
Sei que é algo vergonhoso, mas aqui é o blog da verdade e vou me abrir com vocês: eu aprendi a cozinhar e a usar o microondas com 30 anos de idade. Tá, foi com 31. 32 anos de idade.
Até os meus 30 e poucos anos, morei com meus pais em São Paulo, e minha mãe absolutamente me proibia de entrar na cozinha de casa, território único dela. Nem tínhamos micro-ondas em nossa antiga casa, já que ela costumava fazer comida todo dia. Sem essa de soborô. Imagino para minha mãe o perrengue que deve ter sido cuidar de uma grandefamília.
Para fazer a obra e me mudar, fui uma expert: achei o apto, negociei e fiz uma boa reforma em meses. Já me alimentar…
Lembro que cheguei lá dia 24 de dezembro. Sozinha no apê novinho, equipado completamente com uma boa cozinha. Bem, morrer de fome não ia. Pão de forma, presunto e queijo não são exatamente exemplo de boa dieta, mas sustenta. Sabia já abrir lata de atum, então eu alternava o misto frio com sanduba natural, olha só. Miojo, sabia fazer também, e ainda incrementava com um ovo.
Mas não podia viver disso para sempre.
Daí tive uma brilhante idéia: fiz um open house. Chamei os amigos. Expus que precisava de uma ajuda matadora: me ensinar a mexer em todos os equipamentos de cozinha. Aprendi a usar o microondas! Aprendi a usar o fogão e a coifa! Esquentar a água.
Anotei tudo num caderninho e sempre que tinha dúvidas, recorria aos amigos experientes que riam da minha tosquice de prendas domésticas.
Claro que não vou explicar a saga que foi minha vida para mudar do miojo para o risoto, mas vamos dizer que hoje, eu me viro bem na cozinha, sem ter que recorrer a delivery e pizza. E digo mais: meu peso não mudou, meus exames médicos estão ótimos, com triglicérides e colesterol controlados. Isso significa: se eu, consegui sobreviver e hoje até cozinho um pouquinho, você também consegue, amigos.
Só dou um conselho para quem vai se mudar agora sozinha e não sabe como vai sobreviver: não conte com amigas que já sabem de tudo. Elas vão zoar de você e te desencorajar de tentar, além de te deixar parecendo uma bosta de pessoa só porque não sabe separar a gema do ovo e fazer bolo que não é de caixinha.
Conte com pessoas que aceitam sua tosquice, e vão te ensinar os princípios básicos da culinária da guerrilha: sim, ligar o fogão. Sim, ligar o microondas. Sim, fazer um macarrão apenas decente, mas não com 50 ingredientes. No começo eu assistia todos os programas de culinária que não me levaram a nada: Jamie Oliver, Nigella, Palmirinha. Eles já tem suas porções cortadinhas e separadas, tudo num mis on plat impecável . A cozinha se limpa por um passe de mágica. O fogão já tá ligado, a carne já foi descongelada. Isso não é para a gente. O melhor programa de culinária, para falar a mais pura verdade, foi o Larica Total, que passou no Canal Brasil e agora disponível no YouTube.
Porque o Paulo, o grande apresentador do programa, se virava com o que tinha. Não tinha assistente para deixar os legumes cortadinhos, as tábuas limpinhas, a água já preparada. Misturava tudo, a faca era a mesma para todos os alimentos, e tá tudo certo. E hoje faço macarrão, peixe, carne, arroz, bolo (ainda de caixinha porque né, não sou obrigada), brigadeiro dos bons, risoto, casquinha de siri. Mas faço um miojo de vez em quando porque gosto.
Por isso colegas, não tenham medo de ir morar sozinhas. Vocês vão sobreviver e viver muito bem. Eu sou a prova viva disso. Não sabia fritar um ovo e agora faço até ovo pochê e omelete. Por cima do miojo.
E em tempos de pandemia, olha só! Fiz meu primeiro feijão sem panela de pressão ! Um orgulho. A única coisa é que tive que comer feijão a semana inteira, porque uma das dores de morar sozinha é fazer a quantidade certa para você. E meu primeiro bolo que não é de caixinha. Meus porteiros todos adoraram.