
Admito.
O início da pandemia foi foda para mim.
Até março de 2020 eu tava remando de boa no meu universo solteira.
Tinha feito uma viagem mara no réveillon com amigas e família, tava saindo todo final de semana com amigos do bem, saía durante a semana também para rolês lights e não menos animadores. Eu tinha uns 3 crushes na manga, com potencial de virar algo maior. Tinha começado um curso de marketing digital presencial que adorava, e a turma, já animada, tornou o happy hour pós curso de sexta feira um programa tradicional e divertidíssimo.
Tinha me aventurado nos bloquinhos de rua de Carnaval e pela primeira vez gostei. Fui comer o famoso sanduíche de pernil do Estadão. Tava começando a ensaiar meus primeiros rolês no Centro para aproveitar a boa gastronomia (Esther Rooftop, Casa do Porco e afins). Minha vida não estava só completa, ela transbordava.
E aí veio o Coronavírus.
Numa semana, meu único rolê disponível passou a ser idas semanais ao supermercado para comprar mantimentos. Até então, no início da pandemia, nem sabíamos se a ida ao supermercado era segura, visto o pânico sobre uma doença nova e devastadora.
A Internet passou a ser meu canal com os outros seres. Redes Sociais e Whatsapp. Organizei até uma rodada de chamadas pelo Zoom com minha família, pensando mais nos meus pais, e foi uma vitória os primeiros encontros, mas um desgaste os últimos. Quem já não pegou ranço total de chamadas de vídeo?
No início os grupos de whatsapp bombavam.Com o passar do tempo, muitas briguinhas, muitos desentendimentos até porque somos melhores falando do que escrevendo e interpretando a leitura, e até essas conversas vão se rareando.
E a vida amorosa? Zero. Fora os coronaboys que vieram do inferno para tentar te fazer burlar a quarentena (expliquei sobre os Coronaboys em outro conto neste blog), nenhum boy à vista. Diz a lenda que voltamos a ser virgens depois de um ano sem, então…. somos as coronavirgens.
O duro é ter uma amiga casada ou compromissada sem noção que ainda vem e te diz: “não sei como você, sozinha, sem um boy, ainda não enlouqueceu…”
Vou te dizer. Não chegou a me dar depressão,mas fiquei jururu com a repentina e duradoura falta de vida social. De ir para um barzinho para ver gente nova, rostos conhecidos e desconhecidos . De ter uma plateia para rir dos meus causos, e das minhas trapalhadas. De ir no cinema e escutar o riso da plateia, de viajar num avião que nem lata de sardinha.
Daí teve os relaxamentos ocasionais do isolamento, num vai e volta que só piorava nossa ansiedade disso tudo acabar.
Agora, com a promessa de uma população imunizada (que seja ainda em 2021), já enxergamos um horizonte social lá na frente. Ainda não é certo com todas essas novas cepas de vírus, e com a incerteza da população imunizada, mas já é algo.
E vejo que nestes quase 2 anos de finais de semana sozinha, relevada a encontrar com muito receio um pequeno grupo social (no meu caso, meus pais), eu vejo que sobrevivi, e olha! Não foi tão ruim assim???
Explico: li vários artigos de como os solteiros podem sair fortalecidos da pandemia.
Na solidão forçada do confinamento, eu aprendi de novo a me divertir sozinha. Sendo cozinhando, tentando tocar violão , desenhando cartoons (coisa que não fazia desde a adolescência) ou escrevendo no blog, eu me vi de novo com 7 anos de idade exercendo minha verve criativa e para passar o tempo.
Na solidão, eu senti falta enorme dos verdadeiros amigos, e me conectei com eles. Não precisa ser todo dia no whatsapp, mas uns áudios longos de 1 hora para saber da vida como estão, e que eles saibam como estou. Nas poucas saídas, essas foram uma bênção, e um almoço, um café muito mais sorvido do que os rolês que fazíamos toda hora.
Na solidão eu me encontrei, e me fiz feliz . E sobreviverei se tivermos que ficar mais tempo confinados.
Eu fiz dos encontros com meus pais um programa gostoso, leve. De ir ao supermercado e procurar promoção de sorvetes milionários, de jogar tranca todo domingo, de ir para uns hotéis fazendas no fim do mundo e aoroveitar os últimos anos de infância e adolescência de meus sobrinhos. De ver que meu pai é um péssimo pescador, mas um excelente contador de histórias (e mentiroso). De ver que minha mãe poderia ser a nova blogueira fashion da terceira idade.
Muitos dizem que esses 2 anos da pandemia passaram num instante, mas esses momentos passaram como anos para mim. Um final de semana com a família que durou uma eternidade. Um dia na praia com amiga que durou um mês.
É engraçado que quando temos menos, sabemos de cada detalhe dos momentos mais especiais, e apreciamos cada minuto, e damos graças a Deus que estamos vivos, e com saúde ainda. Gratidão, Gratidão, Gratidão imensa.
Não sei quando a pandemia vai acabar, se vai ser em dezembro de 2021 ou julho de 2022. Tanto importa. Vou amar reencontrar sem medo meus amigos mais queridos com mais constância, e viajar sem parar. Mas não preciso fazer tudo correndo. Eu não saí do Brasil nestes 2 anos e não senti muita falta, descobri outros lugares maravilhosos em troca. Passei a fazer o tal Staycation, que é dormir em outro bairro em sua cidade, e descobrir a pé novos quarteirões, novos cafés e lojas (falarei disso em um futuro post, porque merece).
Também não vou sair loucamente tentando encontrar o amor da minha vida no caso de uma nova pandemia. Fiquem tranquilos. O pior já passou e estamos bem conosco mesmos.