A tampa da minha frigideira – parte 2

Dia dos namorados, 12 de junho. Fico me perguntando se conseguirei algum dia (nem que seja nos meus 96 anos) ter um relacionamento duradouro com alguém.
Quando eu digo relacionamento duradouro, estou dizendo em anos, não semanas ou meses, como vem acontecendo na última década.
A minha geração, aparentemente, vem padecendo do mal de divórcios e separações repentinas, reflexo da resposta às gerações de nossos pais.
A geração de nossos pais ainda era voltada para a manutenção do casamento a todo custo. Era feio acabar um relacionamento. Mulheres separadas eram mal vistas. Ah tá, não é folhetim da década de 60, 70. Eu cresci na minha adolescência e juventude ouvindo comentários maldosos de quem se separou, de quem sofreu no casamento, da mulher quenga que pediu o divórcio.
A nossa geração? Das pessoas de 35 a 50 anos? Cansou, separa. Magoou, separa. Mudou o mapa astrológico e os signos não batem? Separam.
Nessa crítica, eu me incluo no grupo. Não tenho a paciência que meus pais tiveram. Para o bem e para o mal. E minhas amigas também.
Para quem não pretende ter filhos, daí é que os laços ficam mais sensíveis e frágeis. Sem o elo dos filhos, da culpa de partir uma família ao meio, é apenas o casal entre eles. E não é somente as mulheres, os homens também.
Muito se fala das “relações líquidas”, sem compromisso formal e espiritual, mas para mim o cenário não é tão glamoroso.
Eu gosto de uma companhia, eu gosto de um elo. Mas percebo na maioria dos homens da minha faixa etária (e quando digo faixa etária, eu sou bem generosa: dos 25 aos 50…) ou eles querem casar para ter filhos, ou só ficar no rala e rola.
Apesar de não ser romântica, eu acredito no amor puro e no relacionamento entre 2 almas: acredito que a vontade de 2 pessoas de terem um casamento duradouro e a construção de uma relação para a eternidade é o suficiente para que sejamos mais pacientes, mais resilientes com o parceiro na alegria e na tristeza.
Será?
Infelismente, nos últimos anos, venho observando a ruína de muitos relacionamentos , a grande maioria de casais sem filhos. Casais que tinham a vida perfeita no Instagram, e que conheci pessoalmente e achava que eram inquebráveis.
Motivos? Uma briga forte, a desavença de valores, uma rixa financeira. Foi lindo mas enquanto durou.
Não digo que separar é ruim. Faz parte da vida, e é um privilégio conquistado de nossa geração de separar quando não está mais dando, não é mais feliz. A vida é uma só para estar mal acompanhado.
Mas será que também não pesamos a mão na hora de dizer bye bye, next?
Eu arrisco dizer que somos melhores e mais bem resolvidos que nossos pais. Mas também acho que há um distúrbio aí. Há mais egoísmo em todos nós, homens e mulheres. A generosidade está exposta nas mídias sociais mas desgastada na vida real.
Não sei. Eu errei a mão em relacionamentos anteriores. Meus parceiros também.
Mas eu tenho esperança. Acho que todos nós temos a tampa para nossa panela, e no meu caso, uma frigideira. Por ai existe um bofe que também quer uma vida estável do lado de alguém que não precise ter filhos.
Talvez eu seja uma romântica moderna.