O telefone tocou em uma manhã de agosto de 2013. Era minha amiga, minha super amiga, que foi minha fiel companheira de muitas viagens pelo Brasil e pelo mundo afora, parceira certa de réveillons, feriados, finais de semana.

Ela estava grávida. Exultante.

Há exatamente 1 ano atrás, depois de muitas passagens por boys infrutíferos e um período de seca, ela encontrou o THE ONE. Numa festa, por amigos em comum. Começou a encontra-lo, 3 vezes por semana, depois mais. A primeira viagem veio em menos de 3 meses. Depois muitas outras. Foram morar juntos depois de 6 meses, e em 10 meses de namoro, casaram-se discretamente, sem alarde. E agora, o filho.

Ela queria tanto um filho. Não falava abertamente de ser mãe, mas sempre soube que ela queria ter uma família. Há um ano atrás, ela estava sozinha, com poucas opções de pretendentes à espreita, e prestes a completar 37  anos.

O mundo dá voltas.

Agora ela estava reluzente, esperando o filho de um cara fantástico, boa gente, super apaixonado e fiel por ela.

E me deu uma invejinha. Não grande, mas uma invejinha.

Fui pesquisar e tentar entender o motivo da tal invejinha. Po, não é bom sentir inveja de amiga. Ainda mais de amiga de mais de 18 anos, daquela companheirona.

Uma parte é dor de cotovelo mesmo: perdi uma companheira de viagens, a certeza absoluta de não passar réveillons sozinha, em descoberta de bares e restaurantes novos. Claro que a amizade continua, mas os encontros escasseam. Ela ainda ia morar fora, porque o boy era gringo.

A outra parte era mais cabeluda: seria eu a fracassada? A que não atingiu seus objetivos de vida? A que não encontrou seu boy apaixonado, que não casou, não morou com ninguém, não vai ter filhos?  Daí eu vi que não era inveja por ela, mas sim o despertar de uma auto reflexão da minha vida.

Porque as inseguranças surgem. A gente se acha linda, maravilhosa e rainha da cocada, e de repente acontecem fatos ou melhora na vida de outras pessoas que você começa a se reavaliar. Para o bem e para o mal.

Neste caso, o melhor exercício foi tentar me imaginar exatamente na história dela. E gastei um final de semana sozinha imersa num quarto de praia barato, para conseguir fazer isso.

Imaginei a minha história.

Se encontrasse um boy. Se ele estivesse disposto a ficar comigo, a morar juntos depois de 6 meses, e se um filho estivesse a caminho.

Imaginei até a cara do boy, o homem dos meus sonhos, cabelos pretos  e olhos castanhos ou azuis, porque não, alto (porque de nanica já chega eu), inteligente e espituoso. Apaixonado por mim. Preocupado por mim.

E daí a invejinha caiu por terra: eu temi que isso realmente acontecesse comigo. Porque realmente vi que não estou preparada para assumir um relacionamento sério.

Que não estou preparada para deixar uma pessoa entrar em minha vida, pois estou super envolvida com meus projetos de novos trabalhos e meu foco hoje é em mim e meu crescimento. Quero muito ganhar meu próprio dinheiro, novamente, sem empresa de família.

Que não conseguiria bancar uma rotina de dormir com a mesma pessoa, na mesma cama, programando todos os finais de semana juntos, dividindo despesas.

Até coisas pequenas, como ter que me desfazer de roupas, bichinhos de infância, sapatos, para dar espaço para o futuro esposo.

Que eu estava apta sim, a ter bons momentos com um boy legal, mas para viagens e postagens no meu perfil social. Alguns finais de semana, não todos.

E que principalmente, um filho, estava e ainda está fora de cogitação em minha vida.

E que poderia ser o japa mais perfeitinho, mais bochechudo. Não. Naum. Não me senti atraída por essa vida, sorry.

Com isso, quero dizer a vocês, minhas amigas. Não espelhem sua vida na das outras pessoas. Tente enxerga-las com compaixão e admiração, e tenham distância necessária para enxergar o seu espelho: o que você quer para você mesma?

A grama da nossa amiga por vezes parece mais viçosa e verde, cheia de margaridas. Ela chama mais atenção, as pessoas a elogiam mais agora.  Mas é de margaridas que você quer mesmo, ou apenas a grama curtinha e fácil de manter, e poder assim viajar o mundo e planejar finais de semana na última hora de sexta-feira?

A felicidade dos outros não é necessariamente a sua.

Eu tenho certeza que minha amiga nunca esteve tão feliz como agora, prestes a ganhar seu primeiro e talvez único filho biológico.

Mas para minha realidade, para mim, não é.

Se fosse? Mudaria minha conduta, meu foco, meu jeito de relacionar. Mas tive a certeza que não é. E sigo feliz. A invejinha se foi. O meu quintal está cuidado e vou mantê-lo assim.