mom

Caras mulheres,

Pensei muito antes de escrever este texto. Me parecia enganoso e pretensioso escrever sobre algo que não e nunca me pertenceu: o instinto materno. Quem me conhece sabe que nunca quis e não pretendo ser mãe, e por isso me desinteressa todos os assuntos ligados à maternidade: de livros até viagens.

Contudo, sou amiga de muitas mulheres afortunadas que são mães maravilhosas, com suas dores e delícias. Sou também mulher, o que me dá uma certa propriedade de fraternidade às irmãs postiças.

E acima de tudo, sou filha. Sou filha de uma mulher maravilhosa, a Dona Maria, para quem conhece, e que provavelmente nunca  lerá este texto porque sim, ela é avessa a Internet e nunca terá perfil nas redes sociais.

Percebi que a melhor forma de homenagear as mães do meu jeito, ainda que tosco e sem grandes propriedades intelectuais, é falar da minha.

Minha mãe. Me lembro de como ela era o meu maior amor da vida, quando era pequena, e como ela se realizou tendo uma filha mulher. Lacinhos (ainda que assassinos de cabelo) na cabeça, vestidos de manga bufante e rosas (sempre o maledeto rosa), e um carinho inexplicável que ninguém que não é mãe de uma menina pode dizer.

Ah sim, amor de mãe com filho também é igualmente divino, talvez até com experiências melhores. Mas existe uma cumplicidade ímpar na relação de mãe com filha que nem o universo consegue explicar. A tua mãe é por vezes a irmã mais velha que vai te ensinar o caminho sem concorrer com você. A mãe de uma menina é aquela que projeta os sonhos não realizados, a esperança de encontrar alguém bacana (igual ou diferente do pai dela), e parte dela numa vida nova.

Na minha infância, não há nada mais terno na minha vida (e nunca terei igual, posso falar COM TODA A CERTEZA) do amor que recebi da minha mãe. Apesar de ter 2 irmãos mais velhos e um pai que apesar de maravilhoso sempre deixou os cuidados com ela 100%), ela foi a leoa da família. Às vezes até demais: não deixava ninguém entrar na cozinha, que era o território dela.

Nunca, jamais vou me esquecer das comemorações acerca de meu boletim repleto de notas altas, de me abraçar quando acabava de tomar um banho e colocar um pijama (obviamente rosa) e de ficar horas de mãozinhas dadas com ela.

Houve épocas difíceis? Sim, principalmente na adolescência. Houve erros meus como filha? Muitos, terríveis provavelmente. Houve erros dela? Sim, e não foram poucos. Mas, se a gente erra com a gente mesmo o tempo inteiro, porque não iremos perdoar os eventuais erros de quem dedicou a vida para nós? A nossa mãe é uma deusa, e humana, com todos seus erros.

Existe uma coisa que realmente eu admito, não podemos tirar de nenhuma mãe (desde que claro,  ela seja mãe e não apenas procriadora): é a generosidade imensa, descomunal, impossível de ser comparada e alcançada.

Eu não sou assim e provavelmente nunca serei, dormirei com essa culpa e tentarei ser uma pessoa melhor para o mundo de outras formas.

Mas a mãe que é mãe, ela doa uma grande parte de si para os filhos. O termo é ruim de engolir, mas é verdadeiro: ela anula inclusive parte dela para os filhos. Talvez anular é ruim demais, mas certamente transferir é necessário.

Você transfere suas alegrias de viagens com suas amigas, comendo no restaurante que quer, a hora que quer, com o bofe que quer, por viagens onde a maior alegria é ver seu filho feliz. Ela transfere as noites boas de sono por insônias infernais com o filho doente, com o cuidado extremo, com o medo dele estar na rua e você em casa.

Eu penso hoje nos meus 40 e poucos anos (coisa que não fiz aos 20 e aos 30) em quanto a minha mãe se doou para mim. No cuidado da casa, nas refeições preparadas para que eu pudesse ter um cardápio regrado, na escola particular, nas férias de família que o alvo da diversão era eu e não eles, nas noites perdidas de sono me esperando chegar das baladas e eu puta porque ela me passava sermão e não ia dormir e cuidar da vida dela.

Porque a minha vida é a vida dela. E se alguma coisa acontecesse comigo, ela nunca iria se recuperar.

Essa época eu vivi com despeito à minha mãe e minha avó, e me arrependo. Tinha horror a rosa. Só vestia preto. O meu universo eram meus amigos, pessoal do primeiro trampo, universidade.

Felismente, a vida me deu a oportunidade de voltar em lua de mel com minha mãe. Sei que muitos não tiveram essa oportunidade.  Depois dos 30, e de finalmente ter vergonha na cara de me mudar para morar sozinha, nossa relação virou lua de mel para sempre. É maravilhoso ter seu próprio lar e saber que quando quiser, eu tenho um quartinho lá me esperando, com comidinhas e partidas de baralho.

Como meu pai é chatinho e odeia viajar( mas eu amo tanto ele que até dói) , viramos companheiras de viagens incríveis: navios e mais navios (nos julguem, mas a minha mãe é a louca do navio e quando essa pandemia acabar, vai ser a primeira a reservar a cabine mais top no próximo cruzeiro em águas brasileiras), praias e mais praias, aniversários no Central Park em Nova York (nos julguem, mas era o sonho dela), e ahhhhh….o Taiti! Era o sonho da vida dela ir. Como meu pai de jeito nenhum iria encarar 20 horas de vôo, eu fui como Mr. Nishi e ela como Ms. Nishi. Lógico. E mil vezes mais maravilhoso dormir do ladinho dela, sentir o mesmo cheirinho que ela tem quando eu era menininha, do que um bofe, ainda que magia. Apesar dela não ser discreta na hora de comentar o quanto eu ronco.

Minha mãe é a donzela que eu nunca serei. A mais linda, a mais magra, a mais princesa. Eu tenho inveja e maior orgulho ao mesmo tempo de todo mundo a admirar. E ela é linda mesmo.

Nunca haverá um amor maior do que o dela para mim. Olha só, eu que sou a fortaleza insensível, fiz esse textinho e comecei a ficar com água nos olhos. E olha só, voltei a usar roupas rosas (mas poucas).

E ainda me perguntam se creio na Humanidade. Lógico que acredito. Porque todos nós viemos de mães, os seres celestiais máximos da Terra.

Te amo mãe. Para a eternidade.