
Na última semana, fui dar uma caminhada nos arredores do meu bairro, e fiquei triste com a quantidade de restaurantes que fecharam as portas para sempre, não só depois da pandemia.
Fechou também um restaurante secular no Itaim, de comida natural com bom preço e que estava há décadas. Como trabalhavam em sistema de buffet, difícil permanecer mesmo após o afrouxamento de isolamento.
Gostaria de aqui prestar minha homenagem aos restaurantes.
Para mim, é muito mais do que um lugar onde você é alimentado e servido.
O restaurante nos oferece um lugar onde você tem experiências, tanto gastronômicas como de laços de amizade.
Claro, não vamos falar daquele Quilo corriqueiro que você pesa seu prato e sai em 10 minutos. Mas poderia até ser.
Estou falando daqueles restaurantes que, independente do preço, possuem alma. Promovem rituais, lembranças, descobertas, laços familiares.
Eu amo comer. E amo comer bem. Quando digo que comer bem , não faz jus a valor e raça. Para mim a comida une o ser humano.
Eu já falei em outras crônicas do filme “A Festa de Babette”,que inclusive ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro em 1987. Uma boa refeição faz o impossível. Uma boa refeição é um carinho universal.
Aqui em São Paulo temos o privilégio de nos conectar com outros países sem nunca tendo ido visita-los. Eu fui há pouco tempo antes da pandemia num restaurante africano maravilhoso, cujo dono refugiado, falava um português meia boca mas servia uma comida com temperos que nunca tinha sentido na vida. Também ia uma vez por semana num restaurante mexicano, cuja dona, uma autêntica Mexicana de Acapulco, nos contava como distinguir os Mexicanos raízes dos Mexicanos Fake Nutella.
E tem os restaurantes que sempre nos remetem a memórias afetivas. Tem um Lamem Arrumadinho na Vila Madalena onde tive os primeiros encontros de meus últimos crushes e namorados. Tem o restaurante de uma amiga coreana que além da comida maravilha, tem um sofá aconchegante que está sempre disponível para nosso grupo inseparável de amigas.
Tem aquele restaurante italiano que fechou no Brooklin mas que eu ia pontualmente todo sábado com minha família dos 10 aos 20 anos de idade…até ele fechar… não esqueço dos garçons, dos donos, dos pratos e de como meu pai pedia sempre o mesmo spaguetti amatriciana…
Tem restaurante que é mesmo para ostentar, e porque não? O Fasano é para quem venceu na vida. Fui uma vez só, para comemorar um grande negócio que fechamos.
E tem o Vaz Gomes, um restaurante das antigas, quase um boteco, que serve o melhor PF e o melhor vinagrete do Brasil, em Diadema, onde ia com minha família antes de ir passar o final de semana no Guarujá e onde fiz inúmeras reuniões do lado onde trabalhava.
Às vezes o tipo de restaurante que você escolhe reflete um ritual de mudança de vida, de maturidade. Aos 20 eu gostava mesmo era do SPOT na Paulista porque ia ver os garçons magia universitários e pratos que na época não eram milionários. Mas ia na tia do hot dog da madrugada pós balada (o X-morte mas de nome só, porque jamais tive um piriri com os maravilhosos hot dogs salvadores).
Aos 30, eu tinha horror a MacDonalds (comia, mas escondida e no desespero) e me considerava a super adulta resolvida só indo em restaurantes de origem e diferentões, com toda a porra de “produtores locais e ingredientes orgânicos”.
E aos 40 eu abracei todos: dos diferentões ao MacDonalds (mas só 2 vezes por mês) porque sim, gosto de tudo. Até pedra eu encaro se tiver um temperinho.
Acho que o mundo está sentindo falta de voltar a uma mesa de restaurante e ter suas experiências. Na França, em Lyon, os bouchons (restaurantes familiares e casuais) são uma instituição da cidade, e os Biergartens na Áustria e Alemanha são muito mais do que apenas um lugar para encher a cara de cerveja (das boas). Me lembro em 2008 que eu estava em minha primeira viagem internacional sozinha, e em Berlim, tendo os primeiros sintomas de solidão, me enfiei num Biergarten que foi só alegria.
Conheci muitos melhores amigos numa mesa de restaurante. Fiz e desfiz muitos amores também. Os almoços de família sempre são memoráveis , até num restaurante de rede como o Outback que meu pai e meus sobrinhos adoram (e minha mãe odeia).
Espero ansiosamente por um retorno seguro à normalidade. Que os restaurantes possam sobreviver a esse período de tormenta e voltem a nos receber de portas abertas.