Hoje eu passei por mais um momento de semi-morte.

Estava eu no metrô, indo encontrar uma amiga, e um senhorzinho de repente parou dentro do vagão e eu atrás com o meu corpo semi para dentro, semi para fora.

Eu não sei quem foi mais estupido: o senhorzinho que empacou bem quando deu o sinal de fechamento das portas, ou se fui eu que não recuou e tentou entrar de vez no vagão.

Meu corpo ficou preso na porta, exatamente metade dentro e metade fora,  e se não fosse a truculência bem vinda de alguns homens que abriram a porta para eu entrar, eu talvez teria morrido, ou me machucado seriamente.

O senhorzinho, que nem um poste, ficou atordoado e se ateu a pedir imensas desculpas.

Estava tão perplexa que nem agradeci os anjos que me salvaram. Meus pensamentos se ateram a atear fogo no tal senhorzinho, que enfim, nem tanta culpa tinha assim. Afinal de contas, é um senhorzinho.

Eu não sei se vocês são como eu, ou eu sou a auto punidora, que depois da semi tragédia, vai pesquisar no Google se as portas do metro abrem com o passageiro preso, ou se elas partem mesmo assim. Já presenciei vários indivíduos que ficaram presos na porta, mas conseguiram se desvencilhar, com ou sem a ajuda de pessoas.

E se não tivesse os gentis moços que me ajudaram?

Uma ou outra morte, inclusive de um senhor de 82 anos, em 2022 no metrô do Rio de Janeiro.

Mais uma semi morte para meu currículo, depois de uma suspeita de câncer, depois de uma coronhada de um bandido, depois de um semi afogamento em piscina aos 3 anos e uma ultrapassagem perigosa de um motorista que vinha em nossa direção.

Dramática? Talvez. Impossível? Não.

Agora é um momento que eu preciso repensar minha vida, mais do que ficar remoendo que eu pudesse ter partido ontem dessa para melhor. E o pior: sem glamour nenhum. Senhora Asiática morre em acidente trágico no metrô de São Paulo. E ainda ser taxada de burra por ter ficado presa na porta do metrô. Bem, depois que você vai dessa para melhor, nada importa mais, não é mesmo?

Tenho repetido alguns atos que realmente deveria mudar de minha vida.

Por exemplo:

Fazer pequenas economias quando é melhor  realmente pagar a mais e pegar um uber em fez de enfrentar um metro lotado como estava aquela hora. Até porque eu sou uma afortunada que posso bancar um uber sem comprometer a minha verba mensal, ao contrário de milhões de cidadãos que precisam realmente utilizar o transporte público.

Ou de ser firme com sua amiga que era melhor encerrar a conversa mais cedo porque um metrô fica lotado depois das 5. Quantas vezes você, por educação, fica dando trela a um prolongamento de encontro mas no fundo tá pensando que você vai se ferrar por aqueles 40 min a mais? Ela estava de carro, não era problema pra ela. Mas eu ia voltar de trem.

Quando voltei para a casa, risquei algumas atividades que levariam muito tempo meu, e pouco prazer ou realização. Algumas atividades pela ong que participo que na verdade tem que ser executadas por outras pessoas.  Tentativas de reunião de amigos que não fazem força para se ver mais e cujo esforço vem quase somente de mim.

Mais: realmente começar a fazer dieta pois estou me sentindo caída, gorda e sem energia. Começar a viajar sozinha para os lugares que realmente quero ir, sem medo de julgamento ou mesmo de orçamento.

Começar a riscar tarefas da minha vida que faço por favor ou simplesmente por inércia, porque tempo meu é curto como de todo mundo.

Me lembrei de meu querido pai no hospital, dizendo que se saísse do cancer, certamente ia tentar viajar mais e fazer algo mais da vida, mesmo que seu corpo estivesse cansado, mas que realmente era um desperdício ficar o dia inteiro no sofá vendo televisão.

E digo isso para ficar nas redes sociais, se preocupar em postar algo bonito para contatinhos do Instagram que não estão nem ai para você, ficar vendo vídeos bobos no YouTube, ficar postergando atividades ou desejos.

A vida é agora. O amanhã talvez não teremos.

Quando eu fui assaltada em 2018, eu tive esse insight e fiz mudanças em minha vida para pensar mais em mim mesma. Mas com o tempo, a gente se adapta, esquece e começa a fazer o mesmo roteiro que antes.

A vida me deu mais um grande susto. E um lembrete de novo: a vida é curta. Curta agora. Se arrependa (ou não!) depois.

Beijos no coração. Vão para a vida. Vivam plenamente. Sem precisar de um lembrete de porrada.