
Espero de verdade que o dia das mulheres contribua para nós, mulheres, a fazermos o melhor para nossa geração e para o futuro.
Eu espero que todas as mulheres e meninas do mundo tenham a chance de ser o que eu sou.
E o que eu sou? Uma mulher que pode escolher ser o que ela quiser.
Apenas isso.
Ela não precisa ser a mais linda, a mais inteligente, a mais imponente, a mais bem sucedida, a que tem família perfeita e filhos maravilhosos, a que viajou o mundo todo, a que luta contra as injustiças do mundo.
Mas se ela quiser ser tudo isso e mais um pouco, que ela seja.
E se ela não for, que está tudo bem, se ela está bem consigo mesma e de paz com o mundo.
Hoje, dos meus 44 anos, eu finalmente percebi o quanto sou sortuda.
Não fui sortuda em tudo: não tive a beleza nipônica e magreza de minha mãe. Nunca fui a menina que conquistava os garotos. Não tive a riqueza de família de algumas colegas, e ainda não conquistei o sucesso profissional e financeiro que almejo alcançar. Também não encontrei ainda o meu príncipe para chamar de meu.
Mas tive a tremenda sorte de ter uma família com estabilidade financeira e emocional, de ter pais apoiadores e educadores, e de ter saúde física e mental.
E principalmente de nascer em uma família de classe média num país democrático onde posso escolher se serei mãe ou não, se posso ficar solteira a vida inteira, se posso trabalhar e ganhar meu dinheiro da forma como eu quero.
Sei que muitas não tem esse “luxo”. Trabalho numa ONG que visa capacitar e inspirar garotas da rede pública de ensino para serem o que elas quiserem ser na vida. E sei que a realidade delas é dura, e talvez nem todas vão conseguir ter essa liberdade. Dai minha paixão pela causa, e um trabalho que faço não pelo glamour, mas porque realmente acredito!
E para isso, eu peço a união das mulheres.
Sim, temos que defender nossa classe. Temos que se possível, contratar mais mulheres e confiar mais nelas.
E para dizer que não sou a feminista militante cega, ouço dizer que somos nossas maiores inimigas. Nosso maior desafio é nos aceitarmos mais.
Quando eu vejo conhecidas minhas dizendo que odeia trabalhar com mulheres, que mulher chefe é terrível, eu quero morrer.
Quando eu vejo conhecidas minhas me julgando porque não tenho filhos ou sou casada, eu quero morrer de desgosto.
Somos sim uma classe que foi inferiorizada, que ainda ganha menos apesar da competência equivalente e não podemos nos calar ou aceitar.
No dia da mulher, e não só neste dia, mas em todos os 365 dias do ano, eu desejo muita luz e muita união para todas nós. Sem julgamentos. E muita fraternidade para sermos o que quisermos ser.