Nos últimos anos, tenho usado muito vídeos de viagens no YouTube para saber do destino que irei em breve.
Pesquiso desde como chegar no destino, até as dicas gastronômicas e passeios a fazer e a evitar.
Me divirto com os perrengues passados pelos youtubers e consigo ter uma boa idéia do destino, aliás até bem explícita demais.
Sabe aquela emoção de ver um aeroporto diferente pela primeira vez, com rostos que você não conhece, palavras incompreensíveis e onde sua visão é impactada por cores e formas inéditas? Então, acabou.
Claro que ver ao vivo é diferente, mas dá aquela sensação de Deja Vu. Você já viu esse aeroporto em um vlog de viagem , já viu os pratos instagrameados de um restaurante hipster de um youtuber hipster, já viu a comida de rua exaurida pelos bloggers gastronômicos. Eu sou superfã dos programas do saudoso Anthony Bourdain e do Mark Wiens, mas sabe o que é pior. A expectativa. E ela nunca corresponde à realidade. O prato que eles comeram parece muito mais maravilhoso do que realmente é.
Cadê aquele frio na barriga de não saber onde é o caminho para a cidade ? Cadê aquela sensação de descoberta única ao provar um prato barato e maravilhoso de comida de rua, se até os ambulantes agora são estrelas e famosos pelos vídeos de viagem?
Não me leve a mal. Não estou criticando os blogueiros e youtubers de viagens, até porque sou uma consumidora voraz. Acho que a qualidade de imagens e descrições são excelentes, dados os novos recursos tecnológicos onde com uma câmera bacaninha e um drone potente, se faz um vídeo de viagem a fazer inveja às emissoras tradicionais de TV.
Lembro que quando não tinha dessas de Internet e Youtube, as revistas Viagem e Turismo e agregadas me faziam sonhar com o destino. Em palavras, imaginamos mil coisas. Quando finalmente conhecemos o destino, podemos ter boas e más surpresas, encantamento e desapontamento, mas com nossos olhos.
Antes, a gente fazia uma caderneta com os pontos a visitar e ia numa jornada semi desconhecida. Pelo caminho, nos perdíamos, achávamos outro melhor, fazíamos um roteiro diferente. E a delícia de descobrir uma loja de design única? De achar um restaurantezinho charmoso e com uma comida divina? A sua descoberta, só sua?
Agora, por mais que tentamos fazer os caminhos diferentes, acabamos indo nos lugares recomendados, por segurança ou mesmo preguiça. Comemos o prato que é imperdível descrito pelo YouTuber e ainda fazemos as mesmas resenhas em nosso Instagram.
O duro é tirar esse vício: como deixar de ver esses vídeos antes de viajar? Agora na viagem do reveillon para Miami, confesso que vi todos os vídeos. Descobri como chegar em South Beach de buzão, quais os restaurantes da moda, quais baladas micadas, as melhores comprinhas. Nenhum contratempo, nenhum imprevisto.
Promessa de 2020: ir para algum destino e só procurar nas revistas antigas de viagens. Nem que as informações estejam desatualizadas, talvez mais valha atiçar a imaginação do que cortar suas asas.