Viajar não é barato. Ainda mais com o dólar hoje a 4,50 e o Euro a 5,00, viagens internacionais foram rebatizadas para viagens milionárias.
Ainda dá aquela culpa na consciência quando vamos para o mesmo lugar que já fomos 2, 3, 5 vezes. A premissa básica é sempre visitar um lugar novo, certo?
Quando eu estava nos meus 30 e poucos anos, era inimaginável ir para um mesmo lugar que já visitei, ainda mais fora do país. Imagina, gastar toda essa grana se você pode ir para um lugar novo. Tantos países e cidades novas a serem descobertos. Até mesmo dentro de sua cidade.
Hoje, com meus 40 e poucos anos, vejo que isso é balela. Primeiro, porque você é dona do seu dinheiro e gasta onde quiser. Segundo, você pode viajar para o mesmo lugar e sentir o mesmo friozinho na barriga que tem em lugares desconhecidos. Só que de forma diferente. Quando você já conhece o lugar , ou seja, já sabe como chegar do aeroporto, se movimentar de transporte público, os melhores bairros para se hospedar, vence-se a barreira dos primeiros perregues e sobra só o filet mignon para você se esbaldar.
Claro, eu adoro conhecer novos lugares e tenho como meta sempre conhecer 3 lugares novos ao ano. Geralmente eu consigo.
Mas descobri o valor das viagens sentimentais e de retorno. Nunca repetitivas.
Você começa a fazer amigos na cidade e possui mais intimidade para marcar encontros e participar das atividades deles. Você começa a se aventurar por bairros mais distantes,e descobrir alguns points maravilhosos.
Este ano, voltei a Paris. Devo ter passado por lá já umas boas vezes, e poderia ter ido para o Leste Europeu? Para a Grécia que nunca fui? Poderia. Mas este ano eu queria voltar a esta cidade que amo de paixão.
Tive 4 dias inteiros lá. Não visitei nenhum museu e nenhum palácio. Fiquei longe do Louvre. Economizei uns bons euros indo de transporte público do Aeroporto para a cidade (com uma mala com 4 rodinhas robustas, você anda 2 km de boa pela cidade até achar o seu hotel. O duro são as escadas nas estações). Em vez de pegar o metrô para tudo, andei bons quilômetros e no caminho, passei por lojinhas, restaurantes e mercados que valeram mais a pena do que o destino final.
Como passei algumas partes dos dias sozinha, se eu encontrasse um parque lindo com bancos convidativos, comprava uma baguete numa boulangerie qualquer (todas são boas!) e ficava lá por meia hora,uma hora, sem pressa, pensando na vida. Se eu encontrasse um mercado bacana, deixava de ir para aquela loja que ficava aberta até as 18 hs. Se eu quisesse pular o almoço e comprar umas coisas gostosas na Epicerie das Galeries Lafayette (nunca entrei na parte de roupas, mas eles têm uma parte de comidas que é maravilhosa! Desculpem-me os parisienses que odeiam a Lafayette) e ir para as escadas da igreja do lado do meu hotel, comer e observar o povo na hora do almoço, tava tudo certo e foi a refeição mais bacana da viagem.
Aqueles amigos que moram na cidade e me convidam para um jantar ao longo dos anos, agora tenho intimidade suficiente para aceitá-los. Para inclusive ir em festas alheias, e me divertir e conhecer gente. De passar uma noite inteira bebendo vinho e comendo, em vez de visitar 5 pontos turísticos.
Eu vou para o mesmo resort há 9 anos na Turquia. Me julguem a louca que rasga dinheiro, mas nunca fiz questão de passear de balão na Capadócia. Vou porque encontro uma turma que como eu, vai pra lá há 9 anos também. Eles moram em Londres, Istambul, Montreal e Paris e demais cidades da França, mas quando encontro com eles, parece que somos vizinhos no mesmo prédio. Com direito a muitas fofocas. Rimos das mesmas piadas e das mesmas histórias há 9 anos. Eles se contentam com minha caipirinha mal feita.
Eu vou para este resort também para relembrar algumas temporadas que foram inesquecíveis. Para relembrar de um caso que marcou, mas que outro veio para melhorar ainda mais a afeição por este lugar.
Eu vou para este lugar porque já tenho tanta intimidade com ele, que me dou a liberdade de fazer coisas que não faço onde moro. Como por exemplo, juntar uma galera no último dia, depois da última festa e entrar no mar de roupa e tudo e ficar até 09 da manhã acordados, sendo que seu voo de retorno é às 15 hs e você ainda não fez sua mala. E eu sou do tipo que faz a mala 3 dias antes e chego no lugar com 3 horas de antecedência.
Em uma viagem que você já conhece o lugar, e você não precisa tickar os pontos turísticos obrigatórios, nem se preocupar com os cuidados básicos como transporte e onde ficar, sobra tempo para você pensar na sua vida e como algumas coisas lá podem mudar a sua forma de pensar. E te reafirmar como pessoa. Eu já me toquei que sou a louca do ar condicionado mesmo, e quando finalmente encontrei um hotel em Paris barato e bom, com ar, quase chorei. E que apesar de ser um país caríssimo, a Suíça vale cada centavo milionário, com os horários exatos de chegada a cada estação de Tram. E sim, sou a control freak, sou a que adoro tudo no horário. Me julguem e me aceitem.
E que, apesar da má fama, os parisienses são sim prestativos e muito mais bondosos com o próximo, do que nós, brasileiros, o chamado povo “caloroso”, julgamos. Seja na forma de realmente se importar de se encontrar com você, de desconhecidos pegarem na sua mão para lhe dirigirem ao lugar correto, de ir atrás de você quando seu bilhete de vôo caiu no chão e você não viu. E depois de falar umas poucas palavrinhas francesas, num sotaque bizarro brasileiro , as portas se abrem para você.
Viajem, e se puderem, criem raízes com seus lugares preferidos, meus amigos. Uma noite de vinho com amigos de fora valem muito mais para sua vida do que 20 pontos turísticos que são mais bonitos no Trip Advisor.
“Como passei algumas partes dos dias sozinha, se eu encontrasse um parque lindo com bancos convidativos, comprava uma baguete numa boulangerie qualquer (todas são boas!) e ficava lá por meia hora,uma hora, sem pressa, pensando na vida.”
Amei isso Mona! Tão inspirador!
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Mono, meta para os proximos anos: muitas boulangeries e muitos pães com ovos em lugares inéditos!!!
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