Esses últimos dias eu fiquei bem quarentona reflexiva. Soube da morte repentina de duas pessoas. Não eram tão próximas a mim, mas realmente as conhecia.

Uma delas, era uma moça de 33 anos que morreu de COVID. Se cuidou a pandemia inteira, mas infelizmente pegou o maldito vírus há 3 semanas atrás. Em 2 semanas ela foi internada, entubada e morreu  há 2 dias atrás . Sem comorbidades, moça jovem, magra, saudável e linda.

Daí eu paro. Morro de medo de morrer.

De verdade, não tenho muito medo de envelhecer, de ficar sozinha (tá , um pouco, mas nada que me tire o sono).

Mas morrer de repente, me dá uma paranóia desgraçada.

Já tive momentos de quase morte na minha vida e não foi apenas um:  aos 3 anos de idade quase morri afogada na piscina de casa, aos 25 quase esmagada na escada da boate, aos 30 um carro que quase veio em nossa direção em alta velocidade, há 2 anos atrás um assalto violento a 2 quarteirões de minha casa.

E isso fora os momentos que a gente não percebe direito: um motoqueiro imprudente, uma quadrilha de assaltantes nervosa, uma pane de avião, uma dormida no volante por 2 segundos de um motorista cansado numa longa viagem de ônibus…

A gente vive tão no modo inércia e mecânico no dia a dia que esquecemos do principal.

Estar vivo é um milagre. De verdade.

Talvez sejamos só nós no Universo Inteiro.  Talvez não haja vida após a morte, só o limbo. Talvez seja só essa vida, para você, para mim, para sua família.

E daí eu me pergunto porque estou fazendo a mesma coisa todos os dias. Às vezes engulo a comida sem sentir aroma ou saborear, não vejo o por do sol, me perco em horários de trabalho sem conhecer um restaurante novo no almoço, ou viajar para algum lugar que nunca fui no final de semana (e mesmo com pandemia pode ser feito com segurança, se for só eu mesma).

Eu sou uma pessoa que busco a acomodação e a segurança, não gosto de me sentir perdida ou com medo. E depois de semanas a fio assim, me mata saber que estou no piloto automático .

Outra coisa: porque ainda me policio, perco tanto tempo, fico minhocando sobre coisas que não vão mudar minha vida, e só me fazem perder tempo e ganhar linhas de expressão no rosto?  A gente fica na bad por um probleminha financeiro, jurídico, se o carro está com problema de novo e isso emperra a gente. Deveria ser nada diante do milagre que é estar vivo. Eu ainda perco muito tempo com coisas que não deveria me perder em um segundo.

Eu tenho que seguir os passos de meu amigo que diz: às vezes eu tenho depressão. Às vezes eu fico triste. Mas passa em 2 segundos.

Os animais são assim. Memória curta. Sem remorsos, sem tempo para ficarem de mal conosco. Eles têm  1/5 da nossa expectativa de vida. Então se dedicam a amar o dono incondicionalmente. Podem ficar bravinhos que você abandonou eles por um final de semana, mas a birra, como diz meu sábio amigo, dura 2 segundos.  Eles se renovam. Podem ser maltratados da pior forma, mas renascem a um novo dono.

Quando eu tinha trinta e poucos anos, eu queria era tickar o maior número de coisas e feitos possíveis para quando chegasse no céu , me orgulharia de uma vida bem vivida.

Visitar todos os continentes. Ter 3 imóveis no meu nome limpo. Falar 5 idiomas. Aprender a tocar violão maravilhosamente bem. Casar.

Hoje, com quarenta (e tantos), eu vejo que não está na quantidade. Tem  gente que viaja todo mês mas não está presente. O lazer virou um job, virou uma obrigação por se exaltar. Postagem diferenciada e invejada no Instagram.

Eu tinha uma listinha de todo ano viajar para pelo menos 3 lugares diferentes que nunca fui. Talvez este ano seja a primeira vez que não faça isso. Mas fiz várias viagens com minha família, meus pais e meus sobrinhos ainda crianças, para resorts que já sei decor e salteado, e momentos que ficarão para a eternidade, até eu virar estrela.

Talvez eu não me case. Talvez eu não conheça os 5 continentes .  Está tudo bem.

O que a partida repentina das pessoas queridas nos mostram é que amanhã pode ser o nosso último dia.

E daí nos mostra que você deve viver a vida como um milagre. E isso não quer dizer que você tem que fazer todos os feitos em um mês. Mas que você viva de acordo com sua felicidade e bem estar.  Apreciemos o milagre de estarmos vivos. E dai a pergunta difícil : o que te faz feliz e realizada?

Agora a pergunta derradeira: e se tudo acabar hoje? Vou ficar triste. Queria ter tido um amor verdadeiro e correspondido, gostaria de ter ido a mais lugares, e tido mais experiências. Mas tenho um coração cheio de memórias eternas e momentos inesquecíveis.  Se um dia eu chegar no ceu, espero reecontrar pelo menos umas 30 pessoas que foram inesquecíveis para mim, e ter um álbum cheio de momentos ora grandiosos, ora ordinários, mas que me fizeram como pessoa e como um ser que habitou e interagiu com pessoas. Algumas, até se inspiraram, e outras até se lembrarão de mim.

Bjos no coração. Vivam este milagre. E não se preocupem demais.