Quando eu tinha meus 20 e pouco anos, ouvi de muitas pessoas :

– “Você não pensa em ter filhos agora, mas vai mudar”

– “Você vai parar de pensar só em você e mais nos outros”

– “Você não vai se reconhecer daqui a 20 anos”

Estou hoje com 20 anos a mais. Passei por muita coisa. Perdi meu pai, tive sustos de saúde, assaltos, amores pra vida, fiz e desfiz grandes amizades, fechei uma empresa, abri outra, viajei muito.

A vontade de ter filhos nunca veio. Talvez uma dúvida ou outra quando estive nos meus 45 anos, mas nunca veio aquele instinto maternal.

Vez ou outra me bate uma vontade de ter um relacionamento sério, para daqui a 10 minutos passar completamente.

Isso fez mudar a mim e minha essência? Creio que não. De forma alguma.

Meus amigos de 40 mais. Mudaram? Pouco.

Alguns suavizaram com o tempo, outros ficaram mais amargos. Mas a sabedoria quase sempre vem.

Agora, sobre a esperança de pessoas ruins virarem pessoas boas. Tenho?

Não. Sinto muito.

Minha experiência de vida contradiz a série “Sex and the city”, filmes românticos, dramas edificantes onde o bandido vira uma boa pessoa no final. Onde o canalha se redime e vira um marido exemplar para sempre. Ou a amiga fura olha se arrepende e vira sua amiga até o fim dos seus dias. A gente cresce com filmes, séries, novelas, onde há a redenção do ser humano.

Mas hoje, dos meus 47 anos, eu não vejo isso.

O cara cafajeste, manipulador mental, abusador físico continua na ativa. O traidor continua traindo, só que com outras companhias. Isso vale para homens e mulheres. Já tive amizades desfeitas com grandes amigas por apenas se revelarem com a idade aquilo que já prometiam ser.

Como assim? Quem eu sabia que tinha um desvio de caráter, se provou realmente desprovida de caráter. As porradas da vida apenas afloraram isso.

É pessoal. A gente pelo caminho faz amizades, convive, até namora seriamente com pessoas que sabemos que tem aquela pontinha de mal caratismo, mas ainda assim insistimos. E aprendemos, assim espero.

Tive 3 conhecidas, que chegaram a ser amigas minhas, e em dado momento viraram a chave. Não eram das mais honestas companhias,  e são aquelas companhias que todo mundo já teve. São companhias agradáveis, interessantes, engraçadas, estão sempre disponíveis. São aquelas companhias como cachorro- quente – sabemos que faz um mal danado lá na frente, mas mesmo assim consumimos. Depois de uma perda grande de dinheiro, um relacionamento terminado, traíram, roubaram. A nós.Não chegou a ser uma surpresa para mim terem feito as atrocidades que fizeram.

Porque eu coloco essa pergunta aqui? Eu acho relevante até para alertar os mais novos.

Quando eu tinha meus 20 e poucos anos, eu e todas minhas amigas achávamos que podíamos mudar pessoas. Nossos amigos que eram meio abusivos. Um namorado que era traidor (e achávamos que era imaturidade). Um membro da família que era meio espertinho demais, mas a gente gostava dele, se divertia.

Talvez vocês tenham tido experiências diferentes, mas a minha diz que as pessoas não mudam. Elas podem melhorar? Sim, sem dúvida. Mas a essência fica.

Na maior parte das vezes, nos tornamos aquilo que prometemos.

Um outro exemplo: tenho um amigo que tem problemas de dinheiro. Sempre teve. Diversos traumas na vida dele  não a fizeram mudar a chave e perceber que o problema vinha dele. O discurso da culpa alheia sempre vai persistir.

 Depois da morte de meu pai, eu me tornei ainda mais individualista. Não no sentido ruim. Eu invisto uma enorme soma de tempo para minha mãezinha e meu irmão. Para alguns amigos que querem meu bem. Mas agora tenho paciência zero para amigos falsos, oportunistas, familiares predadores.

Gostaria de ser o que sou agora há 20 anos atrás. Teria me poupado muitas engolições de sapos, muitos desaforos que não era obrigada, muitos, muitos. Mas também, como seria o que sou se não tivesse vivido tudo lá atrás?

Sem medo de ter menos amigos. Conheci algumas pessoas que entraram em profunda depressão tendo milhares de amigos nas redes sociais, sendo as pessoas mais populares e queridas. Como se diz: ninguém é responsável por sua felicidade a não ser você. Eu conto nos dedos quem eu faço o esforço de sair de casa para me encontrar, e gosto de passar um bom tempo comigo mesma.

Com isso, não quero dizer para sermos só nós. Só eu. Mas que confie imensamente em seus instintos e se a coisa não cheirar bem, você não é obrigado a tolerar. Se afaste, se finge de louca, diga não, invente desculpas.

Espero ler essa crônica daqui a 20 anos e ver se continuo com a mesma opinião.

Tendo em vista que as pessoas são e sempre serão aquilo que são atualmente, decida o que é melhor para você. Beijo no coração.