Eu costumava dizer que eu me considerava uma Feminista não chata. Não chata significa aquela que é a favor dos direitos da mulher, porém que levanta a voz somente nos momentos que julga necessários e pondera quando vai criticar uma ação publicitária considerada machista.

A gente muda muito aos 40, viu? Já vou avisando a moçada.

Eu reavaliei minha postura e hoje eu tento mudar minha militância de “em cima do muro” para algo mais pró ativo.

A gente costumava dizer que não queria ser feminista chata. Que era rotulada de mulher que odeia os homens (e consequentemente “sapata”), que criticava qualquer ação subliminar machista, que não esperava o outro acabar de responder para já aos berros gritar : machista!!!

Essa é uma figura que criamos (digo os homens e também as mulheres) para rotular uma feminista militante de chata e sem noção.

Acho que o mundo precisa disso. Acho que só sendo 100% , nossas atitudes vão mudar.

Dia desses, eu  fui voluntária de uma sessão da Inspiring Girls, uma ONG cujo objetivo é inspirar garotas de 10 a 15 anos a ingressar em carreiras rotuladas como masculinas, como tecnologia e empreendorismo.

Em dado momento, a palestrante, brilhante, que sim, sofreu discriminações em sua carreira por ser mulher,  nos chamou a atenção para o fato que mulheres se boicotam e se anulam. Uma das meninas da plateia disse que era normal, visto que muitas mulheres odeiam trabalhar com mulheres e eu concordei, pois já ouvi isso de muitas amigas. Então a palestrante num ímpeto forte (e magnífico) impôs numa voz potente:

– “Não! Isso são fatos isolados e vocês tomam como verdade! E essa atitude de concordar e continuar boicotando a nós mesmas! Se vocês querem igualdade, sejam as primeiras a falar em voz alta! Se uma mulher falar isso, você a questiona imediatamente! O que ela irá responder é que sofreu 1 ou outra vez essa situação, e quantas vezes foi discriminada num ambiente masculino que ela perdoa ou acha normal? O fato é que a gente perdoa os homens, mas não as mulheres.”

A plateia se tocou. Eu me toquei. Veio um silêncio sepulcral e depois uma ovação. Maravilhoso.

Depois disso, juro para você, nos meses seguidos ouvi de 3 a 4 mulheres dizendo que odeiam trabalhar com mulheres. Daí eu as questionei . Esse preconceito se fundamenta em um caso ou outro isolado, e não um conjunto de experiências. Ou seja, a própria mulher tem um preconceito enraizado e torna uma experiência solitária como a verdade absoluta.

Eu li bastante sobre o movimento “me too” principalmente depois do escândalo do poderoso produtor Harvey Weinstein, que graças as inúmeras denúncias, foi afastado de sua produtora e hoje é considerado um exemplo de decadência e vergonha.

Eu aplaudo de pé as mulheres que iniciaram esse movimento e foram as primeiras a expor os ínumeros assédios sofridos.

No começo, eu torci o nariz para Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e outras famosas que mais tarde, vieram a público para expor também o que sofreram nas mãos de Weinstein. Paltrow inclusive anos após o assédio sofrido, fez vários filmes sob a produção dele e ainda o agradeceu em seu discurso no Oscar. “Bando de falsianes, pensei eu”.

Hoje, já acho que qualquer ajuda ou posicionamento, mesmo que tardio, mesmo que falso, mesmo que contradiz as ações do passado, são válidas.

Weinstein só está afastado de sua produtora porque depois das primeiras acusações, vieram outras inúmeras. Inclusive de atrizes poderosas.

A gente só vai conseguir ter igualdade no ambiente de trabalho se mais mulheres ocuparem cargos importantes e de poder. Enquanto concordamos com nossas colegas que “é horrível trabalhar com mulher”, nada vai mudar.

Por isso, caros e caras, acho digno sim quem veste a carapuça de chata e enfrenta a amiga que é “levemente” machista. Acho digno as chatas que criam memes contra campanhas xenofóbicas e machistas, que expõe youtubers que não tem cuidado com expressões e situações contra a mulher e raças minoritárias.

Acho importante sim tirar do nosso vocabulário palavras racistas que hoje são usadas inocentemente porque foram incorporadas como criado mudo e “denigrem”. Eu tenho amigos negros e eles sim se sentem incomodados com essa banalização do português.

Tem muita gente que criticam todo esse movimento rotulando-o de mimimi.  Então que vão para Marte, e sejam retrógrados lá. Aqui no planeta Terra, é o ínicio de uma nova era. Eu creio na melhora da humanidade.

Sejamos chatas! A vida é uma só para sermos beige ou em cima do muro.