
Aviso de antemão que não será um texto conclusivo ou para reafirmar minha escolha de eterna solteira.
Me pego às vezes fazendo essa reflexão pensando no meu futuro daqui a algumas décadas.
Até meus 40 e pouco anos, não ter um parceiro de vida não me fez uma falta absurda a ponto de me sentir frustrada, infeliz e mesmo incompleta. Em alguns momentos? Sim. Gostaria de ter tido uma companhia firme para fazer minhas viagens pseudo românticas, nos momentos de conquista, e também nos momentos mais difíceis de minha vida, como a perda de meu pai. Fora isso, eu sempre fui uma menina feliz. Realmente, gente.
Para falar a verdade mesmo eu nunca procurei exaustivamente um parceiro de vida para chamar de meu. Quando tinha algum boy que me interessava, e ele era meio tóxico, eu deixava ir. Quando era um boy que provavelmente me escolheria como parceira de vida, fugia porque não me imaginava ao lado dele.
Eu lembro de minhas amigas casadoiras, que elas realmente procuravam muito a outra metade. No rolê de viajar, sair , onde eu estava feliz sozinha ou com amigas, elas estavam incompletas e ansiosas. Entendo elas. Pessoas são diferentes.
Para mim sempre foi o discurso de: “simplesmente não apareceu o cara”. Hoje, eu vejo que talvez institivamente eu afastei os caras potenciais não porque eles não eram o cara, mas porque eu já via um aprisionamento emocional que não queria suportar. Esse é um assunto complexo e guardarei para um próximo post.
Eu escuto a todo momento todas as pessoas dizerem que você não é completa se você não partilha a vida com um parceiro, um grande amor.
Começando pelos filmes e séries, mesmo aquelas que se dizem avançadas e transgressoras , acabaram na mesma vala de : “foram felizes para sempre”. Quando eu comecei a assistir a série “Sex and the city”, que começou justamente em 1998, e transmitida pelo canal a cabo HBO, pois continha muitas cenas picantes e temas na época polêmicos, era um arraso assistir 4 garotas solteiras em Nova York.
Era mais do que os figurinos de Patricia Field recheado de marcas, as locações badaladas de Nova York, era sobre a sororidade feminina e também o questionamento se o tal conto de fadas realmente era ainda válido para os tempos modernos.
O tom da série sempre foi muito leve, de comédia, então não podemos tratar como um tema muito profundo, mas a mensagem estava lá quando a série iniciou: era perfeitamente possível ser uma mulher de verdade e ainda ser solteira.
Os últimos anos da série, e seus dois filmes e continuação, acabaram caindo na vala comum pasme, como um filme da década de 20: todas as protagonistas com seus homens, casadas, e bem resolvidas… com um parceiro. Até Samantha, o personagem mais independente e transgressor da série, se rendia a uma boa alma e bonitão. E a mensagem clara no final foi a mesma de todos os filmes românticos: “ a vida é muito melhor partilhada um homem que te entende e te ama de verdade”.
Neste final de semana, me reuni com um grupo de mulheres num café gostoso paulistano, regado a cappuccinos e croissants. Tivemos a oportunidade de escutar a história de uma jovem colombiana de 34 anos que encerrou um noivado de 4 anos com um norte-americano, e veio morar no Brasil a trabalho.
O moço tinha no papel todos os predicados a um ótimo marido e futuro pai: apaixonado, atencioso, comprometido, boa família, bom emprego. Após uma viagem sozinha a Costa Rica, ela ficou inquieta. Veio uma depressão do nada, uma angústia tremenda. Graças a um trabalho dedicado de sua terapeuta, ela viu que seria infeliz num casamento com uma pessoa que não era a The One, e no fundo, tinha muito mais defeitos do que qualidades, defeitos inclusive que iam contra sua história e seus sentimentos.
E é incrível como em alguns aspectos ainda estamos na década de 20: as amigas tentam convencê-la a todo custo a relevar os defeitos do boy, a mãe e a avó se indignam com a incerteza da filha a jogar fora seu futuro (logo hoje que tem tão pouco homem a querer se comprometer seriamente!), o chefe e colegas a incentivam a insistir no casamento. E depois da história se encerrar por definitivo, o coro era comum: “não gostavam muito dele mesmo”.
Na viagem de niver de minha mãezinha esse ano, ela me confidenciou que ainda sonhava que eu casasse com algum homem. Pois para ela, a vida sem um parceiro é vazia. Ela acha que hoje eu não sinto falta, mas daqui a alguns anos, sem dúvida. Ela por exemplo, não seria nada sem meu pai.
Sei que a vontade dela é pura, 100% pensando em mim. Por isso fiquei longos dias pensando sobre o que ela me disse.
Contudo, ela vem de uma época onde raramente as mulheres eram independentes, e iam viajar e explorar o mundo sozinhas. Quando se casavam , naturalmente a vida era dedicada aos filhos e ao marido. O estereótipo da mulher solteira era a típica solteirona: amargurada porque nenhum homem a escolheu, fadada a viver seus últimos dias esquecida e numa casa abandonada. Só olhar os personagens vilãs femininos: no Brasil, da novela “Tieta”, é o que vem a cabeça. Todas as vilãs da Disney, com seu ar sombrio, suas roupas cobertas, a vontade de fazer o mal para as donzelas lindas e inocentes, e que sim, eram naturalmente escolhidas pelos príncipes.
Eu sou uma pessoa esperançosa, mas ando meio desacreditada que encontrarei uma alma gêmea, como meu pai foi para minha mãe.
Os valores de hoje são outros, e com essa tal tecnologia onde os homens podem escolher várias mulheres pelo cardápio online de Tinder, Happn, e nas redes sociais, a paquera se esvaziou nos barzinhos e rolês. E tenho cada vez mais a convicção que, muitas vezes você procura uma cia, e mesmo acompanhada, se sente sozinha.
Acho que teremos décadas interessantes pela frente. Solteiros unidos jamais serão vencidos. Estou curiosa como vai ser meus textos daqui 10, 20 anos. Terei a mesma convicção de hoje? Não sei. Mas ainda tenho esperança. Que é possível ser feliz sozinha. Beijo especial no coração de todos os solteiros (ainda) convictos.
PS: eu não assisti a série, mas soube que o final da série “And just like that”, que é a continuação do “Sex and the City”, a personagem principal Carrie, acaba sozinha… e realizada e ciente que sozinha, ela pode ser feliz.