Demorei a escrever sobre esse tema porque ainda me emociono muito.

Mas acho que próxima dos 50, temos que tirar nossa máscara de racionalidade.

Saudade é um termo que não tem em outros idiomas. Existe o verbo de sentir saudade como no inglês, miss. Ou no francês manquer. Mas só nós, brasileiros, temos a tal da saudade.

Quando eu era adolescente, eu tinha medo de sentir saudades. Eu queria ser a moça que nunca ninguém me viu chorando, eu queria ser a amazona forte e indestrutível, conquistadora do mundo, e inabalável.

Minhas amigas de escola nunca me viram chorar por conta de algum boy (também não foram muitos..). As amizades que perdi, nunca me viram olhar para trás e pedir para reatar o elo. Quantas vezes eu revirei meus olhos escutando os relatos encharcados de lágrimas de minhas amigas por algum boy magia negra?

Eu trabalhei num meio muito masculino por muitos anos, de construção, então demonstrar fraqueza, o choro, não era bom.

E na minha concepção de outrora xoven, eu queria que as pessoas me vissem como alguém inabalável, que era mais forte que as saudades e emoções passageiras.

Quanta besteira meu Deus.

Não me arrependo porque fui a pessoa que fui, mas não aconselharia a ninguém a esconder suas emoções por medo de julgamento.

Saudade é a melhor qualidade do ser humano. Aprendi na marra. O choro é só a manifestação física no máximo.

Me lembro que no culto ao meu querido pai, as lágrimas brotaram de meu rosto, incontrolavelmente, enquanto tentava proferir as palavras bem humoradas de homenagem a ele. Uma conhecida minha (que depois questionei de sua verdadeira intenção) me fofocou que meu irmão do meio criticou minha exposição no culto, que não precisava daquela emoção toda.

Passei uma borracha nisso. Se ele realmente falou isso, a emoção era a minha e não a dele, cheio de caminhos tortuosos com meu pai. E essa amiga que veio passar essa informação completamente desnecessária, fiquei de olho nela, com pés atrás.  Pode ser que ela tivesse passado a informação como modo “proteção”, talvez não. Aprendi que fofoca ruim e peçonhenta quase nunca é para nos alertar, e sim para nos diminuir e nos irritar.

E não me arrependo um segundo de nenhuma lágrima que derramei naquele evento.

Porque a saudade, meus amigos, é o bem mais precioso que carregamos conosco, para sempre.

Ontem eu tive um sonho esquisito, mas maravilhoso. Sonhei que estava num busão de excursão, meu pai e minha mãe juntos comigo. Passamos por um lugar meio litorâneo, e paramos numa praia muito interessante, bem estreita, entrecortada por prédios, como se fosse no meio de uma cidade, mas com piscinas naturais, bem calma, água transparente. Meu pai e minha mãe diziam que jamais queriam ficar nesse lugar, pois apesar de ter prédios, não tinha shopping, nem lojas. Tipico deles. Eu já gostei.

Depois ficamos andando pela região, conversando e rindo, a família inteira. Apesar de saber que meu pai já tinha partido do plano terrestre, ele estava lá conosco, em presença completa, como se nunca tivesse ido embora. E eu estava segura que seria assim para sempre.

Acordei. Foi um sonho ou é real?

Eu sabia que a situação é de agora, nós na terra e ele no céu, em algum lugar espero que melhor, porque minha mãe em dado momento comentou da saudade de coisas bobas que lembrava dele, como o prazer de tomar um café quente e fazer aquele barulhinho de véio.

A questão da presença física era apenas um detalhe, porque na real, ele esta conosco 100%.

Eu choro e me emociono ao escrever isso. Não sei se farei me entender, mas para mim, é a clareza que enquanto estiver sã, enquanto eu viver, meu pai estará vivo, comigo. E assim com as pessoas que eu amo demais, que tenho medo de sentir… saudades.

Creio que a gente não deveria temer a morte de nossas pessoas queridas . Não deveria temer sentir saudades. Porque o que elas já representam em nossas vidas, é o suficiente para estarem conosco até o fim, quiçá para a eternidade.

 E eu digo que além de nossos parentes queridos, até de amores que não foram 100% resolvidos , um amor de verão que ficou só naquela temporada. Sonho frequentemente com uns mocinhos que conheci há alguns anos atrás, que foram muito queridos comigo, que tivemos momentos muito incríveis juntos, apesar de curtos. Coisa boa a gente não esquece, pelo contrário, até melhora nas saudades.

Termino aqui lembrando uma emoção linda que vi no show do Gilberto Gil. Olha só, nem sou fã, mas a cena em que ele , do alto de seus mais de 80 anos, canta com o vigor de um adolescente, uma homenagem a sua filha Preta Gil, que está lutando contra um câncer, é a certeza que a saudade é o primor do ser humano. Se ela virar saudade, o amor é eterno. (Ps: há menos de um mês, Preta Gil virou saudade. Mas o seu momento no palco será eterno).

Que venham mais saudades! Que venham saudades de relacionamentos longos, curtos, mas de tudo que nos fez bem. Beijos no coração de vocês.