Há muito tempo eu decidi que ia ficar sozinha e não ia forçar nenhum relacionamento, nenhum desespero à procura do THE ONE.

Na maioria do tempo, eu me amo. Eu adoro a minha escolha. Eu vivo bem.

Vez ou outra, eu fico meio borocoxozinha, e a vida me dá umas porradinhas e fico cachorra reflexiva sobre minhas escolhas e minhas atitudes.

Este começo de ano não foi fácil: precedido de um réveillon mara na praia do rosa (falarei dele em outro post) , tive um janeiro e fevereiro atribulado por conta das internações hospitalares de meu pai, de 84 anos.

Sim, 84 anos. Já superou a média de vida dos brasileiros (quiçá da maioria das nacionalidades), e já aprontou muito meu paizinho. Bebe pacas, come besteira  (ultimamente anda gostando demais de doces e queijos, algo que nunca apreciou), e tem uma pança digna de trigêmeos .

Mas o bicho é forte. Tem garra. Pinta o cabelo de preto para não se entregar à idade biológica que tem.

Por conta de desmaios e tonturas que têm se tornado constantes e perigosas (pelo risco de queda e deus me livre, bater a cabeça) ele se internou para descobrir a causa, coisa que até agora não foi solucionada . É, a medicina ainda não evoluiu, ou os médicos de lá ainda não são competentes o suficiente apesar de todo o nome e prestígio.

Daí ficamos numa sessão de conversas profundas, algo muito difícil de fazer entre outras pessoas presentes ou numa mesa de almoço.

Meu pai comentou que aos 33 anos, se tocou que estava solitário, que ganhar dinheiro e viajar o mundo não era tudo, e foi atrás de uma esposa. Conheceu minha mãe por intermédio de amigos em comum.

Ele me disse para que eu não me entregue aos 45 anos: que pinte o cabelo, emagreça, que eu vá em programas onde possa conhecer alguém.

Dessa vez, não fiquei puta com o conselho, tantas vezes repetido  por ele. Ele realmente gostaria de me ver com alguém.

Daí me indago: é possível ser feliz sozinha? Não somente este ano, mas o próximo, os próximos, para sempre?

Sozinha quando digo não é sozinha sozinha. Com amigos, com familiares, com conhecidos.

Claro, você fica sozinha em partes. Talvez na maioria do tempo. Talvez em momentos que seria sim legal ter alguém realmente do lado.

Muitos amigos me ofereceram uma mão neste momento delicado. Alguns crushes também.  Mandam mensagem, perguntam se preciso de algo, mandam palavras de bem estar e oração. Alguns oferecem seu tempo para um café, uma escapadinha.

Mas você está lá, sozinha, com seus medos e seus demônios. A doença das pessoas mais próximas a você baqueia sem dó.

A mensagem por whatsapp honestamente mais é um alô de comparecimento do que realmente uma ajuda.

Com todo respeito aos meus vários amigos, e amo todos eles, mas acaba sendo uma ajuda mais paliativa do que imperativa.  Acaba sendo uma ajuda por educação, mas não real. Como dar parabéns por mensagem no Facebook.

E talvez nem eles, nem eu , saibamos como realmente ajudar. Nos sentimos obrigados e nos casos de amigos mais queridos, queremos realmente, mas não há como.

Talvez seria bacana ter alguém do meu lado, que morasse junto, para me escutar e eu falar, falar falar e talvez me sentir mais acolhida em tempos difíceis.

Tem momentos, os mais difíceis e os de celebração clímax, que é melhor compartilhado com alguém que está em sintonia total com você.

Daí eu me pergunto: quantas pessoas têm isso hoje? Mesmo as casadas? Será que os cônjuges conseguem dar aquele apoio que precisamos nas horas mais escuras?

Eu no silêncio da minha casinha, me conforto e sigo refletindo. Ainda estou segura de minhas convicções. Sozinha sim, até achar alguém que realmente faça a diferença. Não só no feed do Instagram,  mensagem de rosas e bom dia e gratidão. 

Voltando à questão de ser feliz sozinha: uma amiga minha reencontrou uma professora de ginásio. Ela deve ter seus quase 80 anos. Sempre foi sozinha. Não sei se sempre foi solteira, ou se ficou viúva jovem, e daí não casou mais. A verdade é que ela é uma senhora solteira, feliz, saudável, que vai tomar cervejinha com as amigas, e anda direto. Seria o exemplo máximo de sozinha e feliz. Mas ao pé do ouvido de minha amiga , disse o seguinte conselho: “amiga, procure alguém legal. Não é legal ficar sozinha!”.

Penso se o conselho foi pensando nela mesmo, ou porque ela acha que não é fácil ser feliz sozinha. Poucas conseguem. Creio que deve ser a segunda opção.

Creio que ela deve ser feliz , porque com 80 anos andar direto, beber, sair, não pode ser coisa de gente mal resolvida ou triste. Creio no entanto que ela se indaga, assim como eu, de um relacionamento longo não vivido, e do que ele poderia ser e ter ajudado ela nas horas difíceis.

Mas ela não viveu isso. Então a idealização foi melhor do que talvez a realidade?

Eu não saio por aí proclamando para todas as minhas amigas que é melhor ficar sozinha (até do que mal acompanhada). Eu sei que talvez eu sou um ponto fora da curva. A maioria de minhas amigas não consegue, e não é uma questão  de capacidade ou sabedoria.

É simplesmente porque os seres humanos são diferentes. Graças a Deus.

Mesmo aqui no Blog, quando estou bem, adoro fazer meus manifestos de bênção aos solteiros. E são de coração.

Quando não estou assim tão bem, escrevo também. Aqui não é propaganda marxista da solteirice. Dores e delícias dos 40 anos com toda a carga e cagadas de vida que vier.

Quando escrevo, faço uma terapia para mim mesma. Espero que outros possam também ter uma luz e um insight bom.

Estou convicta. Por ora. Vivo bem, sem pressa de encontrar alguém. Quando encontrar, vamos ver o que dá. De coração aberto. Conselho aceito, e refletido.  Abraços saudáveis sem Covid, amigos.