
Sempre achei que fazer amigos após os 40 seria mais fácil…
Sabe de nada, inocente.
Na minha cabeça, quando eu fizesse 40 anos, seria mais calma, aceitaria melhor as pessoas como elas são, seria mais receptiva.
O que acontece é o contrário: ficamos mais seletivas. Somos receptivas sim para conversar, para conhecer, para jogar prosa fora. Mas pára por aí.
Não que isso seja algo ruim: a gente começa a selecionar mais.
Como as comidas: nem tudo que comemos faz bem. Tem coisa que fica indigesta e daí temos que descartar.
A partir dos 35 anos, quando começam a diminuir o ritmo de balada e vem a troca pelas conversas em barzinhos e restaurantes, quando trocamos a viagem de tickar os pontos turísticos inéditos para ficar num café a tarde inteira, é importante uma boa, uma ótima companhia.
Algumas amizades , que foram importantes para mim nos meus 30 anos, ficaram para trás. Não porque essas pessoas eram más. Nem eu. Mas algo não está mais em sintonia.
Não porque tínhamos opiniões contrárias. Muitos dos melhores amigos que tenho hoje são pessoas que pensam muito diferente de mim. A diversidade (geralmente) produz sabedoria. Em política, em religião, em relacionamentos e até em comida.
Porque as amizades acabam?
É um estopim para um caldeirão de mal entendidos e ressentimentos, de situações chatas , de desentendimentos, de alienações. E neste caldeirão teve sim muita alegria, muita festa, muitas risadas e certamente muita cumplicidade. Já teve amigos que considerava meu irmão, minha irmã postiça, uma pessoa para guardar para o resto da vida.
Eu digo que toda (grande ) amizade desfeita, é uma morte em nós. Morre um sentimento de carinho, de irmandade, de empatia, de amor mesmo. Contudo é necessária para nosso bem estar, para nossa auto estima, para nosso crescimento.
Eu digo que a partir dos 35 anos, você vai ter uma trajetória onde seus amigos serão que nem os vinhos: com o tempo, existem vinhos que amadurecem, como você. As características, seu caráter fica mais evidente e encorpado, e daí vem a mágica da vida: uma amizade que tem um valor inestimável.
E tem os vinhos que, infelizmente apesar de muito investimento emocional, muita expectativa, acabam não vingando.
Teve amizades que com o tempo, vi que estavam lá mais para fazer número e conforto de ego do que realidade. Nunca teve o porque de existir. E te digo: vai ficando cada vez mais claro que você precisa se distanciar. Mas nunca é doce.
Ao mesmo tempo, surgem sim novos amigos. Mais raros, mas geralmente certos. É aquela pessoa que você conheceu num curso, num evento e em 3 saideiras de bar, já há uma conexão de mágica. Eu tenho um grupo de amigas que parece que as conheço há uns 20 anos. Mas são apenas 5. Me sinto tão próxima a elas. Isso garante que teremos o mesmo elo daqui a 10, 20 anos? Infelismente não. É uma das tristezas da vida. Porque somos seres humanos, com nossos erros e defeitos.
Tenho amigas de 30 anos de convivência. Essas viraram a safra super valiosa, o Barolo que merece uma sala especial. Não há necessidade de reviver votos todo mês, porque é algo adquirido. Se tornou.
Enfim, quando os 40 chegam, você fica sim mais osso duro de doer. Mas os que ficam, são para sempre.