Brasil. 17 de março de 2020. A primeira morte reportada pelo Coronavírus. Mais de 200 casos confirmados e mais de 1.000 suspeitos.
No mundo, o caos. A querida Itália com mais de 15.000 casos e mais de 1.000 mortes. E brigas. Briga entre EUA e China quando sabemos, não há herói entre eles. Brigas entre amigos no grupo de whatsapp. Xingos de pessoas no Face porque saíram de casa para comprar pão e leite.
Sobre os chineses, tenham compaixão. Apesar da comunidade chinesa ser fechada entre eles, são seres humanos e todas minhas conhecidas chinesas que sofreram discriminação, seja por uma piadinha besta no grupo do whatsapp ou no Facebook, ou pior, um comentário aberto de algum idiota no metrô, nada tem a ver com aqueles políticos que esconderam a doença, ou os comerciantes de animais selvagens que provavelmente propagaram o vírus.
Eu parei de olhar ou mesmo ser conivente com essas piadinhas que , se fazendo de inocente, camuflam um ódio racista que pode explodir a qualquer momento.
Agora no Brasil há um pânico de pessoas que vieram da Europa, em especial a Itália. Disso eu tenho orgulho de nós, brasileiros. Em vez do ódio e do medo, apoio (mesmo que seja a distância). Amor incondicional e acima de tudo respeito pelos italianos que ajudaram a construir nosso Brasil.
Quando essa crise acabar, quero pegar o primeiro avião e ir à querida Itália, comer a melhor comida do mundo, encontrar com amigos que já não os vejo pessoalmente há muito tempo, e com meu péssimo italiano, discutir e bradar que existe sim pizza boa no Brasil.
Quando essa crise acabar quero abraçar meus pais, sentir o cheirinho da minha mãe, afagar a barriga de pança do meu pai e bagunçar o cabelo do meu sobrinho.
Quando essa crise acabar quero dar mil abraços e beijos nos meus amigos, compartilhar bebidas do mesmo copo, se estender em intermináveis almoços e conversa sobre nada e tudo.
Como gosto de uma interação humana! Da reação de uma piada minha sem graça e de uma plateia conhecida e calorosa.
Vou sorrir muito para desconhecidos (coisa que faço geralmente quando estou bêbada), e prometo ser mais gentil com todos, com o porteiro, o lojista, o mocinho que cata o lixo.
Que esses dias de isolamento e Netflix nos sirvam de lição e nos mostrem que o contato humano é a razão sublime de viver.
Pensem vocês que um ser humano (não importa de onde ele veio), um apenas, foi capaz de tombar bolsas mundiais, isolar cidades e um país inteiro, mudar todo o comportamento das pessoas. Um ser humano foi capaz com toda essa globalização de causar mais de 100 mil doentes e 5 mil mortos. Um ser humano foi capaz de mobilizar o mundo inteiro em prol de derrotar um vírus novo e aterrador.
Isso porque este ser humano, apenas um ser humano, teve contato em algum momento com um pangolim infectado.
Imaginem quando for amor.