Eu não gostava do Dia da Mulher. Achava uma data machista, comercial, onde os restaurantes faziam promoções para chamar a mulherada, e no trabalho ganhávamos uma flor. Como se a mulher comemorasse o dia com presentes, com mimos, como um ser frágil e dependente.

Nada contra as flores (não ligo a mínima) nem bombons (até gosto), mas o Dia da Mulher deveria ser muito mais do que isso.

Achava que todo dia tinha que ser comemorado o dia da mulher, pois sim, nós somos a força que mantém o mundo.

Contudo, na última década, meu sentimento mudou por este dia.

Eu sempre fui feminista, mas não do tipo de queimar sutiã em praça pública ou visualizar os homens como inimigos.

Eu sempre quis que as mulheres fossem enxergues como uma força, uma inteligência equivalente ao homem, não inferior. Que pudesse tanto quanto eles ou até melhor, dirigir uma empresa, ganhar muito dinheiro, viajar o mundo, ser sozinha, ser independente e mudar o mundo.

Eu, mulher branca (amarela na verdade), nascida em classe média alta, sempre me inconformei com a indiferença e preconceito machista, vindo de minha família, de meus primeiros trabalhos, de amigos.

Não houve violência física em minha trajetória. Mas aquelas ignoradas em reuniões, o não reconhecimento em ações onde fui decisiva, o pré julgamento perante minha vida, é algo que me enoja.

Não creio que são problemas pequenos. Mas nos últimos 4 anos, tive a oportunidade de integrar um time de voluntárias de uma ONG extraordinária INSPIRING GIRLS, que visa empoderar e inspirar garotas jovens de 10 a 16 anos a sua independência financeira , a carreiras de liderança, a serem donas de sua própria vida e de uma carreira em tecnologia e engenharia.

Admito e revelo que já participei de outras ongs e ações de voluntariado, mas nunca dei continuidade. Para você fazer bem e fazer a diferença, tem que ser uma ação que você acredita, e de preferência, que sofreu a dor.

Quando estamos falando de classes e raças menos favorecidas, as dores são maiores exponencialmente. A falta de estrutura financeira deixa a pessoa muito mais vulnerável a dores que o ser humano nunca deveria experenciar, como abuso familiar, violência doméstica, fome e vulnerabilidade social e econômica.

Não vou intitular as minhas dores de “White people problems” – problemas de gente branca.  Não creio que foram pequenas. Mas trabalhar na ONG me permitiu me transformar como pessoa e enxergar um mundo que eu só via através de relatos jornalísticos ou televisivos.

Tive e tenho a oportunidade de conhecer mulheres incríveis que estão reinventando suas carreiras e realidades, e ainda assim possuem tempo para nos ajudar. Por isso digo que voluntariado não é falta de tempo, mas uma decisão pessoal de realocação de tempo. Um tempo que você gasta vendo NetFlix, fuçando na Internet. Ok, talvez seja um pouco mais do que isso. Um bom voluntariado leva tempo e dedicação para fazer a diferença. Mas vejo mulheres com cargo de liderança, com família, e ainda encontram tempo para ajudar nossa ONG.

Tive e tenho oportunidade de conhecer meninas incríveis, que serão as futuras líderes de amanhã. Meninas que começaram a lutar desde cedo, de famílias batalhadoras que não tiveram privilégios financeiros, e que não se rendem a um histórico difícil pois a vida é uma só e elas vão fazer dela o máximo , afinal as possibilidades são infinitas.

Hoje, eu celebro O Dia Internacional da Mulher. Em vez de flores, que os homens possam nos enxergar como pessoais iguais a eles. Que as mulheres possam enxergar não uma inimiga, uma competidora, mas uma colega, uma parceira, uma irmã. Que tenhamos força, disposição e sabedoria para aprimorar a geração de hoje e de amanhã.

E quando vai chegando essa data, vejo pessoas, empresas, entidades se mobilizando. É uma secretaria de educação com um projeto, uma empresa que pela primeira vez vem bater em nossa porta, celebridades talentosas que se unem em nossa causa.

Juntas, somos mais fortes. Melhor, somos imperadoras e donas de nosso destino. Que tenhamos todas um Dia da Mulher transformador e de muitas ações pelo caminho.