pôr do sol na Praia da Conceição

Em 2022 aproveitei a Black Friday e adquiri algumas passagens aéreas. Uma foi realmente um achado: Voo ida e volta São Paulo – Fernando de Noronha pela 123 milhas- Gol.  R$ 1.050 reais. Sim, porque os voos para lá costumam ser o dobro ou triplo do valor.

Eu já tinha estado em Noronha em Dezembro de 2020, quando a ilha tinha acabado de reabrir do lockdown, e foi uma grata surpresa. Atendeu as minhas enormes expectativas, embora sem surubão, sem festas, até mesmo porque na época não tinha imunização e o risco ainda pairava de multidões e encontros.

Dessa vez, como foram 3 dias na semana, resolvi não procurar ninguém e ir sozinha.

Reservei um quarto na Pousada Paraíso das Águas no Booking , com boa pontuação mas bem simples até pelos padrões de Noronha.

Para quem ainda não conhece Noronha:  é tão caro quando falam? Sim. É caro. Você paga caro até para respirar lá, já que de cara tem que pagar a taxa de permanência na ilha, que vai crescendo conforme os dias que você fica lá (eu paguei 278 reais por 3 dias, mas quem fica um mês paga a bagatela de quase 7 mil reais). E ainda tem a taxa de entrada de alguns pontos do Parque, que dá acesso às praias do Atalaia e Sancho.

O problema é que em Noronha, você paga caro inclusive por pouca coisa. Se você não tiver pique para ficar em Hostel compartilhado como eu não tenho, vai pagar caro por um quarto que é um puxadinho de casa de moradores, como é a maioria das pousadas de lá. Existem sim pousadas boas (mas nada grandioso, apenas quartos bons e decentes, como a Mirante do boldró, Zé Maria, Maravilha entre outras). Mas prepare para desembolsar de 1500 a 3000 a diária isso em baixa temporada.

Paga caro também por itens básicos como transporte (se você tiver em turma você aluga um buggy a partir de 250 a diária e gasolina a 8 reais o litro) , onde a menor corridinha de 5 min de taxi custa 35 reais (lá não tem taxímetro, eles têm uma tabela de destinos, que são poucos, e preços de 35 a 60 reais). Supermercado então, nem se fala: as frutas e verduras parecem que vieram da guerra. Se contente em pagar 15 reais pelo quilo de um tomate amassado.

Por outro lado, Noronha nos brinda com uma Natureza peculiar, que nunca vi em outro lugar do Brasil. Não fui para Abrolhos ainda, mas a fauna e animais marinhos é de um deslumbramento incrível.

Também os restaurantes são dignos, devo dizer. Meio milionários sim, mas o preço que se paga por um bom restaurante em São Paulo. Existem pelo menos uns 10 restaurantes lá com serviço de primeira e comida incrível. Entre eles, tem o famoso festival Gastronomico do Zé Maria (nunca fui, meus pais foram, e meu pai pegou um piriri danado de lá). Tem o Mergulhão, que tem uma vista incrível da Praia do Porto, o Xica da Silva , o Cacimba e o Varanda.

Em 2020, eu fui com uma turma de 10 pessoas. Dessa vez, fui sola. Abaixo, como foi minha curta estadia em Noronha. Com preços de tudo, porque sou Sara viu. E no final, meu parecer: vale a pena ir para Noronha sozinha?

Primeiro Dia – após um sufoco daqueles para confirmar minha passagem (a 123 milhas resolveu meu caso, mas deu trabalho: em dezembro de 2022, começaram as obras no aeroporto de Noronha e todas as aeronaves grandes estão impedidas de pousar lá: com isso só a Azul e a Passaredo pousam no momento), cheguei em Noronha feliz da vida e com um sol de rachar o coquinho (sim, porque sou paulista e não estou acostumada ao calor do nordeste). Munida de meu vestido longo e meu chapéu estiloso, paguei 35 reais por uma corrida de 5 minutos literalmente de taxi até minha pousada, onde fui gentilmente recebida pela PitBull dos proprietários (deu medo, não nego).A pousada me custou  250 reais por dia, sem café, mas com um ar condicionado e um frigobar novinho. Devidamente instalada, com a mala desfeita e protetor solar em tudo, fui até o centrinho comer alguma coisa e de lá peguei a trilha que margeia as praias até a Praia do Cachorro e da Conceição. Como estava sozinha desta vez, aproveitei para ver alguns lugares que não fui em 2020, como a praia do cachorro, que tem um belo bar com vista, e umas pedras lazarentas para chegar (tomei um belo tombo). A praia é pequena, mas aconchegante, e como quase toda praia de Noronha, ondas fortes e mar bravio, mas lindo. De lá, fiz a trilha até a Praia da Conceição, tomei meu primeiro banho de mar em Noronha, vi um por do sol belíssimo com o Pico de Noronha ao fundo e voltei para a Pousada . Só tive forças para tomar um belo banho e ir até o restaurante Xica da Silva, um dos mais famosos da Ilha e com pratos muito bons. Comi um belo peixe com um purê delicioso de abóbora gratinado (valor da conta com um prato e um refri – 160 reais) , fiz a digestão caminhando pelo centrinho, comprei material para café da manhã e aproveitei e fechei um passeio de Canoa Havaiana (190 reais) para o dia seguinte. O vendedor me deu uma ótima dica de fazer o passeio o mais rápido possível, porque o Swell ia começar em 2 dias e o mar ia ficar impossível (o que se concretizou: todos que marcaram passeios para 2 dias, tiveram que cancelar) e fui dormir feliz da vida. Às 09 horas da noite.

Um adendo: se você não quiser depender de taxi para tudo, se prepare para andar muito. Minha pousada ficava no Bar Floresta Velha, o que dá  1 km até o centrinho da Vila dos Remédios e uns 1,5 km da Praia da Conceição.  Até emagreci na viagem!

2º. DIA

Levantei cedinho. Fiz meu café na pousada, e o transfer (já incluso na tarifa do passeio) veio me buscar às 08:20. Chegando na praia do porto, já fomos divididos para as Canoas, e repeti o passeio que já fiz em 2020. Sim , vi muitos golfinhos. Mas não faria de novo. O passeio sempre tem o mesmo roteiro: sai da praia do porto, em direção à Gruta do Leão (que tem esse nome por causa do barulho que as ondas formam ao bater nas rochas), depois à praia da Conceição, onde  paramos para mergulhar, e voltamos. A chance de ver golfinhos e tartarugas é grande, e vimos ambas. Nem é tão cansativo, porque quem opera de verdade são os instrutores. Se você for, leve boné, capinha à prova de agua para o celular (porque a tia aqui deixou o dela cair na agua) , camiseta UV, porque o sol pega.

Almocei no Porto mesmo, onde há vários quiosques de comidinhas. Uma tia de lá, não lembro o nome, faz um caldo de polvo muito digno a 28 reais. E a praia é a mais calma da ilha para tomar um banho de mar e ótima para fazer snorkel (para quem tem pique, pode ir até longe ver um barco naufragado), e mesmo na beira se vê bastante vida marinha (vi tartarugas, peixes diferentes, até filhotes de tubarão).

Fiz amizade com uma mona que estava lá viajando sozinha também, e rachamos um táxi até a praia do Boldró. O visual é lindo, como quase toda praia de Noronha, mas as ondas são fortes. Existe um bar muito bacana lá, com belas instalações e uma consumação mínima milionária começando em 300 reais.

A sorte é que tinha conhecido um casal na trilha para a Conceição no dia anterior, e este casal já é velho turista de Noronha, então sabia de muitas dicas. Uma delas é que tem uma piscina natural no Boldró, então conseguimos tomar um banho de mar.

Quando deu umas 15 hs, caiu um pé d´agua, e voltamos de taxi até a vila ( o bom dos quiosques e bares de praia é que eles chamam o taxi para você, porque não é fácil arranjar na ilha, principalmente em praias onde tem que ir andando um pedaço para chegar)

A chuva persistiu por 2 horas, o que não me deteve de ir tomar um sorvetinho na vila (aliás, a gelateria Paradiso é maravilhosa), comer um brigadeiro no Raízes Açaí , e combinar com os amigos recém feitos de viagem um jantar de luxo e glamour no Mergulhão. Esse restaurante fica localizado no topo da praia do porto , com uma vista incrível. Serviço de primeira e preços idem (entradas a partir de 100 reais, e pratos a partir de 190, individuais). Ficamos lá , comendo, bebendo e contando histórias de viagens, até o restaurante fechar, e terminamos a noite com mais um sorvetinho e comprinhas na vila.

3º DIA –

Sem muito planejamento para meu último dia, fui para a praia do porto , onde elegi como meu lugar preferido para almoçar e fazer snorkel. Infelismente lá nesse dia o mar estava mexido, então a única coisa que se salvou foram as piscinas naturais que entrei nessa praia, onde deu para ver vários peixinhos coloridos e mini moreias (mesmo pequenas, elas já tem aquela carinha de demônias, com seus mil dentinhos). Mais uma boa dica de um novo amigo recém feito, na espera do ônibus. Ele estava morando em Noronha há trabalho há 3 meses e me deu várias dicas. De lá, peguei o busão e fui para a Praia da Cacimba do Padre. Vale dizer que o ônibus não te deixa exatamente na praia. Você tem que dar uma bela caminhada de uns 15 minutos, o que não é nada na descida e com sombra, mas a subida com sol a pino é de lascar. Peguei um caminho mais curto e cheguei à Praia do Bode, que é linda de morrer, mas só para admirar mesmo, porque tanto ela como a Cacimba (que é a praia seguinte) têm ondas muito fortes e mar perigoso.  Cheguei à Cacimba do Padre e fui direto para o Morro que dá vista para o Morro dos 2 irmãos. Mesmo com tempo nublado, a cor do mar e a paisagem é de chorar. De lá, fiquei numa enseadinha chafurdando em águas rasas com outros turistas, e fomos surpreendidas por mais um espetáculo da natureza, dessa vez no ar: várias aves (entre elas o mergulhão, o mais famoso da ilha) cercando e fazendo um banquete de cardumes de sardinhas encurraladas nas piscininhas que se formavam. De se emocionar.

De lá me arrumei para ir ao Bar do Meio, mas cheguei tao cansada que só tomei um drink, fiquei 30 minutos apreciando a vista e fui embora, com 30 mordidas de mutuca nas pernas. Na volta , o último sorvetinho da viagem, e cama. Às 20 hs da noite.

No dia seguinte, todo o tempo foi dedicado à via crucis da volta: taxi, voo até Recife, espera, voo até São Paulo, uber, casa e morri. Até o dia seguinte.

Vamos lá: minhas considerações de viagem:

  1. O que eu faria diferente:

Eu ficaria pelo menos 4 dias inteiros. Fiquei 2 e meio, e me arrependi embora já tivesse ficado em Noronha antes. O motivo é que Noronha é longe, e leva-se um dia quase inteiro para chegar lá de São Paulo. Quando você está começando a aproveitar o lugar e se desligar, daí já era hora de arrumar as malas e pensar no dia seguinte com mais um dia inteiro de aeroporto e taxis.

Eu talvez não iria em fevereiro ou março, pois peguei chuva todos os dias (embora chuvas passageiras, mas que atrapalham e principalmente, deixam o mar muito bravo e ruim de visibilidade para ver animais. Os meses ideais seria de agosto a outubro, com mar mais calmo.

  • Valeu a pena ir sozinha?

E como!!!! Eu iria novamente sem dúvida. Adorei minha viagem de 2020 com amigos, e confesso que estava com medinho de ir sozinha a Noronha, por ser um destino meio selvagem e que não é amigável com turistas solo, pelos preços .

Mas como tudo se resolve nessa vida, fiz amizades que além da companhia gostosa, compartilharam valores de taxis e restaurantes que não iria sozinha talvez, como o Mergulhão.

Acabei visitando vários pontos que não fiz da outra vez, e fiz a viagem no meu tempo. Uma maravilha. Deu tempo de comer devagar em restaurantes, fazer uma pausa no meio do dia simplesmente porque estava com vontade, tomar longos banhos sem se preocupar em vagar o banheiro logo. Pequenas delicias de quem viaja sozinha.

Mas se prepare: você vai andar muito. A não ser que queira andar de taxi para todo lugar.

  • Dá para paquerar em Noronha?

Olha, eu não fiz nenhuma paquera. Só amizades. Sobre as pessoas: Vi muitos casais, mas poucas pessoas desacompanhadas. Inclusive fiz amizade com um casal, que foram minha companhia para passeios e divididas com corridas de taxi. Talvez em épocas mais festivas como Carnaval e Reveillon o perfil muda, mas Noronha tem aquela vibe de lua de mel. Mas de uma forma geral, as pessoas são bem –vindas, dispostas e felizes. Afinal Noronha não é qualquer destino. Em 3 dias, fiz amizade com esse casal, 3 mulheres que estavam viajando sozinha e um semi-local, que se mudou para Noronha há 3 meses.

  • Deixa-se um rim em Noronha?

Dois não, mas um sim. Não é uma viagem barata. Com passagem de Black Friday, Pousada Simples, apenas um passeio, me saiu uns 3 mil para 3 noites.

Se você ficar numa pousada melhor, ir jantar todos os dias nos melhores restaurantes, fazer todos os passeios, considere gastar  o dobro.

  • Dicas finais para quem vai a Noronha pela primeira vez

– tente pegar uma pousada localizada no centrinho da Vila dos Remédios.

– Se for sozinha, os ônibus locais custam 5 reais a passagem e levam para quase todos os lugares. Mas demoram.

– Passeios a fazer: IlhaTour e Passeio de Barco (mas é um catamarã que enjoa pacas) O ilhatour faz uma geral de Noronha  o de Barco dá para ver golfinhos. O resto vai de seu coração e seu bolso (canoa havaiana, passeio por do sol, trilhas)

– leve protetor porque o sol lá castiga (chapéu, boné e camiseta UV)

– leve repelente (dessa vez, sofri com as mutucas no final da tarde, e só aqueles sprays de Ilhabela resolvem)

– Fique pelo menos 5 dias inteiros para conhecer a ilha bem, e se puder, vá entre os meses de Setembro e Novembro, com mar mais calmo

– Colete informações atualizadadas na internet – minha amiga pegou uma pousada em Sueste. Bola fora, pois essa praia está fechada por tempo indeterminado (motivo: tubarões que atacam) , e é longe de  tudo.

– Deixem os saltos e plataformas de fora: andar na ilha requer atenção. Tudo lá é de areia ou de paralelepípedos e mesmo os taxis e buggys não te levam à beira do lugar. Tudo tem que dar uma andadinha.

– Leve câmera a prova d agua, protetor de celular, pois você verá uma das paisagens mais belas de vida marinha.