(com adendos de Tia Chatonilda)

Antes de meu querido pai adoecer de vez e ir para o hospital pela última vez, reservei uma passagem promocional para Jericoacoara e decidi me dar 3 curtos dias em Jeri de Agosto para Setembro. Escolhi justamente um curtíssimo período para não deixar de ir pelo menos 3 vezes por semana visita-lo . A vida me pregou mais uma peça e ele se despediu daqui da terra em 2 meses por um câncer fulminante.

Decidi não cancelar a viagem e sim, eu fui. E foi a melhor coisa que fiz.

Geralmente, eu fico apreensiva na véspera da viagem, imaginando coisas ruins (perda de avião, assalto, acidente). E desta vez estava mais pesado: deixar minha mãe nem que seja por 3 dias, as memórias de meu pai.

Tudo se esvaiu quando eu aterrissei em Jeri. Graças aos voos diretos que agora vão para Jeri em vez de Fortaleza mais 5 horas de translado, em menos de 4 horas (3 de avião e 1 de translado, pois o aeroporto mais próximo de Jeri fica na verdade em Cruz, a uma hora do centrinho) eu estava em território cearense, saída de um frio de 10 graus para um calor da peste de 34 graus a embaçar minhas lentes dos óculos.

Instalada na pousada, corri para pegar o pôr do sol nas Dunas da praia, que devo dizer, continua incrível, mas que a Duna deu uma bela diminuída de tamanho, deu. Mesmo assim foi incrível. A imensidão dos paredões de areia, o mar lindo, o céu a perder de vista. Um belo início para a mini viagem. Conversei comigo mesma, com meu pai em pensamento, que devo dizer, certeza que estava do meu lado comigo naquele momento.

Adendo da tia quarentona chatonilda aqui mas nem tanto: Sobre o mar, devo dizer que foi decepcionante: a praia de Jericoacoara está cercada de algas, o que tira totalmente a vontade de entrar no mar! Com um cheiro terrível e aspecto putrefador, logo percebi que a praia estava vazia de banhistas que estavam mais preocupados em achar o melhor ângulo para a selfie.

Apesar dos meses de junho a agosto serem típicos para a proliferação de algas, os nativos de Jeri admitiram que nunca viram desse jeito. E apesar de agora ter que pagar a absurda taxa de 30 reais para ficar em Jeri, não vi nenhuma iniciativa de proteção ao ecossistema do lugar. Apesar dos supermercados abolirem a sacolinha de plástico, cansei de ver lixo em plenas dunas e no caminho. Enfim, creio que as algas é resultado do que nós humanos estamos fazendo.

Passado o por do sol e minha decepção com a praia, procurei alternativas: no final acabei fechando os passeios do Leste e do Oeste, cada um por 60 reais.  Mal sabia eu que essa noite seria a última sozinha da viagem. Mas foi uma delícia: olhei as lojinhas todas, a feirinha, comi dignamente (o camarão no abacaxi) e um sorvete delicia.

No dia seguinte, fiz o passei do Leste, e foi uma grata surpresa: já tinha feito o mesmo em 2016 , mas como peguei um dia nublado, não tive boas lembranças. Desta vez foi diferente: brindada com um céu azul , a lagoa do Paraíso estava maravilhosa, parecendo o Caribe com águas tão cristalinas e quentinhas.  Poderia ficar dias alí.  Existem inúmeros beach clubs, e tem um famosão que é o Alquimista, que você paga 30 reais só para sorrir. Nosso guia levou em um que não paga (como quase todos) e foi muito digno, com mesas, cadeiras e sombras, e as famigeradas redes na água (que devo dizer, não são lá muito confortáveis).

Adendo da tia chatonilda mas nem tanto 2: me pergunto porque diachos o pessoal de Jeri do turismo sempre tem que enfiar uma atração furada no meio do passeio. Em 2016 era a ida até a tal Pedra Furada. Uma trilha terrível para chegar, um sol de lascar, uma fila enorme, e era isso. Tiraram para nossa sorte a tal trilha, e botaram não um, mas 2 micos no lugar: os Buracos. A Lagoon e o Buraco Azul. Um piscinão de ramos, que nem natural é,  você tem que pagar 20 reais só para sorrir e fica lá que nem trouxa. Talvez para xóvens crianças e adolescentes ok, porque tem tirolesas e tal, mas é um mico para os adultos. Dica de ouro: economize os 40 reais desses buracos e fique direto na Lagoa do Paraíso, que é natural e tudo de bom.

A última parada foi a árvore da preguiça que é realmente muito bela e nada de perrengue para tirar fotos. Tiro meu chapéu para os guias: viraram fotógrafos profissionais.

Em Jeri, você pode fazer passeio num buggy ou numa jardineira, e como eu estava sozinha, foi o melhor custo benefício. E se você der sorte como eu dei, pode pegar um grupo animado com outros viajantes solos que vão ser sua companhia para jantares, para baladinhas.

Foi o que aconteceu. Risquei meu plano A de instrospecção e Netflix no hotel, e foi uma programação intensa do início ao fim: passeio o dia inteiro, pôr do sol no Café Jeri (uma baladinha sunset com visual maravilhoso de rooftop ), jantares em restaurantes dignos e forró e samba para acabar a noite. Para no dia seguinte acordar para o café da manhã fresquinho da pousada e se preparar para mais um passeio.

O passeio Oeste já é bem diferente: passa por um praia, vai até os paredões de dunas (para os animados que não se importam com areia no rosto ir na jardineira é mais emocionante mesmo), onde tem os toboáguas e tirolesas, atravessa uma balsa e desemboca num mangue para o pessoal fazer o passeio opcional de ver o cavalo marinho.

Adendo da tia chatonilda 3 – esse passeio é um mico. E como a esclerose vem, eu não lembrava de nada. Paguei 20 reais para ficar 15 min num bote debaixo de um sol escaldante, para o guia mexer num tronco de mangue e capturar um pobre de um cavalo marinho desmingulido para o pessoal tirar selfie com o coitado .

Depois, a parada para o almoço numa barraca na Lagoa, com preços um pouco superfaturados mas comida honesta e cerveja gelada.

Devo me retratar com Jericoacoara: quando fui em 2016, não me identifiquei muito com a vibe do lugar. Também estava meio borocochocha, pois tinha terminado um namoro.

Desta vez, aproveitei tudo o que o lugar tinha a oferecer.

Primeiro, sua natureza arrebatadora. Apesar da brincadeira humilde do guia que dizia que se no Maranhão eles tinham os Lençóis Maranhenses, em Jeri era as Fronhas Cearenses, porque vai lá, não dá para comparar com a grandiosidade dos primos lá de cima, Jeri é realmente espetacular. A imensidão do céu azul, as dunas, o mar lindo, e  o vento sempre constante (que apesar de incomodar as vezes deixa uma sensação refrescante meio ao calor de 34 graus) é algo único até para o Nordeste Brasileiro.

Sim, eu estava com olhos famintos. De ver beleza natural e humana, pelo meu querido pai, que estava acamado há meses e não conseguiria ver a beleza que esse mundo tem a oferecer.

Segundo, sua vibe baladeira. Jeri é uma festa. Tem festa sunset, tem opção de baladinha rock, pagode, samba, forró, e no último dia, fui brindada com um luau digno, com  músicos talentosos. Comecei a gostar até de pagode e samba, olha só.

Terceiro, Jeri é rústico, com suas ruas de areia, mas com conveniência para todos os bolsos: tem restaurante top como o Tamarindo, tem barracas de rua, tem lojinha cara e barata, tem mercadinhos não superfaturados como Noronha, tem até restaurante tailandês. Só não explica as Lojas Americanas enorme , mas que eu fui sim para comprar algumas coisinhas. Tem hotel caro como o Essenza e hotel digno como o que eu fiquei, o Nativa Jeri, com donos simpáticos e prestativos, quarto limpinho e ar condicionado salvador, e café da manhã com tapioca e cuscuz feito na hora.

E claro, e não menos importante, a hospitalidade do povo cearense.

Jeri, você ganhou meu coração. Que seja a segunda de muitas futuras viagens .  E digo: um destino perfeito para você viajar sozinha.