O meu padrão de beleza sempre foi diferente da minha beleza real. Não que eu me achasse feia. Baixa auto estima nunca foi um problema para mim, mas não que me achasse sempre a mais linda.
Eu tinha ciência que era bonitinha o suficiente para não fazer feio, mas não era o centro das atenções. Sabe esses mulherões, tipo Beyoncé, com seus 1,80 m de altura, vasta cabelereira cacheada e salto 20? Nunca fui.
Quando era criança, sempre quis ser a Marilyn Monroe. Até hoje, acho ela um dos ícones de beleza para mim. Engraçado que se para os homens ela fosse um símbolo sexual, sempre achei ela linda pelo seu jeito quase infantil e puro. Um pouco gordinha, braços grandes, aquele loiro platinado (e que na minha ingenuidade, achava que era super natural), mas bota um vestido branco e um salto fino nessa mona e um ventilador que levanta seu saiote, para ver se ela não se torna a criatura mais bela da terra!
Era meio ridículo, eu em 1987, em Nova York, queria usar vestido e andar por aquelas calçadas de onde sai o ventinho do metrô para fazer aquela mesma levantada de saia da Marilyn.
Na minha adolescência, queria me parecer com as divas do cinema, como a Michelle Pfeiffer ou Sharon Stone. O brasileiro é fascinado por loiras, de olhos azuis porque é raridade. No meu colégio, as loiras eram rainhas. As meninas ficavam atrás delas e os meninos babavam. Sempre eram as mais cobiçadas.
E eu, com meu rosto redondo e completamente asiática, era sempre tachada de “exótica”. Engraçado isso. No início, tomava como uma injúria. Exótica porque?
Hoje, tomo como um elogio. Talvez porque de uns tempos para cá, as asiáticas começaram a se tornar objeto cool e de desejo. Modelos asiáticas têm estampado com mais frequência, se não capas de revista, pelo menos vários editoriais e anúncios. De Gucci a Banana Republic, as orientais começam a ganhar espaço. Aqui no Brasil, vejo menos. Ainda.
Asiática tem umas exotices que são peculiares, algumas imperceptíveis aos olhos de ocidentais. O olho, por exemplo. Eu não tenho a famosa “dobrinha”, que fica na parte superior dos olhos, comuns aos ocidentais. Com isso a maquiagem fica mais difícil, não dá para fazer jogo de sombras e esfumaçado, porque não há a tal profundidade da dobrinha. Parece frescura, e realmente é. Mas é uma frescura no qual milhares de orientais anualmente se sujeitam a uma cirurgia incômoda e cara para ganhar as tais dobrinhas.
Quis fazer várias vezes, mas sempre desistia. Depois vi que ia perder essa minha cara japa, que agora finalmente aceito.
Maquiagem também é complicado. Em todos os salões que fui, quando fui fazer maquiagem profissional, saí parecendo uma quenga. Acho que os profissionais ainda não sabem valorizar com sutileza os traços orientais.
Acho que depois dos 30, mas principalmente chegando aos 40, você liga o botão de foda-se, viu?
Você se resigna que os homens (pelo menos os latinos) preferem as loiras, mas tem uns boys por aí que são loucos por orientais, e a tendência está crescendo.
Você finalmente se toca que seu corpo não vai mudar se você não levantar a bunda da poltrona e fazer exercícios para ganhar braços mais duros, barriga menos positiva e pernas mais torneadas. Peitos grandes? Só em sonho ou na sala de cirurgia. Se não tem coragem para encarar a faca, engole o choro e se faz de poderosa (com a ajuda de bojos gigantes – eita propaganda enganosa).
Você começa a comprar roupa direito para valorizar suas formas. Eu, que tenho 1,55 de altura, não posso me espelhar nos modelitos da mulherada de 1,80. Vou parecer uma criança que fuxicou no guarda roupa da mãe.
E dai você no início usa só preto e cinza, que não tem erro.
E com o tempo, você vê que o vermelho carmim, quase um vinho, valoriza seu tom de pele. E que o bege desaparece em você. Tons amarelos, nem pensar. Já chega eu de amarela.
E que o batom vermelho faz sua boca de japa saltar, e que você tem que aprender a não comprar só batom nude.
Mas você finalmente consegue achar o nude perfeito! Aquele nude que não te deixa mais amarela do que já é, e que não te deixa com cara de defunto. E compra 10 batons iguais.
E depois de tantos anos clareando o cabelo com shampoos caríssimos e Sun-In, você encontra uma japa maravilhosa na academia, que deixa todos os boys babando, e volta ao seu preto natural, e faz o maior sucesso.
É, gente. Antes tarde do que nunca. A gente tem uma Beyonce dentro de nós. É só botar ela pra fora.
Eu sou japa, tenho pele amarela. Tenho cabelo preto, mas amanhã pode ser vermelho. Aprendi a usar salto alto, com meia pata, e ficar grandona. Acho que arraso. Tenho meus fãs.
Ainda pago um pau pra mulherada alta e de olhos claros e cabelos cacheados, mas pago pra mim também, nos dias bons.
E vocês? Já descobriram sua beleza?