
Parece (e é) um pouco melodramático da minha parte, mas toda vez que eu completo mais um ano de vida, me dá aquela sensação de finitude.
Outro dia estava no hospital fazendo exames de rotina e aquela fadada pulseirinha de paciente com nome completo e idade. Na minha: 43 anos e 11 meses. Últimos dias com 43 aninhos… daqui pra frente, é 44. Ano que vem, já estarei mais perto dos 50 do que dos 40!
Uma coisa que aprendi que aos 40, as mudanças são realmente grandes. Claro que para quem teve filho ou acontecimentos precoces, a coisa é outra. Mas a grosso modo, a partir dos 40 o bicho pega. Você envelhece na real. Seus pais se aproximam do fim da vida. A morte vem para alguém próximo de você, implacável.
Mais do que o medo de envelhecer, é o da morte e o da perda. A finitude das coisas vem, é certo.
São os nossos pais que estão ficando velhinhos, e graças a Deus ainda tenho os meus vivos. Mas a gente sabe que hoje não é como antes. Nossos pais não são eternos e agora, somos nós os protetores e não os protegidos. Já andam bem devagar, os tombos vem do nada, quedas pavorosas. Cada final de semana com eles é um milagre a ser apreciado e sorvido.
São os nossos amigos e irmãos, que estão ficando de cabelo branco, rugas aparentes, perda do viço e sim, nos espelhamos – estamos ficando velhos.
Pelo menos é bom envelhecer com amigos: rimos da nossa própria velhice, do nosso corpo cansado, da impaciência para rolês longos.
Contudo, percebo que as memórias e dia a dia dos meus trinta e poucos anos vão ficando cada vez mais distantes. A rotina é outra, os amigos também, os interesses então…
Tive a magnífica sorte de puxar o lado da minha mãe e ter cabelos brancos tardios. Meu pai já era grisalho aos 30. Minha mãe começou a tingir seus cabelos com 75 anos. Eu, com meus 44, tive o meu terceiro cabelo branco. To no meio. Nunca os arranco (como diz minha mãe, se arrancar um, nasce 3 no lugar. Acreditemos!)
Eu tenho problemas em aceitar a finitude e apreciar sua beleza melancólica . Me entristece chegar ao fim de uma viagem (ansiosa do jeito que sou, já no meio bate aquela deprê). Me entristece saber que meus pais estão ficando bem velhinhos e bem, dificilmente passarão de duas ou três décadas conosco.
Me entristece enormemente que meu sobrinho mais novo em breve completará 13 anos e assim teremos o fim de um ciclo, de crianças na família. Sem mais brincadeiras, bichinhos de pelúcia que falam e jogos de tabuleiro.
Me entristece ver que 2020 está chegando ao fim, e ainda não pudemos abraçar nossos entes queridos, fazer viagens, planos mirabolantes, abertura de negócios, e que ficamos confinados a maior parte do tempo (isso porque somos os afortunados que sim, puderam ficar em casa enquanto tantos outros tiveram que se arriscar às ruas para sobreviver e garantir o seu).
Superar a gente sempre supera. Somos resilientes. Tudo passa.
Mas como passar por esse rito de passagem com mais suavidade e alegria? Em vez da perda, celebrar nova fase como um Reveillón, onde tudo pode ser novo e melhor? Preciso urgentemente focar meu mindset para isso. Será cada vez mais frequente e as mudanças cada vez mais profundas.
É, amigas e amigos, os novos 40 mudou em muita coisa. Mas a medicina ainda não descobriu como prolongar a vida para 150 anos. Adoraria. Por enquanto, só resolveu disfunção erétil e pílula para crescer cabelo e unha. O tempo é implacável e daqui a pouco chegamos na metade de nossas vidas, se tivermos a sorte de chegar aos 100.
Por isso, quem muda somos nós.
Que eu, e vocês quarentones como eu, possamos ter luz e sabedoria para sorver com gratidão e amor tudo o que vamos passar para trás . Para sempre.