
Admito: aqui é apenas verdades. Enquanto nos meus quarenta e quase oito anos eu me divido entre momentos onde me acho acabada, derrotada e outros onde acho que estou no meu primor de físico e mental, vejo com muita dificuldade essa nova época para paquerar.
Paquerar?
Flertar, conhecer alguém. Tento agora incorporar um vocabulário xóven atual: crush, bofe.
Nos meus 20, 30 anos era fácil: saíamos de quinta a sábado, sem falta. Conhecia vários moços na baladinha, ou no happy hour de quinta. E eu não era um drone de azaração: era só sentar com as amigas, de olho nas mesas vizinhas e não raro, sempre vinha um moço conversar conosco.
Nossa internet era a Originet, discada e que custava uma fortuna por minuto. Aplicativo de namoro? Nem tinha isso, nosso celular era só para ligações.
Talvez por isso as opções estavam todas no mundo afora. Real.
Fiz uma lista de onde conheci meus crushes, meus paqueras nessas décadas todas.
A grande maioria foi realmente em baladas, pubs e barzinhos.
Mas já conheci em viagens nacionais, em passeios de dia inteiro, na academia, entre conhecidos.
Ultimamente, como tenho saído menos , os meus poucos crushes foram só em viagens (e internacionais ainda!)
Tenho saído umas 2 vezes por mês. Nem paquera temos, eu e minhas amigas de 20, 30, 40, 50 anos. A gente fica mesmo para o rolê, para comer e beber.
Será porque temos nos tornado menos interessantes? Duvido. As mocinhas de 20 também reclamam da falta até do flerte, dos olhares, das conversinhas fiadas.
Talvez a explicação está nos aplicativos e redes sociais. Numa viagem recente que fiz, fiz amizades com 2 caras brasileiros. São bonitinhos mas não príncipes. Mas para a média, estão acima. Boa pintas, bom papo, bem sucedidos. Namoram, mas se der mole, eles pegam. Me mostraram seu celular (ah, vejo que é melhor ser amiga do que contatinho desses rapazes, eles nos fornecem altas informações ) : um monte de contatinhos. Whatsapp é para a namorada. Instagram, e-mail, para os contatinhos ocasionais. Pelo insta: um monte de mulherada. Tudo que conheceu pelo aplicativo, ou mesmo pelo Instagram. E olha só, é a mulherada que vai atrás deles.
A gente vai nos barzinhos, os caras estão vidrados no celular. Respondendo os vários contatinhos. Depois diz que mulher é que é multitarefa. Balela. Os homens dão de 10 a zero. Respondem família, chefe, amigos, e os 10000 contatinhos. Às vezes erram. Quem nunca recebeu uma mensagem de uma conversa cruzada com outra mulher?
Eu converso muito com meus amigos homens, e eles dizem o seguinte: está muito mais fácil de arranjar mulher. Até para quem não preenche a maioria dos requisitos príncipe, está fácil. Desempregados há anos, morando na casa da mãe, bem fora de forma. Só não se arranja quem não quer.
Contudo, eles também reclamam. Tem muita mulherada aí para pegação, mas difícil encontrar alguém que queiram ficar juntos, namorar, ter algo mais firme. Talvez pela oferta de tanta mulher, é difícil achar aquelas que consideram uma boa escolha para namorar.
Sinto falta daquele tempo onde as pessoas não ficavam vidradas no celular, e sim no espaço à sua volta, e ter a excitação de ver pessoas que estão à procura da mesma coisa que nós: um carinho na noite, ou uma companhia para um mês, um ano, uma vida.
Esses aplicativos digitais eu tenho um pouco de preguiça, mas talvez seja a hora de me render a eles. Isso fica para um próximo post.
Enfim, eu gosto mesmo do presencial: para meu aniversário, me presenteei com uma viagem para um resort de só adultos na Riviera Maya. Como foi gostoso se arrumar todos os dias, com a esperança de encontrar muito flerte e diversão. E foi o que encontrei lá, exatamente como era há anos atrás em São Paulo, nas baladinhas de sextas e sábados à noite. O celular ficou no quarto, quietinho. E a vida acontecia lá fora.