
Estou vendo um movimento geral de “pandarização” que não é bom, gente.
Pessoas jovens de 30 e poucos anos (nem vou comentar nossa faixa etária), recém millenials glamourizando e reconhecendo suas pandices.
Arranjam desculpa para não sair, ficam em casa o final de semana inteiro festejando que dormiram o tempo todo. Maratonaram todas as séries do Netflix. Não tiveram que socializar com ninguém.
Economizaram tempo, esforço , paciência.
Não tiveram que ficar em pé por mais que duas horas, não pegaram um trânsito absurdo e uber a 100 reais, não tiveram que aguentar gente chata, bebida cara, prato superfaturado.
Toda vez que abro meu feed no Instagram, me deparo com um perfil humorístico de um millenial cansado, fugindo dos rolês e interação social.
É o fim dos tempos?
Eu tenho noção que a pandemia nos fez ficar mais receosos e mais caseiros. Quem se isolou teve menos chance de pegar o Covid. Ponto para os introvertidos.
A violência aumentou demais nas grandes cidades, e infelizmente em São Paulo a falta de segurança é evidente até na luz do dia em bairros nobres e lotados.
Daí você acha normal ficar em casa na primeira semana, sem interagir com ninguém. Depois um mês inteiro. Talvez um ano. A gente desiste de comprar roupa nova para sair e começa a investir em tudo que é mais conforto para nossa casa. E cada vez mais sair é sinônimo de abdicação de seus direitos Panda.
Mesmo festa de amigos queridos você torce para ocorrer alguma zica e o evento ser cancelado. Quando é evento com gente que você não conhece, bairro com perímetro além de 2 km de sua casa, tempo nublado, de jeito nenhum que você vai sair do conforto de sua casa.
Eu mesma em textos anteriores glamourizei minha pandice como maturidade, preconização engraçada da ranzice de velha, e ser uma pseudo Greta Garbo , “me deixem sozinha”.
Só que neste feriado de Carnaval, após 2 dias de inteira reclusão, eu reagi e sai todos os dias. E foi ótimo.
Sim, eu fui nos bloquinhos. A pessoa que odiava bloquinhos foi em 3, e adorou todos. Adorou a muvuca, a fantasia improvisada das pessoas, as músicas, a criatividade do povo brasileiro, e sim , a ALEGRIA. Fui em pubs sozinha, fui em festas. Ano que vem vou comprar ingresso de camarote, vou em todos os bloquinhos.
Fui em um pós carnaval completamente sozinha. Era do lado de casa, a banda prometia, e eu tinha VIP. Cheguei 23 hs . A balada estava vazia. Ia tomar uma bebida e me recolher para minha casinha com o dever cumprido e me chegam 3 xóvens de outra cidade, fazendo amizades. De 10 minutos o rolê durou 4 horas, com rodadas de cervejas, muitas risadas, muitas dancinhas. As novas amigas são muito xóvens (devem ter no máximo 22 anos), e provavelmente não manteremos contato, mas foram queridas. E eu voltei a ter 20, 30 anos e como foi bom.
Num dia de semana qualquer, marquei com as amigas de sempre de fazer um happy hour. Caiu uma tempestade que parou São Paulo. Eu pensei em várias desculpas para desistir, mas como são amigas queridas que não merecem desculpas esfarrapadas, eu fui. E como foi gostoso. Nada demais. Apenas um encontro divertido entre amigas. Comi sim um burguer superfaturado mas muito gostoso que Ifood não entrega, falamos de nosso dia, compartilhamos dicas e inspirações uma as outras.
Esse mesmo grupo de amigas era muito unido antes da pandemia. Nos reuníamos quase toda semana. Era happy hour para paquerar os moços da Faria Lima, descobrir um restaurante novo em Pinheiros, ir num café bacanudo e superfaturado . E a gente compartilhava sonhos, frustrações, medos, vontades.
Quando a pandemia veio, cada uma ficou na sua. E depois que a pandemia diminuiu, infelizmente nosso grupo quase acabou. Uma vez ou outra uma amiga comentava, e ninguém respondia. Ninguém brigou com ninguém. Apenas estávamos brochadas e pandas demais para se animar a sair novamente.
Após 2 anos do fim da pandemia, finalmente o grupo voltou a ressuscitar. Os encontrinhos começaram a voltar, sem a necessidade de grandes eventos de aniversário. Voltei a comprar maquiagem, a usar salto, a prestar atenção nas minhas roupas que não estivessem rasgadas ou sujas com restos de comida.
É isso pessoal. Perdoem o superfaturamento dos bares e restaurantes de SP, eles precisam ganhar dinheiro, a pandemia foi cruel com eles.
Se esforcem, se esforcem para sair. Vençam a vontade de ficar em casa. Vocês vão conhecer pessoas bacanas e que até vão mudar algumas coisas em sua vida. Seus amigos merecem sua companhia.
O caminho até a despandarização é árduo, mas o retorno será doce. Beijos no coração. Aqui é Curintia.