Eu tenho feito muito isso desde os meus 30 anos. Planejar. Agir.
Contudo, além dos fadados planejamentos de coach, quando eu vislumbro os próximos 10 anos, me dá um senso de urgência para sorver o que eu tenho agora!
Cada década que passa agora, são anos intensos.
Explico: até os meus 30 anos, minha vida era algo fluido, e regido pelos acasos da vida: escola, amigos, certeza que os entes mais próximos familiares estariam ao meu lado, entrada no primeiro emprego, firmação no principal, ganho de dinheiro, primeiras e várias conquistas, viagem aos lugares, descobertas, decepções e perdas. E muitas surpresas pelo caminho.
E de repente você tem 40 anos.
E senti que dos 30 aos 40 houve uma mudança boa em minha pessoa.
Dos 40 em diante (e estou nos 44) houve uma mudança enorme. Verdade pessoal. Os 40 bate, mas não da forma como eu esperava, de crise de identidade e medo do envelhecimento. O bagulho é muito mais embaixo, e para mim, pelo menos, foi maravilhoso e transformador. E incrivelmente triste também em várias passagens da vida, como ela deve ser.
Aos 40 você começa a ter a perda do seu antigo mundo. Seu canto de proteção e amor incondicional, formado pela sua família, começa a se desfazer, porque é o ciclo natural da vida. Seus avós se vão, e seus pais começam a metamorfose de provedores a providos . Dos que protegem a serem protegidos. Dos que agem a serem acolhidos. Eu estou quase chorando escrevendo isso, de verdade. Porque a gente quer mesmo que pai e mãe sejam os maiores para frente e vivam até nossa morte. Pai e mãe não deveriam partir, ou se tornarem incapacitados.
Tem um vídeo circulando na internet de um artista , um senhor já, do oriente médio, acredito, que faz uma homenagem a sua mãe, se desenhando no colo materno. É para chorar mesmo. Nunca haverá outro lugar tão protegido, tão amoroso quanto o abrigo de nossos pais.
A não ser que seus pais tenham te concebido aos 20 anos, é natural que as quarentonas comecem a experienciar infelizmente (e repito que é uma das maiores tristezas da vida) a perda de seus genitores.
E com isso, o seu mundo cai. E se renova.
Cada ano para mim é um ano sorvido como se durasse uma década.
Não dizem que os cachorros vivem 7 anos para cada ano nosso? Eles não vivem 100 anos humanos porque eles vivem de forma diferente.
Eu sonho com meus próximos 10 anos. Tenho medo de que estarei sozinha lá, sem meus familiares vivos. Mas sonho com uma outra pessoa que me tornarei, com novos conhecimentos e prazeres, e atitudes. E novo pensar sobre a vida, sobre a raça humana, sobre a nossa permanência na Terra.
O planejamento agora não é mais 100% focado em metas de dinheiro, sucesso, status. Ainda tem um pouco, pois afinal vivo em um país capitalista e de aparências, mas o espaço é maior para sorver tudo isso que ainda tenho.
A pandemia me tirou minhas viagens internacionais, mas me deu tempo para visitar meus pais todo final de semana. Acho de verdade uma delicia sair com sacolinhas e minha mãe com o carrinho arcaico e desajeitado de compras , carregando tudo e meu pai só com a chave do carro. Minha mãe carregando os legumes e frutas e meu pai colocando escondido no carrinho guloseimas não saudáveis só para tomar xingo da minha mãe, mas ela aceita, afinal 83 anos não é para qualquer um, né mores?
Tenho a impressão que vivemos num mundo paralelo nesses 2 anos de pandemia: não conheci mocinhos, nem novos amores, mas o tempo passou mais devagar e pude absorver tudo o que a vida me oferece agora, e não é pouco. Saúde plena, pais vivos e lúcidos.
Mas eu tenho planos de 10 anos sem pandemia: uma viagem de um mês à França, voltar para aquele resort de solteiros na Turquia e ser feliz, voltar aos encontrinhos sim, porque somos humanos e solteiros , não é mesmo?
Marquei até a data de hoje com meus pensamentos e fiz uma listinha só minha. E você? Já pensou nos seus próximos 10 anos como você vai estar? Eu indico. É um bom exercício de sonho, e também de festejar e sorver o que você tem agora, neste momento.