
Boipeba já tem nome de paraíso escondido, relacionado a perrengue para ir. E é um perrengue mesmo. Existem algumas formas de você ir a Boipeba, mas as mais comuns são: avião de pequeníssimo porte saindo de Salvador (caro) e o trajeto mais comum dos turistas:
- Chega em Salvador
- Vai até o Porto – 30 minutos
- Pega um ferry boat até Itaparica – 1 hora (tem de hora em hora)
- Pega um transporte até Valença (tem ônibus , taxi, uber e no nosso caso fechamos o translado completo com a YouTours, muito boa, que nos colocou num micro-ônibus) – 2 horas e meia até Valença
- Em Valença – vá até o porto, e pegue uma lancha rápida até Boipeba (horários pré determinados e variando conforme a estação e o mês). Uma hora de lancha rápida
- Chega no cais de Boipeba. Achou que acabou? Se sua pousada for mais longe do cais (como é o caso das famosas Céu de Boipeba, Mangabeiras, Casa Bobô e as pousadas na praia de Moreré, você precisa pegar um transporte (um mototáxi, ou trator, ou 4×4 até lá)
Enfim. Contabilizou a quantidade de tempo aí? Coloque bem umas 3 horas aí entre esperar o horário do Ferry, e a lancha rápida até Boipeba. Como estamos em plena pandemia, os horários da lancha estão extremamente escassos. Mesmo que chegássemos no cais de Valença às 13:00 só teríamos lancha até Boipeba às 16 hs, que foi a que pegamos.
Conte então um dia inteiro para chegar em Boipeba. Vale a pena? E como. É a terceira vez que vou para lá, e duvido que seja a última.
Desta vez, peguei uma pousada moderna na Vila da Barra , bem perto do cais e do centrinho da Velha Boipeba. Em frente a uma margem de rio tranquila (cenário de banhos de rio ao entardecer), e muito confortável, com café da manhã mara (mas acho que todas as pousadas em Boipeba são assim). Os quartos eram enormes, e o meu, que era o mais standard, tinha 41 m2! A pousada não dispunha de áreas comuns como piscina e lounge, mas com o Rio em frente e o mar a poucos metros, quem precisa?
Chegou finalmente em Boipeba? Coloque seu chinelinha de dedo, vista a saidinha de praia mais chumbrega que você tem, e seja feliz. Só vou enumerar algumas das maravilhas da ilha, porque se fosse relatar de fato todos os meus dias felizes lá, esse post teria 20 páginas:
- Praias imensas a perder de vista, e praticamente desertas, só para você. Distanciamento social 100%. Tudo para fazer quase a pé: Tassimirim, Cueira, Moreré, Boca da Barra. Castelhanos e Bainema mais longe, mas acessível pelo transporte da região, num 4×4 ou numa lancha.
Na minha opinião, dá de 10 a zero em Morro: Morro pode ter aquela cor de mar indescritível, mas aqueles restaurantes e todas as construções tirando a beleza da praia me matam.
Não vai ter música de forró ou pagode no último volume, só barulhinho gostoso das ondas e da onipresente brisa do Nordeste.
- Piscinas naturais – Boipeba tem as praias com aquele fenômeno das marés que é um cenário incrível: de manhã, parece que o mar secou. São quase quilômetros de areia e corais a perder de vista, e à tarde, tudo começa a ser coberto pela água.
De manhã, vira um lugar paradisíaco, com água morna e peixinhos mil. Em Bainema, vimos até a Dory do “Procurando Nemo”. A água é cristalina em todas, mesmo em dias nublados e mesmo em Moreré, onde por vezes tem congestionamento de lanchas de passeio e os duvidosos Bares Flutuantes.
Ah, uma dica: cuidado com essa tal de Maré. Uma quenga ela. Você anda de manhã numa boa para chegar em Cueira, e na volta não tem mais praia para voltar. Na primeira vez que fiquei em Boipeba, fiquei numa pousada incrível, a Dendê Loft, mas tinha que ir andando até o Centrinho da Barra para jantar. Se voltasse depois das 10 da noite, não voltava. Se informe com o pessoal da pousada quais são os horários de maré baixa e alta no período que você estiver lá.
- Surra de frutos do Mar – Eu tenho um fraco por comida baiana, e meu estômago também. Se quisesse impressionar um amigo gringo com as delicias regionais de nosso país, eu certamente recomendaria a comida baiana. Contudo, para mim, é sempre lei: rola um piriri, uma boa dor de barriga com algum exagero meu. Mas em Boipeba, nunca tive um! Dessa vez fiquei 5 dias lá, comi de tudo, e nada de emagrecimento forçado.
Teve lagosta do Guido na praia de Cueira, teve a maravilhosa Lagosta na manteiga no restaurante BoaVista no Cova da Onça, teve camarão com abacaxi, teve peixe grelhado, teve caldo de lambreta (eu não sou muito fâ do molusco famoso de lá, mas o caldo é incrível), teve pastel de siri e de camarão com banana da terra em Castelhanos.
Olha que simpatia – no restaurante BoaVista fui comemorar meu aniversário e comer um dos melhores pratos da vida – a famosa lagosta na manteiga com toque de abacaxi. E as cozinheiras me reconheceram de imediato: “Não é aquela japonesa que esteve aqui o ano passado no mesmo dia?”. Sim, era yo.
- Surra de caipirinhas regionais – Eu sou paulistana da gema. Chata pra cacete. Em São Paulo gosto só de caipiroska (de Absolut e Grey Goose) e tenho dor de cabeça só de sentir o cheiro de cachaça. Lá em Boipeba? Tomei caipirinha todos os dias nas barracas e restaurantes. Em Castelhanos e Cova da Onça, tomei umas 5 (sim, no mesmo dia) de cacau com biribiri, e todas feitas com 51, Ypioca ou Velho Barrreiro. Deliciosas, Fresquíssimas e Zero Enxaqueca! Aproveite, você está em Boipeba! Não tem carro para te atropelar, não tem Blitz de Bafômetro, você está de chinela e não de salto alto, amiga.
- Surra de pôr do sol – em todas as praias, no Rio, no mangue. Aliás, o passeio clichê e obrigatório é o volta a ilha (100 reais o dia inteiro, uma pechincha), e termina com um pôr do sol inesquecível no Rio. A volta passando pelos mangues é delícia, com vento batendo a toda e frescor de final de tarde.
- SIMPLICIDADE . Eita clichezão heim? Tu gosta de uma Gucci e vem me falar de simplicidade? É, fia. Andei de chinela dia e noite inteira. Em Boipeba, não fiz uma única compra a não ser o Corote do Supermercado , que nunca tinha tomado (e desisti no terceiro gole).
Quando você não tem conveniência 24 horas, crepe do francês , Sorvete de Iogurte e os troços Fusion , Gourmet e tal, você acha o supermercado local o máximo! Compra todos os salgadinhos de biju disponíveis, compra batata genérica Croc (a original) e faz banquete a beira do rio.
É ir na mesma barraquinha de tapioca para jantar e ver que é bom mesmo e que vai sentir falta quando voltar a São Paulo.
É pedir suco de cacau, de mangaba, de cajá sem medo de piriri (e não tive).
É dormir 10 horas da noite (e olha que sou uma coruja) sem dó porque não curtiu a night (e lá em Boipeba a night é só na cama mesmo)
E o melhor de tudo e de graça: é ter cachorros e gatos de rua que são só amor para você. Todos são de rua, mas são de todos. Não vi um que latiu para a gente, que só veio atrás de comida, porque todos já são meio rechonchudinhos. Sempre tem um animal amigo que vem sentar junto com a gente para aproveitar o conforto da canga e ganhar um afago de leva. Amor maior que esse, não tem.
A melhor simplicidade de todas: a segurança que só uma ilha isolada pode te dar. Para quem é paulista ou carioca e vive acostumada aos arrastões de praia, Boipeba é fora da curva. Por enquanto, eu deixo as coisas na areia e vou dar um pulo no mar. Todas as pessoas conversam com você e tem dessas de cidade do interior, de puxar papo mesmo. Existe um conforto e uma segurança na Ilha que em São Paulo já não existe mais.
Por isso, eu coloco aqui no blog porque sei que são poucos seguidores. Não quero que muitos descubram este paraíso. Já tem lixo na praia, porque enfim, a humanidade é errada. Que Boipeba seja esse paraíso por muitos anos.