Obs:

1995 – 2008 MUITO BEM APROVEITADOS

Meados de 2005. Embalos de sábado a noite. Combinamos o lugar e hora, quem vai de carro. Preparação: lanchinho para forrar estômago, banho bem tomado, começamos a nos “montar”. Massa corrida na cara para nivelar os defeitinhos, chapinha e escova, escolha do modelito. Salto alto, agulha quando quer causar, plataforma para dançar a noite inteira. Batom vermelho-quenga para ganhar confiança. Chegamos na balada umas 23 hs. Lugar parece cheio. Paulistano adora uma fila, e quando tem fila, quer dizer que o lugar ta bom. Avistamos uns moços bonitos na fila. É aqui mesmo que vamos ficar!

 

Depois de uma boa hora na fila, entramos. Comanda, começamos a “vistoriar” o lugar. Cadê os mocinhos? Mocinhos sumiram. Eu tenho uma tese que esses lugares contratam uns mocinhos para ficar na fila, e quando entram, saem pela porta dos fundos, embarcam numa van e vão para a fila de outra balada.

Sobraram os monstrinhos. Para encarar os monstrinhos, tem que beber. Embelezol. Rejuveneçol.. Envelheçol, se o mocinho tiver 20 anos. Música legal. Nossa, essa música é muito boa! New Order, Rick Asthley, Madonna. Música chata. Pausa para um descanso para os pés (essa plataforma quando provei na loja estava tão confortável, e agora me aperta os pés, mas tudo bem). Vamos comer uma coisinha. Banheiro para ver se tem coisinha nos dentes. Voltamos para balada. Saímos de lá 5 da matina. Se fosse 6, emendava um café da manhã.

Volta pra casa. Toma banho se tiver força (porque naquela época, meus queridos, não tinha lei anti fumo e a gente saía defumada), e daí o longo e doloroso processo de retirar a maquiagem e as mil camadas de rímel. Lencinho da Sephora só ficou disponível depois de 2010. Eram litros de demaquilante bifásico e muito sabão. Tem que dormir. Porque amanhã é domingo e combinamos almoço e cinema.

 

Caraio minas! Só de escrever esse flashback, já me dá uma canseira desgraçada. E não era há tanto tempo assim. Há uns 10 anos, era a minha fiel rotina de sábados. E olha, eu fui uma baladeira moderada. Tem gente que saía de terça a sábado. Tem amiga minha que ia pra balada e depois direto para o plantão médico. Como sobrevivemos a este tempo?

Pula para 2018.

Hoje, ainda vou nessas baladas. Umas 2 vezes por ano, com muito, muito muito planejamento. Porque é o niver de alguém muito próximo. E saio 3 da matina, no máximo. A lei antifumo é maravilhosa, e não saio mais defumada dos ambientes.  Inventaram sandália com meia pata para aliviar nosso sofrimento. E olha que eu ainda gosto de uma balada, de dançar, de ver gente. Mas no dia seguinte, respiro por aparelhos.

Das duas últimas vezes que fomos decididas para a balada, fomos para causar. Uber para encher a cara. Disposição para torrar 200 reais numa noite e 50 reais num drink. Ignoramos nosso amado NetFlix. No final, achamos tudo um saco, caído e fomos ser mais felizes comendo hamburguinho e outras gordurebas. Já que não terão mocinhos para acabar a noite, seremos felizes gordinhas.

Explico: fomos para uns 4 lugares. Todos, com garotada de 20 e menos anos. A mulherada com vestido enfiado na calcinha, saltos vertiginosos, saias que pareciam uma faixa de tecido e os boys todos com camiseta pp para mostrar o bíceps de academia e tennis.

Basicamente existem 2 tipos de balada: Sernanojo e Tecnojo. Não dá.

Dai tentamos outras baladas de pessoas mais velhas, mas com música legal: não dá. Ainda não. Não estamos na casa dos 70 anos. É tudo muito kitsch, muito over, quase uma piada sobre pessoas maduras que querem ir dançar.

Acabamos no Hamburguinho.

Hão de concordar comigo que há um nicho mal desenvolvido para a galera de 40 anos, que ainda quer curtir a night. Muita gente não sai por falta de opção. Eu ia muito num restaurante-balada no Brooklin Novo, mas depois que o lugar fechou ficamos órfãs.

Eu gosto da noite, de ver gente, de ouvir música alta. Então vou nos Pubs que tem pipocado por São Paulo, mas não é baladona. Barzinho também, bacana para comer, beber e conversar, mas pára por aí.

Caríssimos empreendedores da vida noturna de São Paulo, pensem em nós, pobres coitadas de 40 anos e façam uma balada decente . Senão nossas noites estarão fadadas a hamburguinhos e NetFlix. O que não é nada mal também…

 

E O PIOR DE TUDO É TER QUE SEMPRE OUVIR DOS MEUS AMIGOS CASADOS: “E AÍ, CONTINUA SÓ NA BALADA?”