Quero antes de tudo deixar claro aqui que sou feminista com moderação. Não sou daquelas que acha que a mulher tem que deixar de se cuidar, de se maquiar, de virar mãe de família para ser feminista.
Tenho amigas que são super mulherzinhas, que inclusive abdicaram da carreira em nome de uma família completa e apoio elas completamente.
Mas tem algumas coisas ainda que me incomodam imensamente na relação Homens X Mulheres nos dias de hoje e tenho certeza que muitas vão me contestar. Ok, mas gostaria de deixar aqui meu ponto de vista.
Como vivi no meio de uma família completamente machista e preconceituosa, sofri um bocado. Sou a única filha caçula com 2 irmãos de uma família de descendentes de japoneses, e para quem não sabe, a grande maioria é sim machista e patriarcal.
Sempre fui a última a ser considerada na direção da empresa familiar. Sempre fui a última a liderar o grupo de viagem da família. Sempre fui educada para servir e não para ser servida.
Isso ainda me dá uma confusão mental danada. Eu sempre fui meio rebelde e nunca me encaixei nos padrões de mulher recatada do lar como minha mãe sempre foi.
Meus irmãos são super machistas, assim como meu pai, e sempre fui considerada meio que a “ovelha negra” da família, apesar de nunca ter passado a noite numa delegacia, ter usado drogas pesadas ou ter dado um vexame homérico qualquer.
Então eu lutei para buscar meu espaço. E para não falar da boca para fora, o principal elemento que busquei para honrar minha independência e o lema: “eu me banco” era buscar minha independência financeira. Consegui. Não sou nenhuma milionária, mas não preciso de pai ou marido para pagar minhas contas. E desde cedo tomei conselhos financeiros com meu irmão mais velho e tratei de eu mesma cuidar de minhas finanças, apesar de aceitar sim conselhos de como fazer Imposto de Renda, aplicações e etc porque a gente é independente, mas não tola.
E assim como eu, quase todas as minhas amigas são independentes financeiramente, e as que são casadas contribuem na renda de casa tanto quanto seus maridos. Muitas vezes, não por apenas quererem, mas porque precisam trabalhar duro para garantir a renda e o padrão de casa.
No entanto, a grande maioria é a dona de casa também. Total. Elas cozinham, elas cuidam das compras, dos médicos dos filhos, elas tiram a mesa, lavam a louça, cuidam das festas de fim de ano. E trabalham em período integral. Não é a toa que elas estão esgotadas fisicamente e mentalmente. Elas falam com orgulho da família, mas sei que estão esgotadas e de saco cheio. Pudera: trabalham em tempo integral trabalho e em casa. Os maridões, nem tiram a louça da mesa.
E eu, que nem tenho filhos, não posso nem falar mal delas. Porque já me peguei em relacionamentos anteriores sendo a mulherzinha da relação: eu fazia o café da manhã e ainda lavava a louça, eu arrumava a casa, nas viagens eu cuidava da roupa de cama e comidas. E eu nem cheguei a morar junto com alguém. Mas mesmo sem eles pedirem, eu tomava isso para mim. Depois, no final da relação quando quase nada é mais flores, eu os culpava porque eram um bando de preguiçosos que nem a louça lavavam.
Claro que tem as compensações. Eles dirigem mais que a gente. Eles tem a parte masculina que nos completam na hora de decidir uma viagem ou o restaurante da vez. Mas admito que errei sim ao seguir em partes o mesmo padrão que minha mãe teve como mulher da família.
Em partes, acho que a gente repete esse padrão por nossa infância numa família que ainda era de valores mais antigos. O meu pai era o responsável por 100% da renda de casa, e minha mãe cuidada da família e do lar. Admito também que a gente, para agradar ao boy, faz mais coisas do que deveria fazer, até para segurar o relacionamento.
Estou tentando mudar isso. Estou me espelhando em poucas, mas valiosas amigas, que são super corajosas, que não tem medo de perder o marido ou namorado porque os obrigam a dividir as atividades domésticas sim.
Tenho uma amiga que trabalha em plantões intermináveis e o maridão cuida sim do filhote novinho nos fins de semana sozinho. E ainda pilota a cozinha em almoços memoráveis. A gente, besta, ainda enxerga isso como anomalia, quando deveria ser o padrão!!!!
Mas tiro sim o chapéu para o cara formidável que ele é, assim como minha amiga que merece o maridão que tem porque é também um ser maravilhoso. Tenho uma amiga que a conheço há décadas que apesar de reclamar que o marido não faz nada, delega várias atividades do lar para ele. Vai sim buscar filho na escola, cuidar das atividades extracurriculares, levar na casa do amigo.
E o mais importante: tem seu tempo sim para cuidar dela mesma e sair com as amigas do peito. Não todo dia, não toda semana, mas algumas vezes por mês, assim como o marido tem. Dia desses fomos tomar umas num bar e jogar conversa fora, como fazíamos há 20 anos.
Tenho uma amiga de uma amiga que não dá ouvidos a sogros preconceituosos e retrógrados e sim contrata babá para final de semana para curtir o maridão a sós porque sim, precisam de romance na vida deles.
Num próximo relacionamento, eu vou sim obrigar o boy a cozinhar ou pelo menos, a lavar a louça Se eu estiver cozinhando ou arrumando a casa, ele vai fazer junto comigo em vez de ficar estirado no sofá ou no celular.
E desejo do fundo do coração que eu participe de festinhas de amigos onde há divisão igualitária de tarefas. Desde cozinhar até botar a mesa até servir o vinho, porque me dá calafrios ver os boys em rodinha tomando cerveja enquanto as mulheres fazem tudo.
Quero muito mesmo festas com divisão de tarefas. Em uma somos nós, em outra são os bofes que cuidam dos rebentos e dos familiares, enquanto bebemos felizes e conversamos sobre assuntos inúteis do dia a dia, mas importantes para a alma.