
Vi recentemente o filme norte-americano Anora, que foi indicado (e ganhou) para vários Oscars, inclusive melhor filme, diretor e atriz.
Gostei médio do filme apesar da montanha de palavrões e linguagem chula que permeia a obra (sim, estou virando uma senhorinha que se incomoda com isso).
Por trás de uma aparente comédia romântica, o filme revela nuances de drama e da subsistência vivendo nos Estados Unidos. A brutalidade de diferenças do muito rico X o pobre. Ok, meu vocabulário de semi crítica de filmes acaba por aqui.
Há algumas cenas no filme que fazem a gente ficar com tanta raiva que a vontade é de sair da poltrona e socar o personagem.
Muitas pessoas odiaram a mãe do personagem Ivan, o tal “príncipe do filme”. Cínica, fria, calculista e arrogante, ela maltrata a protagonista . Mas a meu ver, ela não fez diferente do que a maioria das mães faria: proteger seu filho e seu patrimônio.
A maior raiva que tive foi da personagem Diamond, a rival de Anora no Strip Club. Desde o início do filme, ela já é mostrada como antagonista, sempre criticando a protagonista, e quando esta se casa, ela claramente roga uma praga para não durar o casamento.
De principio, achei bem caricato, afinal, como uma mulher pode ser tão asquerosa, e querer tanto o mal de outra pessoa? Pensei mais, será que isso é comum mais no meio de prostituição delas?
Enfim, pula para 3 dias. Fui jantar com algumas amigas. Uma delas, contando sobre a viagem que fez com a mãe e como foi gostoso. Faz 1 ano que o pai dela, marido da mãe, de mais de 50 anos de casamento, se foi devido a um câncer devastador. Foram 6 meses de hospital, e sempre ao lado dele. Quando ele faleceu, a mãe pesava 35 quilos. Ficou 3 meses em depressão, talvez teria morrido. As viagens a salvaram da morte. Tinha recuperado a saúde, e voltado a sorrir, embora chorasse todos os dias. De repente, uma das amigas solta essa: “é isso aí, tem que gastar mesmo o dinheiro do falecido” . Achei um horror. Igual a personagem Diamond, só que não estamos num clube de strip, onde há concorrência direta pelos clientes, e sim numa roda de amigas, que se conhecem há mais de 10 anos.
Talvez algumas pessoas sentem que esse comentário pode ter sido inofensivo, e ela só falou o que realmente é, e que no fundo, no fundo, no fundo, era apenas uma expressão infeliz para dar apoio à mãe dela fazer cada vez mais viagens mesmo.
Mas eu conheço esse tipo de comentário. Infelismente não é a alternativa acima. Isso vem de uma concorrência dela contra as mulheres em sil. Ela tem que se sentir a mais bonita, a mais desejada, a que tem mais sorte e oportunidades do que as outras. Ela tem suas qualidades como amiga, mas existe esse ego dentro dela, grande, que a faz ter atitudes como essa.
E vamos combinar, quantas vezes nós mulheres já deixamos de postar uma foto no Instagram, de falar para outras que estamos conhecendo um boy, com medo de dar ruim? Principalmente por causa do tal olho gordo, e de pessoas muito próximas a nós?
Pode parecer melindre meu, mas depois que meu pai aos 82 anos disse que acredita em “olho gordo” e melhor guardar as melhores coisas que acontece em sua vida para si, eu acredito mesmo. (Olha só, e pelo visto isso é valido também para os homens).
Em uma conversa de bar com poucas amigas, ficamos tentando entender porque as mulheres (algumas mais do que outras) têm essa competição escancarada com outras.
Você pode perceber quem são:
– São as fulanas que sempre estão falando da amiga (claro na ausência dela e quando não está presente) que tomou um pé na bunda, que o marido tá saindo com outra. Continuam amigas dos exes das amigas nas redes sociais só para se fartar que os exes seguiram com sua vida, e são as primeiras a comentar (sem terem sido perguntadas) que o boy já tá com outra.
– São as que adoram fazer uma piadinha tóxica e diminuidora da amiga, mas quando a mesma recebe de volta, fica magoada.
– São as que quando fazem um elogio à amiga, pela viagem pela beleza, ou pelo trabalho dela, sempre no fundo fazem uma colocação diminuindo o feito dela.
E olha só, não são necessariamente pessoas infelizes ou terríveis. Tanto que são nossas amigas. Algumas são de verdade, que querem nosso bem, realmente nos amam, talvez sejam até irmãs.
Mas talvez sejam da natureza de alguns humanos. Sempre serem competitivos e enxergar na tragédia do outros a validação para suas vidas.
Tem amiga que vagabundeou a vida inteira e agora que tem que trabalhar real diminui a vida das outras para validar a sua.
Tem amiga que arranja todos os defeitos nos novos boys da amiga porque no fundo queria um boy desses para ela.
São as amigas que sempre tem uma frustação ou inquietude que levam a fazer esses comentários e terem pensamentos de “vontade de dar merda para as amigas”.
E essa amiga pode ter sido você, eu , minha mãe, em algum momento da vida. Todos nós temos frustações, e nem sempre o sucesso de nossos amigos próximos nos fazem nos sentir bem.
E tem mulheres que às vezes já tem tudo, dinheiro, conforto, relacionamento, trabalho, amor, mas não podem ver outras amigas sendo mais bem sucedidas que ela. Simplesmente por isso.
Mas eu tenho exemplos positivos na minha vida. Aliás vários. Tem amigas bem sucedidas, médio sucedidas, mães, solteiras, casadas, divorciadas, ricas, nem tanto, loiras, japonesas. Qual a característica comum em todas elas? Resiliência.
Eu diria “bondade”, mas acho um termo muito particular. Acho que o termo “resiliência “ cai melhor, pois geralmente são mulheres de bem com sua vida, a que tem no momento.
Como diz o sábio ditado de um desconhecido: “gente feliz não enche o saco”.
E é verdade.
Se elas sentem inveja, elas não manifestam, de jeito nenhum. Ficam na dela. São as melhores. Aprendemos com elas, amigos.
Acho que esse tópico merece mais de um post, e vou terminar por aqui, porque senão vira livro, e ninguém lê. Mas terá continuações.
Beijo no coração. Espero que as irmãs se ajudem, mais do que se competem, ou desejem secretamente a desgraça das outras.