encontrei uma mercearia japonesa maravilhosa, comprei sanduiche de lagosta e camarão , e um bolinho com Unagui (enguia defumada, que é absurdo de caro no Brasil). Uma passadinha só para lembra que estou em Nova York na emblemática Times Square. Voltei feliz para o hotel e fiz meu banquete no meu quarto). Dormi feliz e com meu próprio ronco, não me incomodo.
No dia seguinte, fiz um café da manhã de princesa (Fiona, do Shrek), usei o banheiro só para mim, enrolei, saí do hotel só as 11 hs (um absurdo se estivesse com minha mãe ou amigas), e decidi que iria no Central Park. Fiquei horas admirando os esquilinhos que estavam bem mais gordinhos que em julho (talvez se preparando para o inverno) e andei muito, admirando o povo que tava passeando por lá. Flertei, troquei olhares com moços bonitos, descobri uma área restrita do parque com muitas árvores nativas e esquilos agressivos mas fofos, descobri uma lojinha que tem no parque, descobri restaurantes e cafés charmosos e superfaturados, descobri o lugar que minha família queria visitar em julho mas não tinha saco para andar: a Bethesda fountain e sua escadaria, cenário de tantos filmes. Tava tocando uma música linda de um violinista talentoso, e infelizmente presenciei a briga de um casal lindo de brasileiros. O que me fez lembrar que uma companhia, seja de amor ou amizade, pode potencializar ou azedar de vez sua viagem, seja ela a melhor que for. Enfim, coisas da vida. No caso, acabou sendo um lembrete que para mim, viajar sozinha é uma dádiva se você aprender a lidar com você mesma.
Voltei para o hotel, e dessa vez arreguei: peguei o metrô, lotado. A tempo de pegar o happy hour do hotel que ia até as 18 hs. Dei uma passada no Soho, vi lojinhas finas e descoladas, voltei. Achei que ia ficar direto no hotel. Tomei um banho demorado, coloquei meus pes para cima, assisti uns vídeos no YouTube , falei com minha mãe.
Deu 20 min e me deu uma coceirinha. Pô, tô em Nova York. Apenas 3 dias. Me arrumei, e peguei dica de um pub perto da Times Square. Meio caído. Mas a música era boa, a cerveja também, e saí de lá quase uma hora da manhã. Apenas 10 min do meu hotel. No caminho fiquei horas numa loja de quinquilharia (o efeito da cerveja anima tudo) , comi uma pizza de 2 dólares que estava uma delícia) e voltei feliz para o hotel.
Alías um adendo aqui: café da manhã de hotel é um luxo e uma praticidade só, e ainda tem o efeito de te disciplinar para aproveitar melhor o dia. Te faz acordar certinho no horário para não perder a boquinha, ainda mais porque no outono, Nova York começa a anoitecer antes das 5 da tarde.
Daí decidi que o meu destino do meu último dia seria o Lower East Side. Porquê? Não sei. Apenas deu vontade de rever esse bairro que em décadas passadas era apenas residencial, com muitos focos de violência e gangues. Coloquei um destino qualquer no Google Maps, no caso a Katz Delicatessem e fui. 40 minutos a pé. Levou quase 2 horas. No caminho, muitas paradas bacanas, como a Fish Eddys´, uma loja de pratos (sim, mas divertida), muitos predinhos bacanas onde me imaginei morando neles um dia, algumas conversas com meu pai. Cheguei na Katz. Uma fila de dobrar o quarteirão. Desisti. Afinal, já tinha provado o famoso sandubão deles de pastrami e não achei nada demais. Queria mesmo era provar aquela sopa esquisita deles, o Matzo Ball, mas fica para uma próxima vez.
Dobrando a esquina, descobri que o Lower East Side virou nossa Vila Madalena. Cheia de lojinhas hipsters (e caras), cheias de cafés e restaurantes descolados, uma delícia. Entrei num restaurante japonês típico Izakaya (boteco chique) e comi um oniguiri de atum e um matcha digníssimo!
Voltei pelos Villages Tudo, East Village, Greenwich Village, e percorri todas as ruas! Com gostinho que quero mais, afinal que bairros gostosos. Predios baixinhos, lojas super charmosas (e milionárias), gente linda, uma surpresa em cada esquina. Uma farmácia do século passado , uma lojinha de cacarecos super divertida e irônica, uma loja de doces antiga. Voltei cheia de idéias e animada para uma noitada pela Comunidade que faço parte, que no final foi o mico da noite. Ruim de chegar, peguei o metrô, perto do Soho, o lugar nada bacana, gente só em panelinha, drink acabou. Fiquei uma hora, e voltei. Na volta para meu hotel, parei num pub que era do lado. Animadissimo! Fiquei até 1 da manhã. Com bebidinhas, a gente sempre faz amigos. Minha despedida perfeita de uma cidade que já conheço há tantos anos, e quero voltar ainda mais.
Então, para finalizar, dica aos amigos e amigas aqui: se puder, vá para Nova York sem pressa. Os destinos só são uma desculpa para você encontrar outras coisas muito mais bacanas e inesperadas. E um destino essencial para viajar sozinha!