Você já parou para se questionar e enumerar as passagens de grandes mudanças em sua vida? Mais do que idade, ou tempo, quais foram os seus momentos de maior transformação?

Eu fiz a minha reflexão esses dias. Não foi fácil.

Começou em um café em Moema, em São Paulo. Fui encontrar com uma amiga que perdeu seu querido pai há 6 meses, pelo mesmo câncer que vitimou meu querido pai, há 3 anos atrás. Com a total cumplicidade que só quem teve essa perda e essa dor enorme , rimos, choramos, fizemos confidências que nem dirigimos aos nossos irmãos.

Algo mudou em nós.

Por exemplo: a perda da inocência. Eu olho algumas fotos de 2010, 2018, 2005 e acho que jamais terei o riso despretensioso dessas épocas. Cabeça leve, cuca fresca, só amor ao mundo e tudo na vida era bom e confortável.

 Uma tristeza e uma amargura constante. Ainda temos a sorte de ter nossas queridas mães ao nosso lado, mas a ansiedade está batendo forte, como nunca. Sabemos que depois da ida delas para o plano espiritual, estaremos sozinhas. Nunca teremos mais o acolhimento incondicional de nossos pais nem de ninguém.

Como somos ambas Solo Agers, ou seja, mulheres que não tiveram filhos, sabemos que a continuidade da vida acabará em nós. Creio que quem tem filhos certamente sente menos a dor da perda dos pais, pois agora você é o protagonista. Falarei mais disso em outro post, pois o tema merece e é muito complexo e ainda inexplorado.

Por outro lado, nós duas concordamos numa coisa: nossa visão de vida foi absurdamente ampliada. Antigos perrengues e coisinhas que tiravam nosso sono, nossa paciência, hoje a gente releva. Afinal, quem passou pela perda dos pais, tudo o que vier pela frente é refresco.

Também nosso filtro ficou mais apurado: nos afastamos de muitas pessoas, e priorizamos outras. Finalmente cortamos relações com pessoas tóxicas, que não torcem pelo nosso fogo (tenho um post modéstia a parte muito legal nesse blog).  Também não fazemos mais questão de ter companhia para todas nossas saídas e viagens, pois companhia ruim só tira, nunca soma.

Temos mais pressa sim, de encontrar as pessoas certas. De ter conexão e amizades verdadeiras, para a vida. Quando já vemos que algumas pessoas não são para a vida, já tratamos com desdém, já perdemos a paciência, e já não damos a atenção que talvez nossos eus mais jovens fariam, por carência ou por querer ser popular e chamada para tudo.

Eu não sei se fiquei mais bondosa. Ou se fiquei melhor. Para mim, eu acho. Eu acho que essa é minha melhor versão. Não seguro muita coisa não. Se me atacar, provavelmente vai levar duas marretadas. Uma por que estou ficando mais velha e estou perdendo o medo de ser mal compreendida ou injusta. Outra porque meu filtro de paciência e generosidade já está gasto, então nem tudo passa por ele.

Daí fiz uma reflexão sobre as passagens mais importantes de minha vida. Nem todas elas foram agradáveis. Algumas foram maravilhosas, outras muito tristes, e foram as passagens de vida que me definiram como ser humano até hoje.

Enumerei as que lembrei abaixo, e veja se bate com as suas:

  1. Morar sozinha: acho que de todos, esse foi o marco mais importante na minha vida. Poderia estar morando até hoje com meus pais. No Brasil, se a moça não casou, é comum morar na casa dos pais. Os meus queriam que eu morasse sempre com eles, por cuidado, afeição, carinho. Quando decidi morar sozinha, meu mundo como Mônica, a mulher, se abriu. Antes eu era Mônica, a filha. A filhinha. Minha casa, minhas regras. Eu sabia que poderia dar conta de mim. E a isso se seguiu tudo: minha independência total financeira , sou eu quem faço hoje meu Imposto de Renda, minhas aplicações, pago minhas contas, e nunca levei roupa para a casa de mamãe para ela lavar para mim. Aliás, a relação com minha mãe melhorou absurdamente depois que eu virei visita, e não chupim eterna da casa dela.
  • O primeiro namoro sério: eu nunca tive relacionamentos longos na vida, mas tive um relacionamento sério que me validou como mulher e que sim, dependendo da pessoa , é muito bacana a vida a dois. Me ensinou a amar, a ser amada e desejada. Assim como no término do relacionamento quando este já estava se tornando tóxico, me fez ver que eu sou muito mais forte do que as pessoas imaginam.
  • Aprender a dirigir: estou voltando no tempo. Ao mesmo tempo que eu tinha um medo tremendo de pegar na direção, quando fiquei motorizada, eu vi que poderia ir a qualquer lugar sem pedir permissão aos meus pais. Meus rolês noturnos (que até hoje eu gosto), meus amigos, minha vida, minhas pequenas viagens ao litoral norte de São Paulo.
  • A primeira cirurgia ou problema sério de saúde: no ano passado, tive que fazer uma cirurgia de retirada total de minha tireóide. Era uma cirurgia simples, com apenas um pernoite de internação no hospital. Resolvi que ia sozinha, não queria acompanhante, e poupei minha mãe de ter que passar mais dias acompanhando alguém nesse ambiente tão frio e que remetia à morte sofrida de meu pai. Nas 24 horas que passei lá, tudo se passou pela minha cabeça: o medo de estar sozinha, a vontade de ter alguém para conversar, para me distrair daquele ambiente, para me acalmar. Eu comecei a ver como é importante as pessoas de vínculo eterno .
  • A morte de seu pai ou mãe: a vida nunca será a mesma. De verdade. É sim a natureza da vida humana, afinal a alternativa é muito pior. Mas perder seus pais significa a morte das pessoas que terão o amor incondicional a você.  Tudo mudou para mim depois da morte de meu querido pai. É ruim mas é bom. Estou irreconhecível hoje depois de 3 anos. Este é um assunto para um outro post, mas por ora, vocês verão que sua visão de mundo amplia. Um boy que te ignorou é apenas um boy que te ignorou e nada mais. A gente acaba escolhendo as batalhas a entrar. E isso é muito bom. Bjo no coração. Que vocês tenham muito mais passagens arrebatadoras em suas vidas.