
Pode ser seus pais. Sua mãe, se você não teve um pai presente. Seu pai, se não teve uma mãe.
Eu aprendi que a vida é um sopro. Para outros e para nós.
Vai fazer quase 2 anos que meu querido pai se foi, e posso dizer que não existe sentimento mais triste, legítimo e profundo do que não ter ele ao meu lado.
Para quem ainda não passou por isso, ou está prestes a passar, eu digo:
A dor passa. O amor fica. A saudade é para sempre.
Você nunca vai esquecer dele. De seu sorriso, seus tiques, suas risadas, a forma como ele reagiria a uma fala sua.
Os momentos ruins de brigas, angústias de doenças e pesadelos serão esquecidos, e só ficará as boas lembranças. De verdade.
Ele continuara contigo em toda sua vida. Em toda sua caminhada, haverá uma situação, em que ele vai entrar com seu comentário irônico, ligeiro e sagaz.
Seu corpo pode ter se transformado em cinzas, mas seu espírito continua presente na Terra, através de seus irmãos, de mim. Um pedaço dele veio para mim, com toda certeza.
Eu me lembro claramente de uma cena do filme “Wild” com a Reese Witherspoon , onde ela faz uma trilha desafiadora pelos Estados Unidos, e em dado momento, lembra da morte de sua mãe. Ela come um punhado das cinzas dela. Essa cena pode ter chocado muitos, mas eu consegui sentir o que ela estava passando naquele momento. Queremos nossos pais para sempre conosco.
Os comentários rabugentos de viagens, a preguiça com pessoas sem noção e burras, o coração mole com crianças levadas e xovens (e eu nem gosto muito de crianças).
Eu tive a imensa sorte de ter um pai presente, que fez o papel de pai da maneira mais esforçada que pode fazer. Tenho noção que muitos amigos meus não tem um pai para se orgulhar ou chamar de seu, porque o verdadeiro pai não é somente aquele que doa seu espermatozoide, e sim aquele que cria, que cuida, que ensina, que ama, que torce por.
Para quem teve, e daí vai entender o que eu digo, a dor imensa se transforma numa saudade avassaladora, um aperto no coração que não tem fim, mas uma candura, um amor eterno que só cresce.
Cada dia, eu me lembro de todo esforço que ele fez para nos criar, para me sentir orgulhosa dele, para que eu não fosse um péssimo exemplo para o mundo e sim algo a acrescentar .
Como adulta, eu devo imaginar agora os esforços invisíveis que não vemos quando filhos, como marido que mantém uma família unida, que educa, que nutre, que inspira.
Como ele eu sou Consumista sim, escrava da moda e das marcas jamais. (ahhh, ele gostava de passar as próprias camisas, monogramadas). Tinha um guarda roupa de fazer inveja a qualquer mulher, e quando gostava de um item, comprava duplicado ou todas as cores disponíveis.
Orgulhosa sim, mas inflexível não (na maioria das vezes)
Malandra sim, mas desonesta jamais, jamais.
Rabugenta por vezes sim (e cada vez mais), mas injusta jamais.
Meu pai. Se você estivesse comigo agora (pelo menos no plano físico, porque temos que crer que o espiritual existe), certeza que você ia:
– ficar decepcionado com a queda dos irmãos Lehman (e suas Americanas de araque) e Elke Batista. Meu pai sempre admirou os bens sucedidos.
– rir e debochar dos xovens que fazem mil poses nas redes sociais
– achar que toda mulher está ficando igual, com o rosto deformado, a boca inchada que nem um pato e as unhas enormes que nem dá para digitar algo, mas que no fim, cada um faz do seu rosto e corpo o que quiser, e não é da nossa conta.
– que homem de saiote é esquisito mas cada um faz o que quer da vida, de novo.
– que esse negócio de Inteligencia Artificial ao mesmo tempo que é fascinante, dá um medão da porra
– e que eu preciso perder pelo menos 10 quilos…
Pai, de onde você estiver agora, espero que possa finalmente tomar sua dose com chorinho de vodka a vontade, comer suas comidas docinhas e gordurentas, numa poltrona brega mas confortável, e dando risadas com seus amigos e fazendo piada de todos, como sempre fez e como sempre foi o rei do grupo. Te amo para sempre.
Tá vendo? Por isso não faço as homenagens em público. Os olhos já estão aguados e a garganta já está fechada.