livro maternidade

Na semana passada, em meio a um happy hour descontraído com Lojistas da área de decoração, surgiu o assunto FILHOS.

Já viram essa cena antes, né?

A história de sempre: e perguntam se tenho  filhos, eu respondo que não, me perguntam se quero ter, eu digo que não e daí o questionamento: “Por que não?”.

Pior que nesse dia eu nem fui o centro das atenções (ou pior, da ojeriza de não querer ter filhos). Foi a pobre coitada de minha amiga, num casamento estável e feliz, que não tem e não terá filhos, e foi bombardeada por comentários e olhares de espanto.

Isso porque estamos em pleno 2019, numa megalópole como São Paulo, rodeados de pessoas com ensino superior completo e extremamente viajados.

Depois, eu e minha amiga tomamos a saideira e ficamos relembrando as inúmeras vezes que recebemos olhares e comentários de reprovação por não querermos ser mães.

Desde o famigerado “você tem algum problema para não ter filhos?” até “um dia você vai mudar esse pensamento e será tarde”, vindos de pai, mãe, irmãos, parentada, amigos, nem tão amigos, colegas de trabalho. Minha amiga me confidenciou que por vezes prefere dizer que não pode gerar filhos por problemas de saúde, e daí é poupada de todo o questionamento.

O que cada uma decide o que faz com sua vida não deveria ser problema dos outros. Mas quando chega o assunto maternidade, de repente todo mundo ergue a mão e proclama a “verdade” como se fosse expert e dono de sua vida.

Me lembro claramente que aos 25 anos, quando disse que não teria filhos, ouvi de um consultor mais velho que isso certamente iria mudar, que eu era muito jovem.

Hoje, aos 42, já ouvi infelizmente todo tipo de comentário e olhar sobre uma mulher que não terá filhos:  EGOÍSTA. PREGUIÇOSA. FRIA. MAL AMADA. SAPATÃO. INCOMPLETA. MULHER PELA METADE. IRRESPONSÁVEL. IMATURA. INÚTIL. PROBLEMÁTICA. INFELIZ. HEDONISTA. DESCONSIDERADA. SÓ QUER VIVER A VIDA LOUCA.

Isso vem de amigas, nem tão amigas, colegas, chefes, estagiárias, e todo tipo de familia. Ah, e principalmente de homens.

Recentemente foi lançado no Brasil o livro Maternidade da escritora canadense Sheila Heti, e dá voz a um tipo de mulher que até agora não tinha sido representada, a que decidiu não ter filhos.

Vista geramente como metade de uma mulher, como uma vida desperdiçada, a mulher sem filhos ainda tem seus dilemas internos. Apesar da idéia muito clara de não procriar, ainda possui o conflito do possível , por que não, arrependimento, até porque temos um limite de tempo por parte de nosso relógio biológico.

Existem inúmeras razões para ter filhos, algumas delas certas e muitas erradas também. O evitar do arrependimento, salvar relacionamentos, ter alguém para cuidar de você na velhice são alguns deles. Coitado do rebento: já nasce com a incumbência de cuidar da mamis daqui a 40 anos.

A mãe, de forma geral, é vista como alguém sublime, celestial, que se sacrifica emocionalmente e fisicamente pelos filhos. Muito belo e emociona. Mas tem que ser uma experiência necessária e obrigatória para todas?

Eu já vi pessoas próximas se  submeterem a tratamentos horrorosos para tentar engravidar, algumas que perderam até a noção de segurança própria ao se relacionar sem proteção com desconhecidos na esperança de uma criança “por acidente”, todas na idade limite para engravidar, dos 40 aos 45 anos.

Com isso, faço das palavras de Sheila Heti as minhas: “Parem de perguntar às mulheres que não têm filhos por que elas não têm”. E como minha amiga querida diz: “A gente não pergunta para os casados com filhos se a vida deles está uma bosta”.

E nem vou citar os homens aqui, já que a maioria dos comentários negativos veio de quem são pais , muitos separados e não vêem a criança há mais de 3 meses.

Todas nós já temos nossos próprios dilemas e convivemos com essa decisão, acreditem. O segredo da felicidade é saber aceitar e conviver da melhor forma possível com o que decidimos ser, mães ou não mães.