Este ano resolvi passar de última hora o meu réveillon na Praia do Rosa, que fica a 70 km de Florianópolis. Para quem não conhece, a Praia do Rosa é um paraíso em Santa Catarina, com ondas perfeitas que atraem surfistas magia e lojistas e bares hippie chiques. Só um porém, como disse um humorista que sigo: se em Jurerê Internacional o tema da placa de boas vindas da cidade é “Vaza Pobre”, em Praia do Rosa é :”Se for feio, nem cola aqui”.
Impressionante , gente! Giseles Bundchens de 18 anos de idade flanavam pelas ruelas com seus 45 quilos distribuídos em 1,80 de altura. O critério para entrar na praia era ter olho verde, no mínimo. E o que tinha de homem bonito não era brincadeira: a última vez que vi tanto homem bonito junto em São Paulo foi numa boate fina. Gay. Todos eles.
Tive um imenso Deja Vu: Há exatamente 15 anos atrás, quando eu estava com 26 anos de idade, fui para esta mesma praia com uma galera de 10 pessoas, na qual conhecia apenas 2. Tinha sempre o bêbado (ou drogadinho) de plantão, as certinhas que a gente colava por associação, as quengas que a gente invejava, o bonitão que se achava, o nerd que era gente boa mas perdia as meninas para o bonitão SeAchão.
Passávamos o dia inteiro indo pra praia, fofocando, comendo besteira, dias de jacar total, dias de desintoxicação, altos papos, trilhas. A gente se sentia às vezes meio deslocada, porque o povo tinha 18 anos e nós, 26. No ano novo, pulamos 7 ondinhas, fizemos pedidos e simpatias (a maioria da mulherada para desencalhar) e alguém deu PT feio.
Este ano: apenas com a diferença que conhecia o grupo todo, fizemos exatamente a mesma coisa. Íamos todos os dias na praia (a diferença é que desta vez realmente passamos protetor religiosamente), fofocando, comendo besteira, dias de jacar total (menos, porque a gente passa mal de verdade), altos papos (muitos, muitos, muitos). No ano novo, pulamos 7 ondinhas e simpatias (todas as mulheres pedindo para desencalhar). Ah, e alguém deu PT feio. E as vezes nos sentíamos deslocadas, porque o povo tinha 26 e nós, 41.
O que eu quero dizer com essa história toda de Deja Vu: passa os anos e a gente é a mesma coisa, a mesma essência. O corpo muda, as rugas aparecem, mas estamos lá, fazendo as mesmas coisas e cometendo os mesmos erros e acertos.
Eu achava que com 40 anos eu seria totalmente diferente da minha pessoa com 20, 30 anos. Ledo engano. Não só eu, mas quase todas as minhas amigas. Casadas ou solteiras. Quando eu me reúno com amigas que conheço há 27 anos, só sai besteira. O mesmo papo, as mesmas piadas, e a gente se caga de rir. E digo que isso não é síndrome de Peter Pan não das solteironas: estas minhas amigas são todas casadas, com filhos.
Uma amiga minha disse que recentemente se reuniu com uma turma da faculdade, e se conhecem há mais de 25 anos. Ela bem sucedeu como diretora chefe da empresa, teve 2 filhos, assim como seus amigos que tiveram histórias ricas, trágicas, felizes. Em 5 minutos de conversa, o tempo voltou e todos voltaram a seus 20 anos de idade. Os papos eram os mesmos. As atitudes, os cacoetes, idem.
Acho que são 2 coisas: primeiro, a nossa geração difere dos nosso pais. Temos menos amarras com a necessidade de parecermos adultos. Sim, todas nós pagamos nossas contas, e assumimos nossas responsabilidades financeiras e pessoais. Porém algo mudou nesse caminho. As mulheres casadas começam a se reunir com suas amigas (e não apenas as mães dos amiguinhos dos seus filhos) para um bate papo calcinha e volta à adolescência regularmente. Talvez não toda semana, mas 1 vez por mês, pelo menos. Minha mãe jamais se permitiu isso.
As solteiras começam a planejar mais viagens sozinhas, ou com grupo de amigos, em vez de ficar em casa choramingando que ainda estão solteiras. Lembre-se que na época de nossas mães, ficar solteira aos 40 era uma aberração, um tabu, o trem partiu e nós ficamos. Hoje, nada de mais. De verdade. Não me sinto mal olhada ou inferior porque ainda sou solteira e não casei. Opção de vida, por enquanto.
Os novos tempos trouxeram muita coisa ruim, acredito. Mas tem coisa boa no meio. Essa leveza maior com que encaramos o envelhecimento e o passar dos anos, considero um dos grandes pilares de uma vida longa, eternamente jovem de espírito.
Que tenhamos muitos amigos de longa data para rirmos das mesmas piadas e das mesmas situações de 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 anos atrás.