pecados mídias sociais

LEMBRO EM 2016,  eu estava numa crise danada.

Eu tinha acabado de fechar uma empresa com minha família após ter trabalhado nela durante 22 anos. Enquanto isso, vários colegas meus empresários postando nas redes sociais o sucesso de sua empresa e loja cheia, clientes por todos os lados. Gente abrindo mais lojas, expandindo, sendo promovidos.

O fato de ser sempre solteira nunca tinha me incomodado de fato, até que as malditas redes sociais mostrassem a alegria alheia de nossos amigos. Muitos que se julgavam eternos solteiros estavam apaixonados agora, desfilando pelo facebook com seus novos amores, em jantares, viagens maravilhosas e juras de amor eterno.

Enquanto alguns faziam viagens maravilhosas, voltas ao mundo, eu estava preocupada com meu futuro, segurando todos os destinos que queria fazer.

Ainda estava com uma suspeita de câncer de tireóide.

E tudo passa.

Estamos em 2019. Eu sobrevivi a onda de inveja da felicidade alheia.

A suspeita não passou de uma suspeita, com nódulo benigno. Após o fechamento da empresa, consegui fazer outros negócios e que estão caminhando. Meu ninho está em ordem. Eu consegui e estou conseguindo realizar todas as viagens dos meus sonhos, seja para São tomé das letras ou para a Europa. Namorei sério, desfiz o namoro, estou solteira e digna.

Hoje, muitos dos objetos de minha inveja estão com a vida diferente. Alguns melhores ainda, outros não. Alguns fecharam as portas de maneira repentina, até devendo para o mercado. Alguns casais tiveram filhos, estão mais felizes do que nunca. Mas muitos terminaram seu relacionamento, como se nunca tivesse existido.

Isso me levou a 2 reflexões.

A primeira:  devemos nos proteger de maus olhados e não postar nossas conquistas e felicidades nas redes sociais?

Ou seja, nada de postar dias felizes com o namorado, loja cheia, depoimento de cliente feliz, promoção de cargo, paisagens maravilhosas,  hotéis lindos, sorriso do filho?

Eu postaria. Eu posto. Se chamar azar alheio, paciência, vamos enfrentar.  Nossa aura tem que ser mais forte do que isso, não é mesmo?

Infelismente, é natural do ser humano de achar que a grama do vizinho é mais verde. Temos sim aquela inveja que dá vergonha de nossos amigos, colegas. Se estamos solteiras, temos inveja das casadas. Se estamos casadas, temos inveja das solteiras.

Tenho uma grande amiga que comemorou sua entrada numa grande empresa como diretora comercial e postou várias vezes seu time e seu orgulho. Depois de 8 meses, a empresa, mal das pernas, acabou a demitindo. Ela jurou que nunca mais iria se expor dessa maneira. Uma pena. Porque durante os 8 meses ela sentiu muito orgulho dela mesma. E é esse momento que ela deveria se lembrar.

Mas realmente cada um é cada um: se você não conseguir lidar bem com um possível fracasso ou mudança, melhor nem postar. Pode ser que você esteja numa viagem mara e o tempo muda. Você é roubada. O namorado briga com você por acaso.  Faz parte. Sinceramente, o mau olhado existe. Mas não pode ser mais forte do que você.

 

A outra reflexão é: o quanto devemos nos proteger das mídias sociais? Em linguajar direto e reto: o quanto devemos evitar ler o sucesso ou alegria alheia para não achar que nossa vida é uma bosta? E quanto desse conteúdo é realmente verdadeiro?

Eu vou dizer uma coisa para vocês: eu costumo ler meu feed de mídias sociais só quando estou de bem com a vida. Não preciso geralmente ler por meu trabalho, e como é para uso pessoal, eu tento criar um filtro para mim mesma. Se estou amarga, desgostosa da vida, com tendência a inveja alheia (não seja poliana em dizer que você não tem desses dias, porque todos temos, sua quenga!), tento não ver. Interagir, muito menos!

Eu vi um artigo muito bom sobre os pecados capitais da vida online, e o instagram e facebook são a inveja e o orgulho modernos.

Eu acho sim que há muita maquiagem de felicidade nas mídias sociais. Vejo o exemplo das mulheres que foram mortas pelos parceiros, e geralmente seus feeds são carregados de amor, carinho e companheiro dos sonhos. Não há como julgá-las. Mas eu só confio na veracidade nos feeds de pessoas que eu tenho contato regularmente.

Também tenho um outro recurso: eu gerencio o que eu quero ver nas redes sociais. Ex que não virou amigo, ex de amigas que não é meu amigo, eu  tiro. Amizades terminadas, também. Acho muito falso esse discurso de “criaturas desenvolvidas espiritualmente” que estão em contato com todos, e não se importam. Eu sou humana e tenho ranço sim de algumas pessoas. Prefiro tira-las do que ter que conviver com seu dia a dia ou ter a tentação de dar aquela espiada, para o bem ou para o mal.

Porque as mídias sociais são realmente a arma do capeta em mentes doentias: numa época distante onde não havia internet, você tinha a opção de nunca mais ter contato com a pessoa non grata. Não saber se ela está viva ou morta, casada ou solteira. No Face ou no Insta, você sabe praticamente em tempo real com quem ela está, onde ela está indo, o que está fazendo. Sinceramente, se eu não quero ou não me interessa saber, melhor enterrar de vez.

O capeta só vai te pegar se você der bola para ele! Seja forte!