
Este ano, movida por um ímpeto de realização de qualquer coisa, afinal já estou praticamente na metade dos quarenta, comprei um apartamento para investimento.
Montei em um mês, e como fica numa região bacana e fora da que eu moro, resolvi fazer um Staycation – termo bacana para pernoitar em um lugar perto de sua cidade mas não na sua casa exatamente.
Foi muito legal! E me lembrou de meus primeiros meses quando me mudei e finalmente fui morar sozinha, após 33 anos vivendo com meus pais.
Pessoal, e principalmente para a mulherada que está teimando em dar o grande passo (não , não é casar. Nem ter filhos), é morar sozinha! Aqui dedico para vocês e espero que leiam com carinho.
A primeira noite é esquisita na nova moradia? Sem dúvida.
Ainda não tem cara de sua casa.
Parece que você foi acampar ou está num flat a trabalho.
O quarto cheira a tinta, ainda tem poeira de obra (é impossível tirar todos os entulhinhos de obra num único dia de limpeza). Os porteiros ainda não lhe conhecem bem. Você não sabe quem são seus vizinhos (para o bem e para o mal – em outro conto irei explorar os tais vizinhos), e você vai com o que tem.
Passa numa loja para comprar itens básicos: prato, talher, copos, tolhas. Você faz mentalmente o mapa do que precisa, começando por acordar. Toalhas, preciso de toalhas. Chinelinho de banho. Touca.
Dai você vai sofisticando: George Foreman Grill (foi meu primeiro eletro e usei uma vez só), sanduicheira, batedeira. E esquece o básico.
Você toma o primeiro banho no seu apê. É tão diferente a pressão do seu antigo!
Ainda não tem coragem de pisar no chão. Ainda tem resquício de quem morou ali ou do pessoal de obra, que certamente e merecidamente, usou as dependências durante a obra.
Daí você vê que falta um espelho de banheiro. Alguns porta trecos . A toalhinha de chão.
Você toma água geladinha, afinal a geladeira é provavelmente o primeiro item que você compra como indispensável, junto com o micro-ondas. Afinal, cerveja gelada e agua você está a salvo.
Você dorme cedo, porque ainda não instalou seu wi-fi e portando nada de YouTube ou TV a Cabo.
Você não dorme bem, em parte porque está em cama desconhecida e pelo excitamento da primeira noite.
Eu acho que dormi – pudera – trouxe uma champa e tomei pela metade – afinal uma conquista é sempre uma conquista e tem que ser celebrada, nem que o apê tenha apenas 25 m2.
Daí você acorda cegada pela claridade (afinal você provavelmente esqueceu de colocar as cortinas), e vai para a janela ver a vista.
E daí se dá conta que este ninho é seu. Conquistado. Comprado. Parcelado em mil vezes, mas seu.
A vista lhe pertence. Pelo menos até o próximo prédio ser erguido em frente. (Eu tive por 3 anos uma vista maravilhosa da Marginal Pinheiros com direito a vista do relógio do antigo prédio Itau Unibanco) até as maledetas torres da Camargo Correa tirarem minha vista mara.
Você trouxe um Nescau de caixinha e um lanche para café da manhã, mas decidiu que vai procurar um lugar para tomar um café da manhã gostoso, afinal você merece.
Você procura no Google Maps lugares , ou sai a esmo para conhecer a vizinhança. Casinhas de vila, pessoas diferentes, ruas que nunca passou.
Pára no supermercado perto, faz comprinhas, enche a geladeira.
De repente, um mocinho cruza seu caminho. Lhe dá esperanças. Quem sabe quem irei trazer para o meu apartamento? Um amor? Novas amizades? Quais histórias me esperam no meu novo espaço?
Daí vem as próximas noites. Que não terão o sabor de novidade da primeira.
E daqui a um mês, provavelmente você vai se sentir como sempre morou ali. O ser humano tem a incrível capacidade de sobrevivência e adaptação.
Eu morei 30 anos numa casa com meus pais, e apesar de ter memórias muito vivas de como ela era, em 1 ano ela já virou um passado distante na minha vida.
Daí digo com todas as forças: não tenham medo de mudar, de se mudar mulheres. Existe um mundão esperando lá fora por nós. E a vida é uma só.
Vivemos.