Este é um bate papo com a comunidade solteira aqui do grupo.

Eu estou solteira há 48 anos. Nunca fui casada. Não tive filhos. Meu último namoro sério foi há quase 8 anos atrás e durou um ano, menos.

Quando converso com algumas pessoas da minha geração pela primeira vez, se espantam. Perguntam novamente: sem filhos? Divorciada? Por quê? Por quê?

Tenho várias respostas, mas nunca conclusivas.

Recentemente eu vi um artigo no site Buzzfeed onde internautas de 30 a 60 anos explicam porque estão solteiras há algum tempo. Alguns tiveram um relacionamento traumático, outros realmente porque estão mais focados neles mesmo.

Acho que me encaixo nesse último grupo. Meu relacionamento foi ok, não foi traumatizante, foi uma experiência bacana em minha vida.

Mas eu devo dizer que nunca fui uma moça namoradeira. Sempre tive meus rolinhos, meus casinhos de viagens, mas para namorar mesmo, nada. Desde minha adolescência, eu sempre fui mais rodeada de amigos do que pretendentes.

Não sou feia. Sou bonitinha na maioria dos dias e em alguns dias , fico bonitona. Mas não chamo a atenção quando chego num lugar. E sou feliz assim.

Também num ambiente propicio à paquera, não fico sendo um drone de azaração nem sou franco atiradora. Geralmente acho um ou outro mocinho interessante, e se ele não vier puxar papo, eu fico com meus amigos, e minhas comidinhas. E vou dormir realizada do mesmo jeito.

E a vida assim foi. Minhas amigas foram casando, e até as que eram ainda mais desencanadas do que eu acharam por acaso sua tampa da panela e se ajeitaram.

Já passaram por mim alguns pretendentes que se eu desse corda, estaríamos juntos provavelmente. Até recentemente. Casados, quem sabe.

Eu tenho uma amiga casada que diz que eu deveria dar oportunidade para o homem que me quiser. Sendo boa gente, é o que vale. Porque a vida sem um companheiro é vazia segundo ela.

Sábado passado eu conheci um moço. O papo era até bacana, moço inteligente, simpático , educado, bem sucedido. Não bateu química. Nem tive vontade de dar uma abraço nele. Achei que seria uma injustiça e falsidade comigo e com ele de tentar algo.

Acho que o problema sou eu.

Demorei 48 anos, e até a morte do meu querido pai, para ter o discernimento e visibilidade clara de ver que eu sou realmente uma pessoa feliz. E sem arrependimentos de minhas escolhas.  Eu gosto de ficar sozinha. Eu amo o silêncio da minha casa, e ficar com minhas esquisitices, como dormir com vários bichinhos de pelúcia. De acordar a hora que eu sentir que deve. De acordar no meio da madrugada para o sol nascer e ainda trabalhar, se tiver vontade.  De dever explicação só a mim mesma.

Claro que eu tenho momentos onde gostaria de ter uma companhia. Mas eles são cada vez mais raros.

Em primeiro lugar, eu amo minha companhia sola. Gosto de ficar com meus pensamentos, meus sonhos. Gosto de acordar sozinha, de decidir a hora que vou dormir, de tomar banhos demorados, de escolher exatamente como vou me alimentar no dia.

Isso se aplica também a sair para comer, ir ao cinema, andar no parque . Até prefiro ir sozinha do que acompanhada. Viajar então, nem se fala. Tenho ido viajar muito sozinha, e nem procuro companhia.

Em segundo lugar, eu ainda tenho uma rede social boa. Presencial. Tenho integrantes de família que me fazem sentir pertencida a um legado, uma dinastia.

Tenho amigos que me fazem bem, me sinto acolhida quando os encontro, não apenas uma pessoa para dividir uma conta do bar ou a mesa de um restaurante.  São amigos de qualidade. Os amigos que eram mais falsianes, mais tóxicos, se foram.

Por último, eu tenho uma segurança financeira estável, não milionária, mas ok o suficiente para não ver num parceiro a necessidade de ter a tranquilidade que toda pessoa deveria ter sozinha.

Como não tive filhos, não tenho a vida atribulada de muitas de minhas amigas, que é criação de um ser humano.

Acho que cheguei no ÀS da questão. Hoje eu não tenho muitas OBRIGAÇÕES NA VIDA, e sim, aprazeres.

Imagino como deve ser aflita a vida de uma pessoa que tem que continuar a ser CLT de trabalho para garantir sua aposentadoria, criar 2 filhos de 12 e 15 anos de idade, cuidar dos pais que estão doentes, cuidar de 4 cachorros idosinhos. O companheiro vem a agregar mesmo, não só financeiramente.

Mas quando temos a sorte e também a decisão de sermos sozinhos, se tivermos tido a competência e disciplina para cuidarmos de nossa rotina, felizmente teremos a maioria dos dias para pensar em como vamos aproveita-los, mais do que os dias terem que ser suficientes para nossas ações obrigatórias (trabalhar, dirigir, cuidar, ensinar).

Com isso, um futuro companheiro tem que mais me agregar do que dividir. E de novo, não é no âmbito financeiro.

Como vou ser louca de trazer uma pessoa para minha vida se ela não me trará confiança, tranquilidade, alegria, risos, experiências?

Acho que tem pessoas e pessoas. Tem as amigas que precisam ter uma companhia. Não conseguem ficar sozinhas. E tá tudo bem. Então para elas , os defeitos que nós enxergamos como insuportáveis, para elas são ok. E elas programam sua vida para ter um companheiro sempre a seu lado.

Eu tomei muito cuidado nesse texto para não ser pedante ou prepotente como algumas amigas minha são.  Elas postam diariamente no Instagram e nos grupos que são muito tops para se juntarem a alguém, que são sozinhas por opção, porque os homens não estão a altura delas, bla bla bla chato da porra. E na maioria das vezes, elas estão loucas é para arranjar alguém.

Acho que finalmente cheguei à conclusão que é possível ser feliz sozinho sim, sem dramas. Alguns dias teremos uma insegurança de  medo de arrependimentos, medo da solidão, medo de morrer sozinho, medo.

Mas na maioria dos dias e dos momentos, a felicidade plena existe por você mesmo. E vejo cada vez mais pessoas solteiras da minha idade ou até mais.

Eu tenho uma grande amiga de 88 anos, que depois de se separar quando tinha 55 anos (ela não teve filhos), nunca mais se juntou a alguém. Ela é uma alma leve, e sim, muito feliz. Lembro que há alguns anos atrás ela me aconselhou que não tomasse ela como exemplo, pois a solidão não é para a maioria das pessoas.

Mas talvez seja para mim. E talvez para alguns de vocês.

E seremos felizes. Beijos no coração. Aqui é Curintia.