Este mês fiquei estarrecida com tanta notícia de violência.
A primeira foi da morte por espancamento do menino Henry Borel de apenas 4 anos, tendo como principal suspeito o então namorado (o vereador Jairinho) da mãe dele, Monique Medeiros. O menino já apresentava sinais de violência e abuso há meses, e ignorados tanto pela avó como mãe do menino. Ela só mudou a versão do ocorrido quando a perícia se recusou a aceitar a primeira versão do casal de morte acidental, já que o menino apresentava machucados coerentes com espancamentos e não tombo acidental.
Outra notícia: 3 mulheres foram atropeladas propositalmente por um noivo em fúria que estava espancando sua mulher (grávida)de apenas 19 anos. Essas mulheres corajosas arriscaram a vida para tentar ajudar a mocinha. Num dado ataque de ciúmes, o noivo começou a bater com força nela e a puxou para dentro do carro. As mulheres tentaram impedir. O noivo engatou o carro com tudo e atropelou as 3, prensando uma contra uma parede e fugindo logo em seguida. A menina conseguiu escapar durante o trajeto e enquanto o noivo permanece foragido, a mesma contou uma história na polícia que não entende a reação do parceiro, que sempre foi amável e nunca demonstrou sinais de violência.
Mentira. Os vizinhos do casal disseram ter presenciado diversas brigas nos dias que antecederam a fuga e o atropelamento. Boa figura o noivo não é: já tem passagem pela polícia por tráfego de drogas e assalto.
Sei que é difícil julgar sem estar na pele delas. Todas podem cair na mão de um abusador , inclusive eu e você.
Será mesmo?
Sei que não é uma questão de inteligência ou classe social. Infelismente tenho conhecidas inteligentíssimas e bem sucedidas que passaram maus bocados com exes abusadores (físico e mentalmente).
Mas anular qualquer responsabilidade das mulheres perante a violência que sofrem ou pior, que são estendidos a seus filhos ou parentes, é demais e esconde um problema maior de nossa sociedade.
Com isso, não estou dizendo “bem feito” ou que elas procuraram pelo destino. De jeito nenhum.
Ninguém entra numa relação para ser espancada, humilhada, coagida.
Tem gente que foge de um lar pior ainda. Tem gente que está num momento fragilizado, passando por apertos financeiros ou de saúde. Ou tem gente que está por carência afetiva e apaixonada mesmo.
Esses caras tem um que de mel, por isso fazem o que fazem. São encantadores, prestativos, amáveis e apaixonados. Muitos têm boa família, alguns cujos irmãos e pais colocariam a mão no fogo por eles.
E quando eles mudam a atitude não é do dia para a noite. Vai gradualmente, tão natural quando o amadurecimento de um relacionamento.
Agora, quando se vê o seu querido atropelando mulheres que tentam te ajudar (e foi para tentar matar) , quando seu namorado de alguns meses começa a maltratar seu filho e continuar conivente, rotular a mulher de pobre coitada que não teve escolha e foi acudida pela sociedade é emoldurar a mulher como uma princesa intocável da Disney (das antigas).
Quando eu vejo a nova defesa da tal Monique Medeiros se fazendo de princesa inocente e manipulada, eu tenho nojo e vergonha alheia pelas mulheres que ela talvez represente. Talvez ela tenha sido uma boa mãe até se envolver com esse tal Jairinho. Mas jogar a culpa totalmente nele pelo que aconteceu é muita cara de pau.
Digo: eu sou feminista pra caralho. Contudo, não jogo a culpa de nossas inferioridades, violência sofrida e injustiças só nos homens. Se não assumirmos as nossas responsabilidades, é fácil demais jogar a culpa nos homens. Lembremos: como disse no texto a Dura década de falta de homens” neste blog, tem muito mais mulher no mundo do que homem. Não é possível que a culpa sejam só deles.
Ainda temos um longo caminho para percorrer mulherada. Ainda bem que demos o passo inicial. Hoje já se fala em Lei Maria da Penha, em denunciar abusador nas redes sociais e no empoderamento feminino. Mas na prática o que acontece é o que acontecia com as gerações no passado.
Digo pelo meu entorno. O que acontece quando uma amiga nossa que sofreu horrores na mão de um ex (não exatamente físico, mas traição, desprezo, esquecimento)? A gente diz para ela voltar. A gente diz para ela relevar. Para dar mais uma chance. Porque temos medo de sermos julgadas como “tias azarentas”. Porque a gente acha que não tem homem na praça e não queremos ver nossa amiga solteira como nós. E geralmente quando falamos a verdade somos tachadas de invejosas e ainda a amiga se afasta de nós.
Outra coisa: ainda impera o ditado que briga de casal não se mete. Porque o desfecho é esse aí: ser atropelada e ter problemas físicos para o resto da vida, sem nem ter o reconheci mento da vítima que você tentou ajudar.
Por isso repito: essas mulheres não podem ser consideradas apenas vítimas. Essa jovem grávida deveria agradecer essas 3 mulheres para o resto da vida, enaltece-las em suas redes sociais em vez de postar fotinho de pose.
Temos que tomar as rédeas de nossa s vidas. O que se passa conosco é responsabilidade nossa. Eu lembro que sempre tive uma educação rígida e uma criação para ser mãe de família, mas ao mesmo tempo meu pai sempre disse: “Você é responsável pela sua vida e suas decisões. Não culpe ninguém”. E é sobre isso. Eu decidi não ser mãe porque nunca me identifiquei como tal e serei uma alma livre. Meus pais se frustram porque queriam uma netinha, mas a vida continua como sempre foi . Eles traçaram a trajetória deles e eu a minha.
Todas nós podemos culpar alguém pelas escolhas erradas. Pela sociedade que nos coagiu. Pela criação de nossos pais. Por morar numa comunidade violenta. Por estar passando por problemas mentais, físicos. Pela dica das amigas. Por um príncipe que virou o vilão.
A hora que realmente todas as mulheres se darem conta que são responsáveis pela sua vida e que homem (ou mulher) nenhum lhe dá um tapa na cara sem sua permissão, e quando todas nós sermos valentes o suficiente que nem essas 3 corajosas mulheres que não permitiriam uma jovem ser espancada, daí sim seremos livres e justas.