Parece cretinice, e foi mesmo, mas eu fiz minha primeira viagem para Fernando de Noronha aos 44 anos, em plena pandemia e no réveillon.

Porque cretinice?

Noronha é considerada um dos destinos mais bonitos do mundo, e a Praia do Sancho sempre figura na lista das praias mais bonitas. Fica no nosso Brasil. Eu já até fui para o Tahiti com minha mãe (fiz uma resenha completa sobre a viagem neste blog) e nunca tinha ido para Noronha.

Eu tinha alguns preconceitos.

Noronha é taxado talvez de ser o lugar mais caro do Brasil, por tudo vir de barco. Boatos diziam que uma garrafinha de água na pandemia estava a 28 reais. Além disso, nos últimos anos virou a queridinha de artistas globais e mundiais, ganhando a fama duvidosa de “surubão de Noronha”.

Também é conhecida por ser um perrengue chique. Chique porque é caro, perrengue porque todas as belezas naturais não são que nem Maldivas e Tahiti, pois exige um certo esforço e condicionamento físico para alcançar as praias. Tudo é rústico e precário por lá: poucas opções de compras e transporte, e não existe uma oferta incrível de hospedagem, ficando no extremo High ou Low,  com pousadas entre as milionárias eco chic e as molambentas.

Bem, munida de uma boa dose de coragem e loucura, fechei  minha viagem de réveillon antecipada em 4 meses com um grupo que mal conhecia.

E acabou sendo uma viagem incrível. Em parte pelo grupo, em parte porque Noronha é realmente algo único no Brasil.

Abaixo, eu listo o que é mito e o que é verdade no Surub. Ops no Bonde de Noronha. Sem firulas de glamour ou ranço (sim, porque eu estava com um baita ranço de Noronha antes mesmo de ir…. hospedagem sem café da manhã, taxas caras para entrada na ilha, teste obrigatório de Covid 48 horas antes do embarque, mudanças mil nos voos, parecia que tudo estava conspirando para eu não ir a Noronha. Ainda bem que insisti. Os fortes sobrevivem e vivem!)

MITO – Noronha é um perrengue para chegar.

É nada. Quem já foi para Boipeba (2 vezes) não sabe o que é perrengue.

Perrengue eu tive porque as malditas das companhias aéreas e de viagens ficam mudando os voos sem avisar. A 123 milhas é péssima e não indico a ninguém. Por mais que a culpa fosse da Azul, foram eles quem me resolveram a parada. Para resumir, 3 mudanças de voo na ida e uma na volta. Você só sabe se vai viajar no último minuto.

Fora isso, de São Paulo é um voo de 3 horas a Recife e outro de 1 hora a Fernando de Noronha. Desembarcou, pega um taxi (ou uma van gratuita) que te leva em 5 minutos até sua pousada / hotel. Tranquilíssimo. Saí às 08 de SP e cheguei 15 hs em Noronha (contando que tem fuso horário de 1 hora a mais na ilha).

Dica de Ouro: no voo da ida, não deixe de reservar um assento no lado esquerdo do avião. Você já terá uma vista magnífica do Morro 2 irmãos ao chegar em Noronha

MITO  – E VERDADE – NORONHA É MUITO CARO

Entre aspas. Noronha é caro, mas não é tudo aquilo que nos apavoram.

Preço médio do que paguei em plena pandemia, no período mais caro do ano (réveillon)

Água (no supermercado)  3 reais a garrafinhas

REfri, Cerveja  nos bares e quiosques de praia – 10 a 20 reais cada.

Caipiroskas e coquetéis – 25 a 40 reais

Prato Executivo PF  no da Maezinha – 35 reais

Média de Pratos na maioria dos bons restaurantes da Ilha (dada, Mergulhão, Varanda, Xica da Silva ) – 95 a 120 reais . É o que se paga num bom restaurante em SP ou em Trancoso, com uma qualidade digníssima!

Transporte

Onibus – gratuito e leva a maioria dos pontos turísticos da Ilha

Aluguel de Buggy – 350 reais a diária

Taxi – geralmente de 20 a 40 reais por trecho (apesar de curtos, não é por taxímetro)

Aluguel de cadeira e guarda sol – Conceição – 50 reais o kit   Cacimba do Padre– 100 reais

Passeios – de 200 a 300 reais (200 o Volta a Ilha, 300 a Lancha, 180 a canoa Havaiana e guia até Atalaia Longa e Morro São José).

Taxas – paguei 646 reais por 10 dias de taxa de preservação ambiental de Noronha (esta taxa é por dia e vai ficando mais cara se você ficar mais tempo – acima de 10 dias cresce desproporcionalmente) e 111 reais taxa única de entrada nos parques ambientais (Sueste, Sancho) válido por 10 dias.

Hospedagem – fiquei numa pousada bem simples e sem café da manhã (Pousada do Guilherme) com limpeza a cada 2 dias. Saiu 140 por dia por pessoa em quarto quádruplo. Mas a dona nos cedeu a cozinha para fazer o café da manhã (o que nos deu uma boa economizada) e tinha tudo funcionando, desde o ar condicionado até a cama box digna, além de ser super bem localizada, bem próxima ao centro da Ilha.

Minha amiga conseguiu uma pousada em quarto duplo a 350 reais com café da manhã de última hora, mas mais longe do Centro.

Então, meu veredito – é Caro, mas não tanto. Não chega nem aos pés da milionária Tahiti e tá pau a pau com Trancoso em valores de preços de restaurantes. O que pega mesmo são os taxis (caros pela curta distancia percorrida e taxas pré marcadas) e os valores cotidianos e coisinhas, que realmente elevam Noronha a ser caro para os turistas com orçamentos apertados. Supermercado é realmente algo muito caro, principalmente para Cerveja e refrigerante. As frutas e legumes são sofríveis (estiveram lá as mesmas pelos 10 dias que fiquei na Ilha) e paguei um Gatorade absurdos 14 reais na Entrada do Sancho.

Contudo, não é absurdo. Água estava a 3 reais, paguei  caipirinha de pinga deliciosa a 15 reais e caldo de polvo incrível no quiosque da praia do Porto a 20 reais. Fiz várias comprinhas de coisas bacanas como camisetas com bom algodão, cangas charmosas em lojas descoladas. Barato não é, mas de melhor qualidade e variedade que Trancoso, por exemplo.

BELEZAS NATURAIS E PERRENGUES

Bem, é um perrengue mas não tantooooo.

Concordo que para pessoas idosas e com problemas na perna pode ser sim um problema . mas para pessoas xóvens como nós, não é nada impossível.

Para o Sancho, as escadinhas de ferro nem dão  tanto medo, mas a gente entala com as mochilas e equipamentos de snorkel. Para subir depois então, cansa que é o diabo. E como fomos em Dezembro, o mar estava bem mexido e tomamos vários caldos.

Para chegar até a icônica foto da Baia dos Porcos e 2 irmãos, tem no caminho um morro. Para chegar nas piscinas naturais, pedras pontiagudas. Nada que uma papete e uma dose de atenção para não se esborrachar nas pedras, porque daí vai machucar feio.

Para ir na piscina natural de Atalaia, uma caminhada de 30 minutos, mas nada sofrido demais.

Ok, não é que nem nas Maldivas e Tahiti que a beleza está logo a seus pés, mas dá para ir. Realmente as praias onde se chega de taxi não são nada demais (Conceição, Cacimba, Porto) e realmente para tirar aquelas fotos de tirar o folego tem que dar uma caminhada sim.

Contudo, a vista não perde em nada para as melhores praias do Caribe e da Polinésia francesa. E na praia do Porto, botei um snorkel e vi no raso vários tubarões pequenos e 2 tartarugas enormes.

E tanto no passeio de barco (que fiz à tarde) como na canoa havaiana que fiz as 08 da manhã, vi muitos golfinhos. É de emocionar mesmo. A Natureza grita e Deus existe.

Em termos de vida marinha e cor do mar, Noronha é o primeiro lugar no Brasil, sem sombra de dúvida.

E LAST BUT NOT LEAST – SURUBÃO ONDE EM NORONHA?

Isso é praga dos meus amigos casados que não pegam mais nada e daí ficam urubuzando os pobres solteiros. Quando eu falei que ia para Noronha no réveillon, ficaram me pilhando que Noronha é um surubão (fama dada a uns bacanais supostos de artistas globais ).

Lá não vi surubão nenhum. Aliás, nem paquera. Minha turma ficou tudo no zero a zero e conversando com outras mulheres, a mesma coisa. Todo mundo na sua turma sem clima de paquera (talvez pelo clima de pandemia?).

Eu certamente pago minha língua e vou voltar para Noronha. Veredito: não existe um mar com os tons de azul e verde como Noronha (e deixa San Andrés no chinela) e come-se bem lá. Deixa um rim, mas não os 2. Sobrevivemos. E a vida é uma só para não conhecer os paraísos da Terra.