Calma… explico já porque foi uma lua de mel com minha mãe. E desde já me desculpo pela quantidade de vezes que usei a palavra “milionaria” neste texto.
Em 2018, minha mãe finalmente decidiu que iria realizar a viagem para o destino dos sonhos dela: o Tahiti. Com 75 anos anos recém-completados, uma saúde ainda de fazer inveja a muita adolescente e um saldo bancário saudável, ela decidiu que seria agora ou nunca. Meu pai já pulou fora do barco milionário: não iria enfrentar mais de 12 horas de vôo em um lugar inóspito que não tivesse shopping center e ar condicionado.
Sozinha, ela também não iria. Não domina o inglês e não tem toda a independência para ir viajar sozinha, apesar de ser bem descolada.
Sobrou para quem acompanhar? A filha querida. Nenhum problema.
Pesquisamos muito na Internet e no final preferimos fechar com uma agência especializada em pacotes para o Tahiti. O preço daria quase o mesmo que sem agência, mas como se trata de um destino desconhecido para nós, preferimos confiar em terceiros. Aliás, recomendo altamente a TGK, agencia que nos levou. Não tivemos nenhum problema com eles, que fecharam toda a estadia, desde os hotéis até os translados e voos internos.
Munidas de looks novinhos (afinal não é todo dia que íamos para o Tahiti), embarcamos em um vôo da LATAM eterno, com paradas em Santiago e Ilha de Páscoa. Esse é um dos problemas da viagem. São viagens médias, de 4 a 5 horas cada, que não são suficientes para um sono de repouso, a não ser para minha mãe, que é uma pedra. Onde encosta , dorme. Eu não dormi quase nada. Outro problema: escala tumultuada em Santiago. Fila interminável na Alfândega, informações desencontradas, mala extraviada. Se dependesse dos Hermanos do aeroporto do Chile, estaríamos no Tahiti só com a roupa do corpo. Tem que sim resgatar a mala e despachá-la novamente. A mala da minha mãe sumiu e só reapareceu depois de 4 horas, e ainda bem que a escala era longa.
Já a escala na ilha de Pascoa foi tranquila, uma pena que chegamos de noite e não deu para espiar o local. O aeroporto é minúsculo e parece uma pousada, e tinha apenas um café, muito aconchegante por sinal.
Chegamos em Papeete, a ilha principal do Tahiti, às 2:30 da manhã. Já fomos recebidas com colares de flores, musica e dançarinas típicas, e o melhor: nosso transfer com plaquinha de nossos nomes pontual e solícito.
O Sofitel La Ora é um hotel antigo, mas bonito e imponente, com um café da manhã incrível. Dormimos apenas algumas horas, para pegar o transfer novamente para o Porto, onde pegamos um Ferry até Moorea, que deu 50 minutos de viagem. Mais um transfer até o Sofitel, com decoração bem rústica, e pegamos um bangalô de frente para o Mar, mas não sobre o mar, que é bem mais caro. Foi lindo, porque os outros bangalôs tinham vista para o jardim ou apenas parcial do mar, e o nosso era o típico sonho da casa de praia: acordar, abrir as cortinas e dar de cara com o mar.
Malas desfeitas, fomos comer no bar, e o Sofitel tem uma das praias mais lindas de Moorea: mar azul turquesa, areia branquinha, peixes de todos os formatos e cores. Comemos um prato típico de lá, que é uma espécie de ceviche, só que marinado em leite de coco, delicioso.
À tarde, enquanto minha mãe tirava uma soneca em uma das espreguiçadeiras, eu fiz snorkel, standup, encantada com aquele mar cristalino. Realmente, o Tahiti é incrível. Apesar da água não ser quentinha como da Bahia, nunca vi uma cor e limpidez de mar como deles. Parecia que estava flutuando em um aquário de peixes ornamentais.
Voltamos, tomamos um drink (aliás, o frigobar do Sofitel é free) e… nada. Capotamos e só acordamos na manhã seguinte.
O café da manhã deles é fantástico, com muitas influências francesas (como todo o Tahiti, cujo idioma oficial além do deles é o Francês). Baguetes fresquinhas ao lado de dumplings asiáticos.
Fomos alimentar os peixinhos perto dos bangalôs sobre as águas e uma arraia gigante passou desfilando ao meu lado. Coisas de Moorea. Vi o peixinho Nemo (aquele peixe palhaço do filme da Disney), e vários outros.
No final da tarde, uma chuva daquelas, mas que durou apenas 2 horas. Era hora de decidir o jantar, e as opções no Hotel não saíam por menos de 70 euros o prato.
Decidimos ir para o Rudy´s, que é um restaurante bem avaliado no Trip Advisor e um dos únicos de Moorea que não fica em hotel, com direito a transfer gratuito de ida e volta ao hotel. O restaurante era super simples, mas a comida era deliciosa. Comi um camarão ao alho maravilhoso. E custava menos da metade do preço dos hotéis.
No dia seguinte, era hora da ilha mais esperada: Bora Bora. Saímos cedinho para pegar um avião teco teco da Air Tahiti, que só não é mais simples do que o aeroporto de Moorea. Alfândega? Gente rica que vai pra lá não precisa ser revistada.
Chegamos em Bora Bora com um calor dos infernos embora fosse inverno lá, e com a vista do mar mais lindo que eu já vi na vida. Do aeporto, saem os barcos para os hotéis, cada um mais milionário que o outro (St. Regis, Four Seasons, Conrad, Hilton, Intercontinental). Ficamos no Le Meridien, que é o mais antigo. É uma chegada gloriosa: a lancha atravessa um portal no meio do mar, e você atraca na ilha da fantasia. Mais colares de flores, mais suco de boas vindas, mais atendentes extremamente educados.
Dessa vez, ficamos no bangalô sobre as águas, que é uma experiência incrível mesmo. Custa cerca de 30% mais do que os bangalôs em terra, mas vale a pena ficar, nem que seja por uma noite . No quarto, um rústico mega chique, com uma parte do chão de vidro, para ver a atividade marinha.
Um único porém sobre Bora Bora: apesar da cor do mar ser a mais linda de todas, a vida marinha perde para Moorea. Os bangalôs lá eram repletos de peixes, o que não posso dizer o mesmo de Bora Bora, ou pelo menos de nosso hotel. Os únicos peixes que vimos foram os da lagoa. E o mar era um pouco mais agitado, ou seja, quase ninguém nadava da sacada de seus bangalôs.
Lá, nos dedicamos ao far niente mais milionário de nossas vidas: acordar, tomar um café dos deuses, descansar na praia, almoçar uma coisinha ou outra (já que nosso regime era de meia pensão), ficar de bobeira a tarde inteira numa espreguiçadeira de praia, e se arrumar para jantar maravilhosamente bem. Um esforço para andar de standup aqui, um showzinho (mequetrefe) de dança tahitiana ali, uma espiada no casamento alheio que ocorria as margens da praia.
Fizemos um passeio inesquecível que durou quase o dia inteiro, e recomendo como imperdível: fomos nadar com arraias e tubarões. Em uma profundidade de menos de um metro, arraias gigantes desfilavam graciosamente ao nosso lado, junto com tubarões fofos. Nenhum ataque, nem perigo. Eles não estavam enjaulados, como as atrações terríveis de golfinhos do Caribe. De brinde, ainda nadei em cima de uma Manta Ray.
Ainda terminamos o dia com um almoço típico (pobrinho, mas a animação dos guias compensava) e aquelas competições típicas de tourista, como quem abre um coco mais rápido. Valeu do início ao fim cada centavo milionário dos 170 dólares desembolsados (por pessoa)
Nosso último dia em Bora Bora amanheceu chuvoso, como nossa cara. Era duro se despedir do paraíso. Ainda fomos dar uma espiada no hotel vizinho , o St. Regis, que é majestoso e tem uma decoração mais asiática.
Voltamos para o nosso ponto inicial, Papeete e frustradas porque o comércio fecha todo domingo. Portanto, ficamos sem souvenires, como as pérolas negra. Deu tempo para ir conhecer um supermercado, jantar gostoso no hotel, e uma última nadada em mares taithianos.
Ah, os casais. Se ficamos com invejinha dos casais lindos, ricos e apaixonados que dominavam 100% do público? Nenhuma. Fizemos nossa lua de mel, eu e mamãe, com muitas fofocas, confidências e partidas de tranca.
DIQUINHAS:
TAHITI – QUANDO IR – Se possível, viaje no inverno. Viajamos em outubro e foi ótimo. Tempo bom, em Bora Bora pegamos quase 35 graus todos os dias, e apenas 1 dia com chuva. Dizem que no verão, chove muito, e uma pena, porque o mar fica pleno em sua beleza com céu azul e sem nuvens.
TAHITI – QUANTO CUSTA – A pergunta que mais me fizeram: quanto se gasta numa viagem para o Tahiti? O pacote com voo ida e volta do Brasil, todos os voos internos, 2 dias em Papeete, 3 noites em Moorea com café e 3 noites em Bora Bora com meia pensão, em hotéis 5 estrelas (mas não os melhores), translados, balsa Moorea e voo interno Bora Bora saiu pela bagatela de 50 mil reais para 2 pessoas. Dá para gastar menos? Talvez. Muito menos? Não. Aliás, eu falaria para nem ir se for em esquema mochileiro. O Tahiti não é para brincadeira. Talvez em Moorea tenha alguns hotéis simples, em Bora Bora alguns Airbnbs, mas tenha em mente que para você ter a experiência completa, o ideal é ficar em hotéis. Isso significa Sofitel, Intercontinental, Four Seasons, Hilton… não pense que vai encontrar um Ibis por lá. Uber? Nem pensar? Supemercado e fast food? Só em Papeete.
Tudo lá é muito caro justamente porque é uma ilha e tudo é importado. Honestamente, é melhor ser assim, pois o Tahiti continua lindo e limpo, como sempre foi. Uma boa referência é Fernando de Noronha, dado devidas proporções. Acesso limitado, natureza como se nunca viu na vida, número controlado de visitantes. Nos 10 dias que estive lá, não vi nenhum detrito plástico no mar, nem latinha de cerveja largada na praia.
PASSEIOS: eu faria tudo em Moorea, que oferece o mesmo passeio de nadar com tubarões e arraias, que fiz em Bora Bora. A diferença é que custa metade do preço. Aliás, Moorea é mais barata que Bora Bora e tem mais vida marinha. Deixe os passeios para Moorea e curtir o dolce far niente em Bora Bora.
TRANSPORTE: lembre-se: você vai ficar em isolamento total nas Ilhas. Em Moorea ou Papeete talvez valha a pena alugar um carro para percorrer a ilha, mas Bora Bora cada hotel é uma ilha e cada ilha só tem seu hotel. Nada mais. Não há centrinhos.
ALIMENTAÇÃO: Tente fechar regime de meia pensão em todos os hotéis, exceto em Papeete que tem mais opções. Um hamburguinho no bar da praia do hotel custa 35 euros, uma pizza mequetrefe custa 45 euros. No jantar, dobre esse valor. Sem bebidas. O Tahiti é o lugar mais caro onde já estive, mas não é impraticável. Tomar um porre de gim é. Mas uma cerveja de 20 euros não mata ninguém.
VIDA NOTURNA – nenhuma. Para não falar absolutamente nada, se você estiver num bangalô sob as aguas em Moorea, é bacana alimentar sob o luar os peixinhos. A partir das 22 hs, o silêncio impera total nos hotéis.
HOTÉIS – qualquer um dos mais conhecidos já é ótimo. Em Papeete, pode ficar em qualquer um porque o destino é só de passagem para as ilhas mais paradisíacas. Em Moorea, eu fiquei no Sofitel e adorei, mas dizem que o Hilton é igualmente maravilhoso.Em Bora Bora eu fiquei no Le Meridien, que é excelente. Mas também são o Pearl, Four Seasons, Conrad, Intercontinental, St. Regis…
FECHAR POR CONTA OU COM AGÊNCIA? Eu fecharia com agência. São super profissionais e nada deu errado. Não dá para chegar as 2 da matina em Papeete e achar que vai conseguir um transporte até o hotel fácil. Melhor nem contar com transporte público. Já disse: o Tahiti foi feito para gente rica. Economizar uns bons trocados não fechando os translados pode dar uma dor de cabeça daquelas, como ficar esperando horas… e lembre-se que as horas são milionárias no Tahiti. Nem brigar pode. Como disse um conhecido: “Amor, não briguemos aqui. Estamos pagando 100 dolares por hora”.
IDIOMA – além do idioma local o francês como língua oficial. Mas o inglês é falado em todos os lugares.
.