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Quero deixar aqui meu relato de minha relação com minha mãe.

Temos uma diferença razoável de idade : farei 43 anos agora em setembro, e ela 76 em julho. Quase 33 anos nos separam.

Ela sempre foi a mãe coruja: acompanhava todas as notas escolares, deixou de trabalhar para cuidar dos 3 filhos, e sempre 100% presente em todos os momentos. Digo que fui uma criança, não exatamente mimada, mas bem cuidada e educada.

Depois, na adolescência e minha juventude, tivemos uma época negra de relação.

Eu ainda não era a adulta independente que podia conversar de igual para igual, e nem mais a criança fofinha e bochechuda que ela colocava lacinhos rosas.  Mas ainda usava as roupas que ela lavava, comia a comida que ela fazia diariamente,  sem nada em troca.

E como tinha rodinha nos pés e muito, muito, muito fogo no rabo, saía direto e deixava ela louca. Toda semana, uma discussão de arranca rabo.

Quando finalmente fui morar sozinha, a coisa mudou. Eu tive meus méritos: após anos chupinhando da boa vontade de minha mãe e de sua ala de empregadas, nunca trouxe uma roupa para lavar, passar, ou ir na casa dela só para jantar.

Quando me mudei, não sabia fazer porra nenhuma. Confesso que fiz um open house na minha casa principalmente para as pessoas me ensinarem a usar a máquina de lavar, ligar o fogão e o micro ondas (minha mãe sempre se recusou a usar um desses por acreditar que não faz bem à saúde).

Mas aprendi a usar a  máquina de lavar e secar (e a comprar roupas que não precisam ser passadas), a fazer uma comidinha, se não deliciosa, pelo menos comível, a não acumular louça na pia por mais de 1 semana.

E daí veio a segunda lua –de-mel com mamãe: a nova amiga.

Claro que eu ligo de vez em quando para pedir conselhos domésticos: como se limpa o porta doces de prata, como se desentope uma privada. Vou contar um segredo: nem sempre ela sabe, mas adora quando eu a procuro para alguma ajuda ou conselho.

Mas a maioria é para curtir programas: ir ao teatro,  viajar juntas, ir ao shopping ou simplesmente ficar jogando tranca em casa.

Mãe é mãe e vez ou outra ela mostra que não é uma simples amiga: vem aquela cutucada básica que estou acima do peso, que preciso cuidar do meu cabelo melhor, que preciso fazer as unhas. Outro dia ela mandou um zap em tom de preocupação que um crocodilo surgiu nas imediações da cidade onde iremos. Claro que com ela o crocodilo não vai atrás, mas da filha gordinha com certeza. Mãe só tem uma. Ufa.

Mas é aquela também que fala bem de mim às escondidas, que manda recadinho de agradecimento pelo final de semana maravilhoso, que traz numa sacolinha umas toalhas para pratos que as minhas estão pedindo aposentadoria já.

E numa viagem dessas, vocês começam a falar de coisas da infância e juventude dela, e a descobrir que sua mãe não é apenas sua mãe, mas um ser humano, uma fêmea alfa (falarei disso em outro post) que fazia sucesso no colégio, que ia no cabelereiro 2 vezes por semana, que organizava partidas de vôlei com os colegas.

Num final de semana no Rio de Janeiro, não nos cansamos de nos surpreender umas com as outras: ela não tinha coragem de entrar no Copacabana Palace e usar o bar da piscina, se não fosse hóspede. Eu, com minha usual cara de pau (se estou pagando, que mal tem?), insisti e consegui levá-la ao bar da piscina. Tomamos uma caipirinha (quer dizer, eu, porque mamis não bebe e pediu um suco), dividimos um bolinho de bacalhau e fomos atendidas super bem, já que a maioria dos outros ao redor da piscina estavam pedindo água com gás e limão espremido.

E depois, fizemos um tour completo no hotel, com direito a espiada na festa de casamento que estava acontecendo no salão principal.

E minha mãe me surpreendeu com sua esperteza de pegar o transporte público, de conseguir filas especiais para ela que já passou dos 72 anos, de conseguir um cabelereiro do lado do hotel para refazer sua cabeleira.

Toda vez que vamos viajar juntas ou num passeio a sós (sem papai, sem sobrinhos, sem irmãos) é quase uma lua de mel: há brigas, há desentendimentos. Ela se irrita comigo porque sou desleixada, eu me irrito com ela porque ela faz 3 looks por dia. Porém, há uma cumplicidade entre nós que não existirá jamais com outra pessoa.

Eu morro de amor quando a faço rir ou quando ela finalmente sai da dieta maluca dela de achar que não pode comer nada que dá alergia.

É o tipo de amor, de desejo pelo seu bem, pelo seu sucesso que você jamais vai encontrar em outra pessoa. Nem que seja seu bofe, sua alma gêmea, suas super amigas (e olhe que eu tenho várias).

Se você tiver lido até o fim e ainda tem uma mãe viva para chamar de sua, vá até ela hoje com um belo buquê de flores ou o que ela mais gosta. Ela ainda vai reclamar que você não precisava ir ou ter gasto dinheiro com ela, e não importa. Demonstre todo o amor pela pessoa que mais te ama nesse mundo. Beijo no coração.