Olhe para mim um pouco. Peço 3 minutos de leitura deste texto.

Eu sou amiga de alguém (no meu caso, posso dizer, de vários alguéns). Sou filha de pais que estão juntos há mais de 50 anos num casamento exemplar. Sou irmã e tia querida de 2 sobrinhos. Sou uma mulher saudável de 40 e poucos anos que pratica esportes, recicla seu lixo e é dona do seu próprio nariz.

Um detalhe: eu não quero ter filhos. Nunca quis, desde meus 20 anos.

Não, não sou pedófila.  Nem psicopata. Não sou traumatizada de infância, meus pais jamais me maltrataram ou me negaram como filha. Tive uma educação exemplar, carinhosa e responsável como deveria ser. Eu amo minha família, de verdade.

Sim, gosto de pessoas. Gosto de conhecer novas pessoas. Gosto de estreitar laços com pessoas que gostem de minha companhia.

Porque não quero ter filhos? Porque nunca tive vontade.

Simples assim.

#sqn. Não é tão simples assim.

As pessoas julgam muito. Principalmente as mulheres com as próprias mulheres, olhe que absurdo!. Para estas criaturas, se você não é mãe simplesmente por opção você tem um problema sério. Anormal. Você teve um trauma de infância muito terrível.  Ou não tem sua sexualidade bem resolvida.  Ou tem uma mente muito doentia. Ou é tão irresponsável que nem se arrisca a ter filhos.

“Tá exagerando, mona” dirão alguns.

Vamos aos exemplos. A atriz Jennifer Aniston declarou recentemente que “talvez ela não tenha vindo ao mundo com a missão de procriar”. Com 49 anos, Jen enfrenta há muito tempo a pressão da  imprensa e do público para ter um primogênito. Não teve com o boy magia Brad Pitt nem com seu último marido. Pau nela. Deve ser louca, por isso que não segura um homem, ela mesmo disse, como muitos a julgam publicamente.

Eu nunca fui fã do trabalho dessa atriz para falar a verdade, mas adorei a honestidade que ela abordou. Se você não quer ter filhos, você é considerada um monstro, um Peter Pan, que não quer crescer e aceitar a vida adulta, em plenos 2018!!

Para ela, é uma decisão natural. Há outras coisas no mundo para se fazer, e o filho não pode ser a única opção de uma mulher, como futuro, como legado.

Outro exemplo: aconteceu comigo há 1 semana atrás, numa festinha de crianças. Estávamos em rodinha conversando  quando uma delas (exatamente a solteira, como  eu sou) me indagou porque eu não tive filhos ainda. Ela ainda não teve porque não encontrou o parceiro. Eu, recém saída de um namoro,  disse como Jennifer, “ser mãe não  é para mim. Eu tenho outras coisas reservadas no futuro”.

Veio a retruca: “Ah, só quer ficar nessa vida de balada e zoeira né. Mas um dia você cansa e o bonde passa”.

Respire fundo. Em vez de dar um paf na criatura, dialogue.  A criatura é minha amiga, inclusive. Boa gente, mas com uma criação ainda mais tradicional que a minha.

“Bem, eu não vou em balada já faz tempo, mas e se fosse? E se eu realmente quisesse só viver a vida do jeito que gosto, em viagens, baladas, bebedeiras, como você acredita que eu vivo, eu seria uma pessoa pior do que qualquer mãe aqui?”.

Silêncio Sepulcral. Vamos lá, explore o terreno para não ser uma patada e sim um conselho.

“Eu gosto de ser dona de mim. Gosto de meus momentos sozinha. Gosto de ter liberdade para viajar onde e quando posso. Gosto de focar as forças e pensamentos para mim mesma. Ter um filho significaria abdicar em parte disso. Talvez eu fosse uma boa mãe. Talvez para ser perdoada, eu deveria dizer que não posso gerar filhos. Mas acho que não preciso falar mentiras para algo que não é necessariamente ruim ou indigno”.

Mais, mais

“O mundo tem que ter diversidade. Tem que ter mulheres que serão mães maravilhosas, e tem que ter mulheres que optarão por não serem mães. O mundo está imensamente povoado, e eu seria uma mãe infeliz se fosse atender à expectativa da sociedade”.

Eu evito criticar as mães ou quem quer ser mãe para justificar o meu ponto.  Acho que não preciso citar exemplos ruins de maternidade para  ilustrar a minha decisão racional.

Acho um caminho ruim que algumas  mulheres fazem de criticar o marido, a vida, as crianças dos outros para justificar a dela que é melhor. Para mim, isso é demonstração de preguiça de argumentos ou pior, inveja alheia.

Simplesmente: eu não sou mãe e banco essa decisão para mim.

Assim como tenho amigas que decidiram ser mães e bancam essa decisão para elas. Nas dores e delícias da maternidade, a grande maioria são mães responsáveis, carinhosas e comprometidas. Adoro elas.

Solteiras ou casadas, mães ou não, vejam essas mulheres como eu que não querem ter filhos, não como uma aberração, mas apenas como uma mulher que vai seguir um caminho diferente. Ter filhos deve ser uma dádiva e não uma obrigação social.

Beijo no coração de todas.