Em novembro não resisti ao convite de minha amiga e voei rumo a Trancoso, na Bahia. Segundo ela, que já tinha estado lá umas 5 vezes, é um lugar mágico, com uma energia boa, e que combina gastronomia, eventinhos, badalação, paisagens lindas e o clima da Bahia.

Como estamos ainda em pandemia, não tinha badalação. Mas as paisagens lindas estariam lá pelo menos.

Saímos de São Paulo numa madrugada chuvosa (acordamos 3 e meia da manhã e nem durmi como criança ansiosa que vai viajar pela primeira vez, de não acordar, de perder o vôo, de não achar Uber a hora da madrugada). Afinal, fazia 8 meses que não pisava num aeroporto.

Pegamos o vôo com destino a Porto Seguro, que é o aeroporto mais perto de Trancoso.  Chegamos às 09, tomamos um café da manhã lá mesmo (aliás, adoro tomar café da manhã em aeroporto mesmo pagando 3x mais, só porque tem o gostinho de viagem começando) e pegamos um  Uber que ia custar 50 reais até Trancoso (o translado do hotel sairia por 200).

Ia. Porque o motorista do Uber disse que não nos levaria até lá porque a Uber não aumentou a tarifa e para ele iria sair mais caro nos levar. Entendemos o motorista. Ponto a menos pra Uber que ainda não alinhou essa discrepância e deixa desavisados como nós na mão.

Então já sabem meninas: Uber não leva até Trancoso, a não ser que seja um motorista novato que não sabe que vai pagar muito mais pelo trajeto ele mesmo coitado.

Paciência. Ele nos deixou na Balsa, que já estava saindo rumo a Arraial d Ajuda e custa 5 reais por pessoa, se estiver como pedestre (aviso que a fila de carro é grande e o valor maior). O percurso é agradável e rápido, e logo que desembarcamos , várias vans foram anunciadas logo na saída da balsa (achamos seguro porque são várias e todas organizadas pelo mesmo pessoal), e pegamos uma para Trancoso, por 13 reais por pessoa, que nos levou até o Quadrado, a famosa pracinha de lá, onde tudo acontece. De lá foram 200 metros até a Pousada onde ficamos.

De dia, se você estiver sozinha ou em dupla, eu recomendo o trajeto. Não é difícil, tem vans e balsas toda hora, e em menos de 2 hs você chega em Trancoso.

Na volta, que foi de noite, optamos pelo translado que não pega a balsa, mas sim um caminho mais longo, e chegamos em quase 2 hs também, e nos custou 180 reais negociados. Mas da porta da pousada até o aeroporto.

Chegamos na pousada, Mar Azul, e achamos um pouco simples demais, mais do que aparentava pelo Booking. Quarto BEM pequeno, meio antiga. Como o passar dos dias eu pelo menos achei que foi um bom custo benefício: bom café da manhã, simples mas com tapioca e ovos mexidos na hora, limpa, roupa de cama e banho brancas, e ótimo chuveiro e cama. E a uma curtíssima caminhada do Quadrado.

a charmosa igrejinha do Quadrado com o mirante ao fundo

Bem, Trancoso em si não tem muito o que explorar. É um pequeno vilarejo, onde tudo gira meio em torno do Quadrado, que é rodeado de casinhas instagramáveis e coloridas. Ao fundo, uma igreja e o Mirante, TOP. Quando chegamos, fomos brindados com um dia de céu azul límpo (e a previsão era chuva para a semana toda) e dá para avistar todas as praias e as famosas falésias de Trancoso.

Do Quadrado, mais uma caminhada de 10 a 15 minutinhos e você está na Praia. Do mirante, parece longe, mas não é tão difícil e longa assim. Lá, a praia é comprida e ampla e por isso, democrática: Se você quer fazer a linha econômica e fez seu lanchinho no café da manhã do hotel, tem árvores com sombras para você estender sua canga. Tem restaurantes com cadeira e até espreguiçadeira (duras, porque Trancoso como todo o Nordeste venta muito e os móveis são parrudos) que não cobram taxa mínima de consumo, desde que você almoce por lá (não vai ser o chupim turista que bebe uma água e fica lá na espreguiçadeira por 4 horas). A gente teve uma experiência boa e uma ruim. Em um, a comida estava digna e em outro, super oleosa.

beach club FlyClub em Trancoso

E por último tem os espaços de hotéis e sea Clubs, como o Espelho D´agua, o UXUA, o Bahia Bonita e o FlyClub, que cobram entre 100 a 200 reais de consumo mínimo por pessoa, mas possuem espreguiçadeiras e SeaBeds dignas. Contudo, a prioridade sempre são os hóspedes.

Em todos, o atendimento é muito simpático, mas como você está na Bahia, tenha paciência. O pedido demora…. e demora.

A gente fez um High Low nos dias: em um ficamos no barzinho que não cobra taxa mínima e em outros fomos nesses lounges. Contudo, eu dou a dica: deixe para gastar de noite, pois a comida do UXUA é incrível e vale cada centavo.

O mar de Trancoso é agitado, dá até para surfar. Mas tem lugares mais tranquilos para banho e a água é limpa. Contudo, é mais bonito visto do mirante. Quando você chega a beira mar, a cor da água fica escura, por conta do Rio próximo. Aliás, a chegada até a praia é um charme, você passa por uma passarela e o mangue embaixo, cheio de caranguejos coloridos (mas fede às vezes).

passarela sob o mangue que leva até a praia em Trancoso

À Tarde , tem coisa para fazer. Tem café charmoso dentro de um centrinho comercial a céu aberto para um expresso digno e docinhos gostosos (mas não almoce lá porque até na Bahia você vai perder a paciência), tem picolé de frutas locais como mangaba e cajá, tem sorveteria que não perde para nenhum Venchi ou Bacio de Latte, tem lojinhas de artesanato, design e moda (nada barato, para se ter uma idéia, a mais acessível é a Track Field que tem preços tabelados).

E à noite, é uma diversão se arrumar e ir para os restaurantes mais bacanas da região. A mulherada vai produzida, maquiada e em seus vestidões. Os homens vão de bermuda e camisa, um charme. O Quadrado fica iluminado apenas pelas lâmpadas dos restaurantes, que apinham mesas e cadeiras ao ar livre, e ambulantes vendendo lembrancinhas, chocolate de Ilhéus e bijuterias.

Fomos ainda em pandemia, então nada de baladas e lugares fechados.

Mas os restaurantes valeram a pena. São excelentes mesmo. O Cacau, Capim Santo (este tem que agendar), UXUA e Jacaré. Não são baratos, mas preços ok para quem vem de São Paulo. Média de gasto de 100 a 250 reais por pessoa. Peixes super frescos, com um toque moderno e excelente harmonização de temperos.

Em Trancoso, achei 5 dias demais, porque não tinha a badalação. Se for em Pandemia, 3 dias está mais do que bom para conhecer as praias e os restaurantes, e passar por todas as lojinhas.

Eu também não iria em Novembro, pois pegamos 2 dias de chuva intensa e mar revolto. Dizem que chove bastante nessa época. Tivemos sorte de pegar 4 dias de sol, mas a Praia do Espelho por exemplo não estava assim um Espelho por conta da chuva. Setembro seria uma boa época, ainda baixa temporada e sol sem chuva.

Onde ficar: eu ficaria perto do Quadrado. Fora dele, Trancoso fica um subúrbio normal, sem charme. As ruas perto do Quadrado são tranquilas, ainda tem lojinhas charmosas, e dá para ir andando sem drama até a praia.

Tem vários hotéis bacanas a beira mar  (como o Espelho D Agua e a Bahia Bonita), mas isso só vale se você quer realmente o sonho de acordar vendo a praia. Para ir até o Quadrado ou aos restaurantes , é um perrengue de noite. Não tem iluminação, e apesar de Trancoso ser considerado bem seguro (eu achei), eu não arriscaria a caminhada sozinha ou em dupla no varão da noite.

A média de preços fica entre 150 a 300 reais a diária com café – em pousadas simples e 800 a 1500 em pousadas de luxo, na baixa temporada. Reveillon então, quintuplique este valor.

Agora um passeio imperdível é ir para Praia do Espelho e Caraíva. Numa próxima vez, eu ficaria 3 noites em Trancoso, 1 na Praia do Espelho e 2 em Caraíva.

Na alta temporada, é mais fácil de achar vans que fazem o passeio até lá, por 30 reais por pessoa. Como estávamos em baixa temporada, tivemos que achar uma agência, e não teve saída para lá (geralmente sai de 90 a 130 reais por pessoa em van compartilhada). Daí optamos por um transfer privativo que nos custou 400 reais  mas fez Praia do Espelho e Caraíva e ficou conosco até 8 horas da noite.

Ir para a Praia do Espelho seria fácil se não fosse a estrada. Como choveu muito, está toda esburacada e considero até perigosa para quem não conhece. Para Caraíva é pior ainda. Um verdadeiro Rally. Um percurso que poderia ser facilmente feito em 30 minutos levou quase 2 horas.

Praia do Espelho

Bem, chegando na praia do Espelho, é realmente um paraíso. Uma praia linda, mar calmo, e várias pousadas a beira da praia. Tem infra também, quiosques servindo comida, bebida e guarda sol. Como fomos em épocas de chuva, a praia não estava tão idílica.

Caraíva é completamente diferente. Para se chegar, você pega um barquinho (5 reais o trecho), que atravessa o Rio do mesmo nome e te deixa no Vilarejo. A praia nem é tão bela assim, uma espuma densa e escura, mas de detritos naturais e do encontro com o Rio, que é muito mágico.

Vários barzinhos a beira do Rio, espreguiçadeiras a beira do mar, pousadinhas, restaurantes, cafés, lojinhas (com coisas bacanas). Achei um ar de turma da maconha um pouco demais para meu gosto, eu prefiro Boipeba particularmente, mas para quem curte, tá aí. Certamente no futuro vou reservar alguns dias para Caraíva, pois a vibe do lugar é realmente incrível.

Caraíva – encontro do Rio Caraíva com o mar

Mas a beleza natural do Rio com o Mar  é realmente algo especial. Pôr do Sol mara, pessoal das lojinhas super simpáticas, cachorros felizes e brisa constante. A Bahia continua sendo uma festa, com suas praias belíssimas, suas comidas deliciosas (mas tenha cautela com o dendê) e acima de tudo, seu povo maravilhoso e hospitaleiro. Não tem uma vez que eu vou pra Bahia e me decepciono com as pessoas de lá. Passado a irritação tipicamente paulistana  de tudo é para ontem, não há outro povo mais mara que o baiano: acolhedores (de verdade), sempre com sorriso no rosto e prontos para um bate papo descompromissado sobre os passeios, o tempo e o mar. E a comida.