Esta semana quase caí de costas com um anúncio de uma amiga minha: aos 44 anos e com uma carreira invejável nas costas, ela vai se dar um ano sabático para cuidar em tempo integral dos filhos, da família e dela mesma.
Não deveria ser um espanto para nós, mas a verdade é que realmente nos surpreendemos. Esforçada desde o início, soube fazer uma carreira brilhante com seu desempenho e inteligência, e é um exemplo de sucesso em nosso grupo.
Mais do que merecidíssimo, o sabático veio em boa hora: com a pandemia, ela se viu sobrecarregada para cuidar de seus filhos e administrar 2 casas, e com o tempo forçado em casa ela começou a descobrir um gosto por atividades domésticas que nunca teve tempo para fazer. O pior ,ela disse, era que temia contar para sua mãe , que sempre a ensinou a nunca desistir.
E porque em pleno 2020, onde o ócio criativo é celebrado e as expressões como burnout ganharam peso, ainda nos espantamos e ainda temos medo de contar para nossos pais que vamos fazer um mais do que merecido sabático?
Tem a ver muito com o que finalmente descobri com minha própria relação com meu pai: A gente vive uma vida tentando agradar e atender as expectativas deles.
Não se trata daquele viés cruel de melodrama. Pura e Simplesmente, a gente quer agradar nossos pais, a gente quer que eles sintam orgulho de nós e todo seu esforço de criação seja recompensado agora. Principalmente numa idade onde (toc, toc, toc) cada ano que eles podem estar conosco é uma celebração.
Semana passada eu estava numa discussão chata com meu pai, porque ele faz um confinamento “seletivo” para se proteger na pandemia. Para ir no restaurante 3 vezes na semana, para cortar e pintar o cabelo, para dar aquela saidinha na padaria, para deixar a empregada vir todos os dias, pode.
Mas viajar eu, minha mãe e ele para uma casa de praia, onde ficaremos sozinhos, não pode. É perigoso.
Daí eu disse que iria viajar nos meus 44 anos , nem que fosse sozinha. Ou seja, o ideal, já que faria isolamento. Ele surtou! Disse que tinha que esperar a vacina, que é perigoso, que inclusive há mais perigo na rua além de Covid-19, etc.
Não que ele esteja errado.
Mas de novo, é escolha seletiva. Se não puder fazer 100%, faça 80% e escolha seus riscos.
Tava tudo pacífico até a gente entrar numa nova discussão sobre ter ou não encontrinhos de amigos, crushes, namorados. Daí é minha seleção, eu prefiro não me expor justamente porque acredito que vem das saidinhas de amigos e crushes a maior contaminação, pelo tempo prolongado de exposição.
Daí meu pai concordou com os encontrinhos, e ainda emendou que enquanto a vida passa, você deixa de encontrar um possível namorado marido.
Bem, daí virou um bate boca sem fim. Dos infernos.
Só minha mãe para apartar os ânimos com o chamado para comermos uma pizza.
Quando fui embora para minha casa, fiquei minhocando sobre o assunto. Porque diachos eu entrava numa discussão inútil, sabendo que meu pai jamais aceitou meu espírito solitário e aventureiro?
Porque eu tinha que insistir em discutir e tentar mostrar meu ponto de vista, se ele nunca concordou que eu viajasse sozinha, que eu vivesse a vida bem sem ninguém do lado, que eu preferisse gastar em viagens do que em idas ao cabelereiro e guarda roupa para me emperequetar?
E daí, no conforto de minha casa e com uma caneca recheada de chantilly e Bailey´s, eu tive a luz: Eu não tinha que tentar conquistar a todo modo que meu pai aceitasse meu ponto de vista e meu modo de vida. Simples assim. Porque ele escolheu o dele. Ele sim, bancou deserdar sua vida de solteiro viajante para constituir família com honra e 3 filhos. E bancou e sustentou sua decisão com louvor.
Eu sempre fui a filha que tirava as melhores notas para deixar meus pais orgulhosos, e ver o sorriso deles por eu ser a filha deles me enchia de amor.
Mas tenho que aceitar para nosso próprio bem que às vezes, não dá para mostrar a nossa vida como um boletim de escola, e sim, a felicidade deles não é exatamente a minha.
Isso não quer dizer que eu tenha que mudar meu estilo de vida para agradá-los finalmente: a minha vida é uma só, é preciosa e só eu dependo dela.
Então, quanto mais cedo eu aceitar isso, menos discussões chatas e aborrecedoras eu terei.
Mas dessa vez, pelo menos ele ficou quieto em relação a minhas viagens sozinha!